Há quase três décadas, muito antes de o termo ESG (governança ambiental, social e corporativa) ser cunhado em uma conferência da ONU, nascia uma empresa brasileira com a missão de cuidar do lixo alheio. Hoje, a Ambipar tem dominância em um dos setores mais promissores da economia global, que é a gestão de resíduos. Um negócio que, por ser vital ao meio-ambiente, é tema recorrente entre legisladores de todo o mundo, formadores de opinião e investidores.
Posicionado entre os maiores geradores de resíduos sólidos do mundo, o Brasil, felizmente, parece ter avistado uma luz no fim do túnel. O Brasil produz cada vez mais lixo, e essa geração de resíduos vem aumentando a um ritmo maior do que a nossa capacidade de fazer a correta destinação desse material descartado. Contudo, o número de negócios voltados a esse fim também tem crescido. O 3º Mapa de Negócios de Impacto do Relatório Nacional 2021, realizado pela Pipe Social, apontou um crescimento de 42% nos negócios focados na gestão de resíduos.
Antevendo esse aumento de demanda lá atrás, a Ambipar percebeu que só haveria um caminho para ganhar robustez nesse mercado – e ele não apontava para o longo e demorado crescimento orgânico. Foi assim que a empresa desenhou um agressivo projeto de fusões e aquisições. Mas como levantar caixa para realizar esse movimento? A resposta foi a abertura de capital (IPO) na B3.
“O IPO trouxe uma estrutura de capital diferenciada, fazendo com que esse processo de crescimento se acelerasse”, afirma Thiago Silva, CFO da Ambipar, em entrevista à Levante. A oferta inicial de ações da empresa, em julho de 2020, levantou cerca de R$ 1 bilhão. Desde então, mais de 30 aquisições foram feitas. Ir às compras fez os custos e as despesas aumentarem 173,9% no ano passado, totalizando R$ 1,2 bilhão.
O apetite da Ambipar, acredite, está longe de ser satisfeito. A estratégia de compras da empresa continua firme e forte para 2022. De acordo com Silva, a Ambipar mira negócios que a auxiliem a penetrar em novos mercados e expandir para novas geografias.
Duas áreas de negócios
Atualmente, os dois principais negócios da empresa estão divididos entre Ambipar Environment e Ambipar Response. O carro-chefe da Environment é a gestão de resíduos, o que incentiva a chamada economia circular. Como isso funciona? Bem, os resíduos industriais são transportados, selecionados e desfabricados para, depois, serem valorizados – capacidade de processar e reaproveitar materiais que, à princípio, eram considerados detritos como despojo de tratamento de efluentes, borras de tinta, óleos usados, aparelhos eletrônicos, borrachas e até mesmo resíduos perigosos. Esse tipo de mercado é recorrente. Afinal, não há como faltar lixo, tanto civil quanto fabril.
Já a Ambipar Response lida com resposta a emergências, prevenção de acidentes, treinamento entre outros. Na prática, o braço gerencia crises e oferece atendimento a emergências ambientais, químicas e biológicas que afetam o ecossistema ao seu redor, como a saúde e o meio-ambiente.
Dentre as aquisições mais significativas, Silva destaca a compra da Disal, que gerencia resíduos industriais e inseriu a Ambipar em mercados vizinhos como o Chile, Peru e Paraguai.
No início do ano, a Ambipar adquiriu a Flyone, empresa brasileira que atua no segmento de transporte aéreo. O intuito é ajudar os clientes no atendimento de emergências ambientais como o combate imediato a incêndios.
Anteriormente, ela já havia arrematado a Dracares Apoio Maritimo e Portuário, que viria a trazer experiência na operação área marítima offshore. Para levantar recursos, a empresa emitiu R$ 750 milhões em debêntures no início do ano, mais R$ 336 milhões emitidos pela Ambipar Response.
Presença internacional
A Ambipar já está presente em 16 países. Estados Unidos e Europa são seus focos de crescimento, conforme aponta o CFO. “Quando compramos a primeira empresa no Reino Unido em 2018, eu tive certeza de que a gente chegaria muito longe”, recorda Silva. Da receita de R$ 920 milhões da Ambipar Response em 2021, R$ 631 milhões vieram do mercado internacional.
No quarto trimestre de 2021, a Ambipar registrou lucro líquido de R$ 52,3 milhões, alta de 98,8% ante o mesmo período de 2020. No trimestre, a receita líquida da companhia somou R$ 681,8 milhões, alta de 202% na comparação anual. Entretanto, a dívida líquida da empresa foi de R$ 1,8 bilhão e alavancagem de 2,5x. Para o CFO, o segundo indicador está saudável.
“O que ocorreu é que embalou o começo do ano com um pouco mais de alavancagem, mas temos um balanço saudável para continuar crescendo. Para 2022, estamos muito bem preparados e posicionados em termos de estrutura de capital para continuar crescendo.”
Ambify: blockchain de crédito de carbono une cripto ao ESG
Dando mais um passo em direção ao mercado de crédito de carbono, a Ambipar lançou a plataforma Ambify, que permite a qualquer pessoa negociar créditos de carbono em forma de criptoativos na web ou no aplicativo. A tecnologia simboliza a entrada da Ambipar na era das blockchains, e já vem trazendo uma visibilidade maior para o tema de créditos de carbono, cujo mercado tem muito espaço para crescer, conta João Valente, diretor de ativos digitais da Ambipar, em entrevista à Levante.
O objetivo é simples: compensar a pegada de carbono dos hábitos diários de seus clientes e mostrar seu impacto no meio-ambiente. Tudo isso com baixo custo. Anteriormente, a Ambipar havia adquirido a Biofílica, que desenvolve projetos de carbono e venda de créditos de carbono.
Diferentemente de outras empresas que adotam iniciativas ESG, a Ambipar atua em um segmento inerentemente ESG, tanto pelo impacto positivo no meio-ambiente ao redirecionar resíduos e reduzir a emissão de CO2 na atmosfera, quanto pela prevenção de emergências que podem impactar ecossistemas.