O mercado vive uma certa trégua em relação à volatilidade mais acentuada de algumas semanas atrás. Discussões importantes foram adiadas para depois das eleições. Quem sabe até lá se possa definir saídas, como para o financiamento do Renda Cidadã, com menos interesses em jogo ou receio de desagradar o eleitorado.
Além disso, os discursos de Paulo Guedes, Rodrigo Maia, Roberto Campos Neto e até de Bolsonaro, em defesa do teto de gastos, ajudaram a estabelecer uma certa confiança no que virá pela frente, em termos de ajuste das finanças. A PEC emergencial voltou a ter relevância na pauta e é o que poderá ajudar a segurar o teto de gastos públicos com ou sem um novo programa social.
Paralelamente, ainda houve ajustes nas ofertas de títulos públicos, adequando prazos e títulos às desconfianças do mercado, ajudando a achatar um pouco a curva de juros, mesmo com encurtamento da dívida. Para evitar mais gargalos, também se recorre à transferência de recursos da Caixa e do BNDES para aliviar que a dívida se acumule ainda mais no curto prazo.
Na verdade, tudo isso é gerenciamento de uma crise que potencialmente ainda pode acontecer. O governo terá de se esforçar muito para conseguir adequar as despesas ao orçamento e ainda fazer caber o Renda Cidadã, que parece ser a saída para acabar com o auxílio emergencial, sem comprometer demais o estímulo fiscal que tem ajudado a dar mais fôlego à retomada da atividade.
Só que, ao jogar tudo para depois das eleições, haverá um tempo muito curto para grandes definições. E há quem ainda fale em avanços, neste ano, de matérias mais polêmicas, como a Reforma Tributária e a Administrativa.
Otimismo demais. Muita coisa deveria estar sendo discutida agora, antes das eleições municipais, para não ser atropelada pela proximidade do final do ano e das eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Sem esquecer que os interesses em relação a essas eleições, por parte de parlamentares, também vão postergando outras questões, como as discussões dos vetos do presidente, especialmente da prorrogação da desoneração da folha até o final do ano que vem.
Daqui a pouco nem adianta mais votar. Mas está difícil Alcolumbre colocar mesmo em pauta, sob o risco de criar desavenças. Para gerenciar tudo isso ainda fica a ideia de suspender o recesso de final de ano, que não tem tanta adesão junto aos parlamentares.
Por outro lado, não bastasse a política pesando nas questões econômicas ainda temos a polêmica política em torno da vacina contra o coronavírus, com um enredo bem próximo das controvérsias sobre o uso de máscaras, isolamento, hidroxicloroquina. Pandemia virou assunto político e não científico, pelo menos, para quem já está pensando em 2022. Isso mesmo… outra eleição no horizonte!!! Esta eleição, sim, pode influenciar muito o cronograma e a agenda de 2021.
Vencer a pandemia, driblar a crise econômica, executar o ajuste fiscal, de forma a garantir maior confiança e estimular investimentos, mas sem atrapalhar popularidade, é a combinação com a qual o governo pretende lidar, onde a política parece, cada vez mais, estar acima de tudo. É ver se, na prática, o discurso pró ajuste vai mesmo prevalecer. Se haverá vontade e disposição política para isso.