Por que os resultados da Nvidia vão pautar os negócios

Mercados com Rafael Bevilacqua

Os mercados internacionais abrem com atenção centrada nos resultados da Nvidia no terceiro trimestre de 2025. Os investidores estão apreensivos com o desempenho da empresa, líder na produção de processadores para serviços de Inteligência Artificial (IA). Os resultados são vistos como um termômetro para o desempenho futuro do setor. A mediana das expectativas é de um faturamento de 54,8 bilhões de dólares no 3T25. Um número abaixo disso pode indicar uma desaceleração na demanda pelos produtos da empresa.

Outro foco central será a expectativa (“guidance”) para os próximos trimestres. Os investidores esperam que a empresa divulgue perspectivas claras sobre a consistência da demanda por infraestrutura de IA, especialmente em data centers. Para muitos investidores, esse relatório será um teste de resistência da narrativa de superciclo de IA. Alguns temem que os preços das ações já reflitam demais otimismo.

As ações da Nvidia se tornaram centrais para o mercado porque a empresa concentra a maior parte da oferta global de chips usados em sistemas de inteligência artificial. Esses chips são hoje o principal insumo da corrida tecnológica entre big techs, empresas de nuvem e startups. Uma aceleração na receita e nas entregas indica que o ciclo de investimentos em IA permanece firme. Se o ritmo diminui, a interpretação dos investidores é que a demanda pode estar entrando em fase de moderação.

Investidores querem saber se os resultados de empresas ligadas à IA serão sustentáveis porque o ciclo atual depende de investimentos pesados em infraestrutura. Esse processo exige altos níveis de capital, margens consistentes e escala global. Se a Nvidia mostrar fôlego, espera-se que os resultados sigam crescendo para companhias da cadeia — fabricantes de servidores, operadoras de data centers e provedores de serviços de armazenamento em nuvem.

A importância vai além do setor de tecnologia. Muitos fundos globais aumentaram a exposição a ações de IA como principal motor de retorno em 2024 e 2025. Se a confiança nesse ciclo cair, os investidores podem reduzir risco em vários segmentos. Isso afeta empresas industriais, companhias de consumo e até bancos, porque a mudança na percepção sobre IA pode alterar o sentimento geral de mercado.

E Eu Com Isso?

Um desempenho fraco da Nvidia pode induzir realocação para renda fixa e levar a vendas generalizadas em ações de setores que não têm relação direta com tecnologia, mas que dependem de liquidez e apetite ao risco. Se a Nvidia entregar bons resultados e divulgar expectativas claras para os próximos trimestres, o mercado de empresas de IA pode ganhar novo fôlego. Perspectivas negativas podem disparar uma correção dos preços das ações ligadas à IA, elevando a volatilidade desse setor e do mercado como um todo.

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Marcopolo (POMO4) anuncia 11 por cento de proventos após resultados do 3T25


A Marcopolo (POMO4) encerrou a divulgação de seus números referentes ao terceiro trimestre de 2025 anunciando a distribuição de 78 centavos por ação em dividendos e juros sobre capital próprio. O valor representa cerca de 11 por cento em proventos apenas neste pagamento, chamando atenção pelo montante e pelo momento escolhido para a comunicação ao mercado. Embora o anúncio tenha sido interpretado como positivo por parte dos investidores, o movimento ocorre em um cenário de volatilidade recente nos preços das ações e de discussões sobre mudanças na tributação de dividendos no Brasil.

Na semana anterior ao anúncio, a companhia havia publicado seus resultados financeiros e operacionais. No 3T25, a Marcopolo registrou receita líquida de 2,5 bilhões de reais. O desempenho é considerado neutro em comparação aos trimestres recentes, mas indica continuidade na capacidade da empresa de manter níveis consistentes de rentabilidade.

Apesar do cenário doméstico mais fraco, a companhia conseguiu preservar margens devido à combinação entre controle de custos e presença internacional.

O trimestre foi estruturalmente marcado pela diferença entre o comportamento dos mercados interno e externo. No Brasil, a demanda por ônibus urbanos e rodoviários apresentou enfraquecimento, refletindo um ambiente de negócios mais cauteloso, com impactos diretos nos volumes produzidos e vendidos. Fatores como ritmo mais lento de renovações de frotas e condições de financiamento menos favoráveis influenciaram o setor de mobilidade, e a Marcopolo não ficou imune a esse movimento.

Em contrapartida, as operações internacionais tiveram desempenho mais robusto. A diversificação geográfica, característica conhecida do modelo de negócios da companhia, voltou a desempenhar papel central no equilíbrio dos resultados consolidados. O crescimento em mercados externos compensou parte relevante da retração doméstica, contribuindo não apenas para o volume total, mas também para a diluição de custos fixos e para a sustentação da receita consolidada.

O lucro líquido do trimestre atingiu 330 milhões de reais. Embora seja considerado sólido, o resultado representa uma leve queda em relação ao mesmo período de 2024. A diferença é atribuída principalmente a custos pontuais observados ao longo do trimestre, que exerceram pressão sobre as margens. Mesmo assim, a lucratividade permaneceu em patamares adequados para um trimestre marcado por contrastes entre mercados.


E Eu Com Isso?

A companhia também destacou a manutenção de uma estrutura de capital considerada saudável, o que permitiu a realização da distribuição de proventos. Ainda que empresas com perfis semelhantes adotem práticas diversas de remuneração, o anúncio pode ser considerado como uma eventual antecipação de pagamentos antes de possíveis mudanças tributárias que seguem em discussão no Congresso Nacional. A empresa, porém, não relacionou oficialmente o anúncio a essa possibilidade.

A divulgação do pagamento foi feita na noite anterior ao pregão, e as ações POMO4 registraram alta de aproximadamente 3 por cento na sessão seguinte. O movimento refletiu a reação inicial dos investidores ao comunicado, embora a trajetória das ações ao longo das semanas seguintes dependa de fatores como expectativas setoriais, evolução da demanda interna e externa e a continuidade da política de distribuição.


Nova parceria entre Americanas (AMER4) e Magalu (MGLU3) reforça disputa no e-commerce

A Americanas (AMER3) e o Magazine Luiza (MGLU3) anunciaram uma parceria estratégica que marca mais um capítulo relevante no e-commerce brasileiro, envolvendo a integração comercial entre as duas plataformas. O movimento começa com a inclusão de produtos da Americanas no marketplace do Magalu, utilizando inicialmente 50 lojas físicas distribuídas em 15 capitais como hubs de distribuição. Nas próximas semanas, a operação será espelhada, permitindo que o estoque próprio do Magalu seja disponibilizado na plataforma da Americanas, ampliando o sortimento para ambas as bases de clientes. A iniciativa busca capturar sinergias claras entre os portfólios das duas empresas, melhorar capilaridade logística e fortalecer a presença omnichannel em um momento em que conveniência e velocidade de entrega são diferenciais competitivos cada vez mais relevantes.

A complementaridade entre as categorias oferecidas por ambas as varejistas, destacada no comunicado oficial, ajuda a explicar a lógica da operação. A Americanas, em processo de recuperação e mais focada em categorias de giro rápido — bomboniere, alimentos, higiene pessoal, limpeza e utilidades domésticas — passa a se beneficiar da estrutura digital e logística mais robusta do Magalu, que há anos investe em tecnologia, distribuição e integração entre canais. O Magalu, por sua vez, reforça sua oferta em produtos de consumo recorrente enquanto segue forte em suas categorias tradicionais, como linha branca, áudio e vídeo, telefonia, móveis e portáteis. Para o consumidor final, a parceria promete maior amplitude de opções, prazos mais competitivos e acesso facilitado a diferentes preços e categorias em um mesmo ambiente digital.

O projeto nasce com um piloto relativamente limitado, mas com expectativa de rápida expansão até dezembro, quando todas as lojas físicas da Americanas deverão estar integradas para servir como pontos de entrega. Essa estratégia de utilizar lojas físicas como mini-hubs logísticos reforça o modelo omnichannel das duas companhias, reduzindo a distância até o cliente, encurtando prazos de entrega e aumentando a eficiência do last mile. No caso da Americanas, a parceria traz uma alternativa importante para acelerar vendas e melhorar a recuperação operacional em um momento delicado, utilizando sua presença física extensa para gerar tráfego digital adicional. Para o Magalu, a entrada de novos sellers e de sortimento complementar tende a aumentar conversão, recorrência e retenção de usuários na plataforma.

O contexto da parceria ganha ainda mais relevância ao observarmos o cenário competitivo atual do e-commerce brasileiro, que passa por uma intensificação inédita de concorrência. O timing revela isso de forma clara: em outubro, Casas Bahia (BHIA3) e Mercado Livre (MELI34) também anunciaram uma aliança comercial para a Black Friday, buscando alavancar tráfego, logística e conversão durante o período mais quente do ano para o setor. Além disso, players globais como Amazon e Shopee continuam ampliando investimento no país, pressionando margens e exigindo cada vez mais eficiência operacional, logística avançada, preços agressivos e robustez tecnológica. Nesse ambiente, movimentos de cooperação entre empresas nacionais se tornam respostas quase naturais para enfrentar a força crescente de plataformas internacionais e as rápidas mudanças de comportamento do consumidor.

 
E Eu Com Isso?
 
Do ponto de vista estratégico, vemos a parceria entre Americanas e Magazine Luiza como um movimento que pode gerar ganhos operacionais relevantes, especialmente para a Americanas, que busca recuperar competitividade e aumentar capilaridade digital após um período de forte retração. No entanto, mantemos uma leitura cautelosa para o setor: a competição continua extremamente acirrada, com forte pressão sobre margens, aumentos de custo logístico e uma disputa crescente por fatias de mercado entre gigantes já consolidados. Ainda que o acordo amplie sortimento e melhore conveniência, seu impacto financeiro inicial pode ser limitado, dado o cenário macroeconômico mais desafiador e a necessidade de execução impecável para transformar sinergias em rentabilidade.

Por fim, avaliamos que o quarto trimestre tende a ser positivo em termos de volume — reforçado pela Black Friday e pelas vendas de Natal — mas isso não elimina a preocupação estrutural com a lucratividade no e-commerce. A pressão competitiva vinda de Mercado Livre, Amazon e Shopee segue aumentando, dificultando repasses de preço e comprimindo margens das varejistas tradicionais. A parceria entre Americanas e Magalu é um passo estratégico correto, bem alinhado às necessidades do setor e às demandas de curto prazo, mas ainda insuficiente para reverter, sozinha, o quadro de elevada competição, custos crescentes e dinâmica de mercado desafiadora. Assim, seguimos com visão neutra para o setor, reconhecendo iniciativas positivas, mas atentos às limitações estruturais que seguem moldando o e-commerce brasileiro.



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