Morning Call Levante – 20 de Outubro de 2025

Cenário Macro

A semana será marcada por uma agenda intensa de indicadores econômicos, tanto no Brasil quanto no exterior, com destaque para dados de inflação, atividade e discursos de autoridades monetárias. O foco doméstico recairá sobre a divulgação do IPCA-15 de outubro, enquanto no cenário internacional a atenção se volta para os índices de preços ao consumidor dos Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, a agenda também será movimentada. Na segunda-feira (20), o destaque será a produção industrial de setembro. Na quinta-feira (23), o Federal Reserve divulgará seu balanço patrimonial semanal, permitindo acompanhar a evolução da liquidez no sistema financeiro.
A sexta-feira (24) concentrará os principais dados da economia americana, incluindo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o núcleo do IPC de setembro, além dos PMIs de outubro, que sinalizam o desempenho da indústria e dos serviços. Também serão divulgadas as expectativas de inflação e o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan, que servirão como termômetro do sentimento das famílias
e das perspectivas de demanda doméstica.

Na Europa, o evento central será o discurso de Christine Lagarde, presidente do BCE, marcado para quarta-feira (22). A fala poderá trazer pistas sobre a condução da política monetária na zona do euro, em um momento em que a atividade econômica segue fraca e a inflação apresenta desaceleração gradual. Já na sexta-feira (24),
serão conhecidos os PMIs industrial e de serviços de outubro.

No Brasil, a segunda-feira (20) começa com a divulgação do Boletim Focus, que apresentará as expectativas atualizadas do mercado para inflação, PIB, câmbio e Selic. Na quinta-feira (23), ocorre a Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). A sexta-feira (24) será o ponto alto da semana no cenário doméstico, com a
divulgação do IPCA-15 de outubro e das contas externas. O IPCA-15 anterior mostrou alta de 0,48% no mês e 5,32% em 12 meses, e a nova leitura deve indicar se a desinflação continua no ritmo esperado pelo Banco Central. Além disso, serão divulgados os dados de transações correntes e investimento estrangeiro direto (IED)
referentes a setembro, que ajudarão a mensurar o apetite do investidor internacional pelo país e a evolução do balanço de pagamentos.

Na última sessão, o S&P 500 mostrou alta de 0,53%, o Nasdaq subiu 0,52% e o Dow
Jones fechou com alta de 0,52%. No Brasil, o Ibovespa encerrou o dia em alta de
0,84%, aos 143.399 pontos.


Renda Fixa

No curto prazo, a curva de juros manteve-se praticamente estável, com variações marginais e volume moderado. O F26 (jan/26) seguiu em 14,90%, refletindo estabilidade na taxa e manutenção do interesse aberto em 4,1 milhões de contratos, com giro diário reduzido. Já o F27 (jan/27) — principal referência da ponta curta — recuou levemente de 14,03% para 14,02% (-1 bp), com volume estável e OI praticamente inalterado em 5,40 milhões de contratos, sinalizando continuidade da concentração de liquidez e postura mais cautelosa dos investidores.

Nos vértices intermediários, o movimento foi de leve fechamento das taxas, revertendo parcialmente a abertura da véspera. O F28 (jan/28) permaneceu estável em 13,37%, enquanto o F29 (jan/29) oscilou de 13,32% para 13,34% (+2 bps), ambos com volumes consistentes e OI mantido ao redor de 3,4 milhões de contratos. O comportamento reflete reposicionamento seletivo e ajuste técnico após a sequência de altas recentes.

Na parte longa, o movimento também foi contido, com ajustes marginais nas taxas e volumes firmes. O F31 (jan/31) subiu de 13,58% para 13,61% (+3 bps), com OI estável em
1,76 milhão de contratos, enquanto o F33 (jan/33) avançou de 13,73% para 13,75% (+2
bps), mantendo liquidez elevada e giro semelhante ao da véspera.

O conjunto do pregão consolidou um leve bear-steepening, com reabertura controlada entre os vértices intermediários e longos e estabilidade na parte curta da curva. O padrão sugere ajustes táticos e maior seletividade das posições, compatíveis com uma postura mais defensiva dos investidores diante da manutenção das expectativas de juros estáveis no curto prazo e do alongamento gradual da estrutura a termo.


Ações Brasil


A PRIO (PRIO3) comunicou ao mercado na sexta-feira (17), que recebeu autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para retomar a produção no campo de Peregrino. A liberação, que ocorreu após cerca de dois meses de paralisação, foi concedida mediante parecer da superintendência de segurança operacional e marca o reinício das operações do FPSO Peregrino, unidade responsável
pela produção no campo, atualmente operado pela Equinor Brasil. O retorno das atividades em Peregrino representa um avanço para a companhia, que vinha enfrentando pressões do mercado desde a suspensão das operações, em agosto a interdição foi motivada por questões relacionadas à segurança operacional, o que levou à
necessidade de ajustes técnicos, revisões documentais e melhorias em sistemas críticos da unidade.

Agora, com a retomada autorizada, a companhia inicia o processo de ramp up da produção, ou seja, uma elevação gradual dos volumes extraídos até atingir a normalidade operacional. A expectativa do mercado é que a produção volte aos níveis anteriores à paralisação ao longo das próximas semanas, considerando a complexidade envolvida na operação de um FPSO e o tempo necessário para estabilizar o sistema após um período
de inatividade.

A notícia é considerada positiva e tende a aliviar parte da pressão que vinha sendo exercida sobre os papéis da empresa nas últimas semanas. Desde a interrupção, a PRIO vinha sendo questionada sobre sua capacidade de resposta diante de eventos imprevistos, especialmente em um momento estratégico em que busca consolidar a
aquisição da totalidade do campo de Peregrino.

Neste ano a empresa firmou acordo para comprar os 60% restantes do ativo que ainda estavam sob controle da Equinor, em uma transação que pode alcançar até 3,35 bilhões de dólares. Com a finalização desse processo, a PRIO assumirá o controle integral do campo, o que deve ampliar sua geração de caixa e fortalecer sua posição no setor de óleo e gás.

O campo de Peregrino é considerado um dos principais ativos da PRIO. Em meses anteriores à paralisação, chegou a responder por cerca de 38 mil barris por dia, volume expressivo dentro do portfólio de produção da companhia. Sua retomada é estratégica não apenas pelo impacto imediato nos resultados operacionais, mas também pelo papel que desempenha na execução do plano de crescimento da empresa para os próximos
anos. Apesar da sinalização positiva, o retorno das operações não elimina por completo os riscos associados ao cumprimento das exigências operacionais, o histórico recente de interdição acende um alerta para a importância de manter controles rigorosos de segurança e governança, especialmente diante da perspectiva de ampliação da
responsabilidade operacional com a futura conclusão da compra do campo.

Nas próximas divulgações, os investidores estarão atentos à velocidade com que a PRIO conseguirá normalizar a produção em Peregrino, aos indicadores operacionais após a volta em atividade do campo. Além disso, o mercado deve observar a consistência da companhia na comunicação de seus resultados e a sua capacidade de evitar novas
paralisações que comprometam sua produção e previsibilidade de receita. A retomada do campo de Peregrino, portanto, representa um alívio para a PRIO, mas também impõe novos compromissos como eficiência operacional.

O desempenho da companhia a partir de agora será determinante para a avaliação do mercado e para a
sustentação da trajetória de crescimento planejada para os próximos trimestres.


Varejo

O terceiro trimestre de 2025 (3T25) deve consolidar um cenário de desaceleração moderada para o varejo brasileiro, refletindo os efeitos prolongados de uma política monetária restritiva e a dificuldade de retomada do consumo financiado. A taxa Selic, ainda em 15%, limita a expansão do crédito e inibe investimentos, especialmente entre
empresas mais alavancadas ou expostas a bens de maior valor agregado. Mesmo com o mercado de trabalho aquecido e alguma recomposição da renda real, o poder de compra das famílias segue comprimido, o que deve se traduzir em resultados mistos entre os diferentes segmentos do setor. Estimamos que a receita consolidada do varejo cresça em torno de um dígito médio (algo entre 4-6%) no comparativo anual, mas com
compressão de margens e retração no lucro líquido agregado, acompanhando a tendência observada ao longo de 2025.

Entre os segmentos mais resilientes, o varejo alimentar e o farmacêutico continuam a se destacar como pilares de estabilidade. Supermercados e atacarejos devem registrar crescimento de receita em linha com a inflação de alimentos, sustentados pelo caráter essencial de seus produtos e pela capacidade de repasse gradual de custos. O
segmento farmacêutico, por sua vez, mantém trajetória positiva, impulsionado tanto pelo aumento estrutural do consumo de medicamentos quanto por tendências recentes, como a popularização dos tratamentos com análogos de GLP-1(Ozempic e similares).

Redes como Raia Drogasil, Panvel e Pague Menos devem mostrar expansão saudável de vendas, ainda que com margens pressionadas pela competitividade do setor e pela elevação dos custos operacionais. Já o varejo de alta renda, representado por empresas como a Vivara, tende a confirmar um padrão de estabilidade, com o público-alvo mantendo consumo elevado mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador. Esse grupo de consumidores, menos sensível ao crédito e à inflação, continua impulsionando as vendas de produtos high ticket, o que
deve sustentar margens acima da média do setor.

Por outro lado, o desempenho dos segmentos de bens duráveis e eletroeletrônicos deve permanecer pressionado. A combinação de juros elevados, crédito caro e endividamento das famílias ainda elevado continua limitando a demanda por produtos de ticket alto, como eletrodomésticos, eletrônicos e móveis. Mesmo com promoções
pontuais e estímulos de datas sazonais como a Black Friday, a tendência é de estabilidade ou leve retração nas vendas em relação ao mesmo período de 2024. O ambiente competitivo, com margens estreitas e custos financeiros crescentes, deve seguir penalizando especialmente redes expostas a crédito próprio ou com estrutura
operacional mais pesada, como Casas Bahia e Magazine Luiza.

Os resultados do 3T25 devem reforçar a narrativa de que o varejo brasileiro atravessa uma fase de transição, marcada por um consumo mais seletivo e pela consolidação de empresas com maior disciplina financeira. Segmentos essenciais e de menor elasticidade — como supermercados, farmácias e alta renda — devem continuar
sustentando a performance agregada do setor, enquanto os bens duráveis e o varejo massificado seguem em compasso de espera até a virada do ciclo monetário. O cenário para o 4T25 deve manter esse padrão de moderação, com leve alívio sazonal proporcionado pelas festas de fim de ano, mas sem alterar a tendência estrutural.

Com a expectativa de início da redução da Selic apenas em 2026, o ambiente permanece desafiador no curto prazo. Ainda assim, a perspectiva de uma política monetária mais branda, associada à manutenção da renda e do emprego, tende a criar as condições para uma retomada gradual do consumo no médio prazo. Nesse contexto,
vemos o varejo caminhando de forma desigual entre os segmentos — com maior dinamismo nos nichos de saúde, beleza e alta renda — mas com fundamentos sólidos para se beneficiar de um novo ciclo de expansão à medida que o crédito volte a fluir e a confiança do consumidor se fortaleça.




DISCLAIMER

A INSIDE RESEARCH LTDA. (“INSIDE”), empresa do Grupo Levante Investimentos (“LEVANTE”), declara que participou da
elaboração do presente relatório de análise e é responsável por sua distribuição exclusivamente nos canais autorizados
das empresas do Grupo Levante, tendo como objetivo somente informar os seus clientes com linguagem clara e
objetiva, diferenciando dados factuais de interpretações, projeções, estimativas e opiniões, não constituindo oferta de
compra ou de venda de nenhum título ou valor mobiliário. Além disso, os dados factuais foram acompanhados da
indicação de suas fontes e as projeções e estimativas foram acompanhadas das premissas relevantes e metodologia
adotadas. Todas as informações utilizadas neste documento foram redigidas com base em informações públicas, de
fontes consideradas fidedignas. Embora tenham sido tomadas todas as medidas razoáveis para assegurar que as
informações aqui contidas não são incertas ou equivocadas no momento de sua publicação, a INSIDE e os seus
analistas não respondem pela veracidade das informações do conteúdo, mas sim as companhias de capital aberto
que as divulgaram ao público em geral, especialmente perante a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”). As
informações, opiniões, estimativas e projeções contidas neste documento referem-se à data presente e estão sujeitas a
mudanças, não implicando necessariamente na obrigação de qualquer comunicação no sentido de atualização ou
revisão com respeito a tal mudança. Para maiores informações consulte a Resolução CVM nº 20/2021, e, também, o
Código de Conduta da Apimec para o Analista de Valores Mobiliários. Em cumprimento ao artigo 16, II, da referida
Resolução CVM nº 20/2021. As decisões de investimentos e estratégias financeiras sempre devem ser realizadas pelo
próprio cliente, de preferência, amparado por profissionais ou empresas habilitadas para essa finalidade, uma vez que
a INSIDE não exerce esse tipo de atividade. Esse relatório é destinado exclusivamente ao cliente da INSIDE que o
contratou. A sua reprodução ou distribuição não autorizada, sob qualquer forma, no todo ou em parte, implicará em
sanções cíveis e criminais cabíveis, incluindo a obrigação de reparação de todas as perdas e danos causados, nos
termos da Lei nº 9.610/98, além da cobrança de multa não compensatória de 20 (vinte) vezes o valor mensal do serviço
pago pelo cliente. Em conformidade com os artigos 20 e 21 da Resolução CVM nº 20/2021, o analista Eduardo Jamil Rahal
(inscrito no CNPI sob o nº 8204) declara que (i) é o responsável principal pelo conteúdo do presente relatório de análise;
(ii) as recomendações nele contidas refletem única e exclusivamente as suas opiniões pessoais e que foram
elaboradas de forma independente, inclusive com relação à INSIDE. Na contracapa deste relatório você encontra uma
relação de todas as empresas que fazem parte do Grupo Levante. Para dirimir quaisquer dúvidas, entre em contato
através dos canais de atendimento nos sites oficiais.

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.