Para fugir do tradicional, vamos começar este artigo explorando alguns palavrões, como accountability. Mas digo palavrões não no sentido chulo da linguagem, mas sim que não tem sentido – e estão em outra língua.
Como exemplos, posso citar Pochemuchka (da língua russa), Culaccino (do italiano) e Waldeinsamkeit (do alemão). Todos estes termos têm algo em comum. São expressões que não possuem tradução literal e, portanto, não têm sentido para outras culturas.
Por exemplo, quando um alemão usa o termo Waldeinsamkeit, ele quer passar um sentimento de solidão ao estar envolto em árvores e em contato com a natureza. Bastante específico, não é?
Mas o que significa accountability?
O termo inglês accountability entraria nessa lista há 20 anos. Hoje, ele comumente é traduzido para o português como prestação de contas, apesar de também significar – em certos contextos – fiscalização, responsabilização ou controle.
A falta de conhecimento do brasileiro sobre a palavra faz sentido se pensarmos na imaturidade da nossa democracia. Regimes pouco desenvolvidos não costumam demonstrar preocupação com a accountability. Democracias mais tradicionais, por outro lado, já incorporaram o fortalecimento e o aperfeiçoamento das práticas administrativas como feijão com arroz.
A significação tardia do termo denuncia que até mesmo acadêmicos da administração, administração pública e ciência política não viam importância política e institucional na prestação de contas. Relatos apontam que somente em meados de 2001 o termo surgiu nas discussões sobre transparência e governo.
Claro que, atualmente, já existe uma disseminação bastante grande do termo, principalmente no setor público, mas ainda há muito o que melhorar. O termo inglês deveria ser tão conhecido quanto shampoo ou skate.
Acostume-se, cidadão
Assim como um investidor checa se uma empresa é saudável, rentável e confiável antes de comprar suas ações, o cidadão deveria ter o costume de checar se os governantes e tomadores de decisão estão seguindo suas obrigações de prestação de contas ao assumirem uma responsabilidade pública.
É só uma questão de tempo para um país com cidadãos que prezem pela vida democrática consolidar instituições fortes e, consequentemente, promover a riqueza, as oportunidades e o bem estar de todos.
A boa notícia é que está cada vez mais fácil exercer sua cidadania para além do voto no Brasil. Novos meios de organização e fiscalização, como os portais da transparência e diversos aplicativos de acompanhamento das atividades políticas, possibilitam a obtenção de melhores resultados no governo e na sociedade civil. Sabemos que não há mais espaço na percepção política do brasileiro para o patrimonialismo e outras práticas corruptas. A accountability é um dos melhores remédios para tais males.
Esperamos que nos próximos anos a accountability faça tanto sentido quanto o futebol, a caipirinha e a feijoada para os brasileiros.
Bons investimentos!