
Após vários dias sem informações econômicas, a semana se encerra com índices de inflação no Brasil e nos Estados Unidos. Por aqui o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15 de outubro, prévia do IPCA. A inflação ficou em 0,18 por cento, abaixo da expectativa de 0,25 por cento e bem abaixo do IPCA-15 de setembro, que havia sido de 0,48 por cento.
No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,94 por cento e, nos últimos 12 meses, a variação foi de 4,94 por cento, abaixo dos 5,32 por cento observados nos 12 meses imediatamente anteriores, mas ainda bem acima do teto da meta.
Segundo o IBGE, o maior impacto no índice deste mês foi do grupo Transportes, cujos preços subiram 0,41 por cento, após terem caído 0,25 por cento em setembro. O resultado foi influenciado principalmente pela alta de 1,16 por cento nos preços dos combustíveis e de 4,39 por cento nos preços das passagens aéreas. O etanol subiu 3,09 por cento e a gasolina subiu 0,99 por cento.
Havia um consenso entre os especialistas de que a inflação de setembro foi distorcida para cima devido ao fim do chamado “bônus de Itaipu”, em que uma diferença a favor do consumidor nas contas de eletricidade deixou de ser pagar. Com isso, o gasto com eletricidade subiu de maneira não-recorrente, pressionando o índice para cima. Agora, espera-se que não haverá esse efeito, o que pode reduzir a inflação acumulada em 12 meses. No entanto, os números permanecerão acima do teto da meta.
Já nos Estados Unidos o cenário é de alta da inflação. Economistas consultados pela Dow Jones esperam que a leitura mensal de todos os itens aumente 0,4 por cento, o mesmo nível do mês anterior, colocando a taxa de inflação em 12 meses em 3,1 por cento, ou 0,2 ponto percentual acima do nível de agosto. Excluindo alimentos e energia, o núcleo do IPC deve mostrar um aumento mensal de 0,3 por cento e um nível anual de 3,1 por cento, ambos resultados semelhantes aos de agosto. Se confirmada, a taxa anual seria a maior desde janeiro deste ano.
A divulgação do relatório do índice de preços ao consumidor de setembro, na sexta-feira, é o único dado a ser divulgado neste mês para investidores famintos por números, e deve ter um impacto forte nos preços. A falta de dados econômicos oficiais devido à paralisação do governo significa que mesmo um pequeno desvio pode causar um impacto desproporcional.
Os investidores vão analisar os números em busca de qualquer sinal de que a inflação está mais alta ou mais baixa do que o previsto. O foco também estará nos detalhes que mostram o impacto das tarifas do presidente Donald Trump sobre os preços.
O CPI, que deveria ter sido divulgado no dia 15 de outubro, será a última informação econômica significativa antes da reunião do Federal Open Market Committee (Fomc), versão americana do Copom, que será realizada nos dias 28 e 29 de outubro.
E Eu Com Isso?
As cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil estão em leve alta na pré-abertura em Wall Street. A perspectiva é que a inflação abaixo do esperado eleve a probabilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizar um afrouxamento na política monetária na reunião marcada para o início de novembro.
As notícias são positivas para a Bolsa

Raízen (RAIZ4) melhora ritmo de moagem com foco em eficiência em meio a desafios de rentabilidade
A Raízen (RAIZ4) divulgou sua prévia operacional referente ao segundo trimestre da safra 2025/26, apresentando resultados mistos. O desempenho reflete tanto os benefícios das condições climáticas favoráveis à moagem quanto os desafios de preços e produtividade agrícola.
A moagem de cana atingiu 35,1 milhões de toneladas, alta de 7 por cento em relação ao mesmo período da safra anterior. O avanço foi impulsionado pelo ritmo da colheita, favorecida por clima seco e boa disponibilidade de matéria-prima. O teor de ATR (açúcar total recuperável) manteve-se praticamente estável, em 146 kg/tonelada, enquanto o TCH (toneladas de cana por hectare) ficou em 73 t/ha, demonstrando boa produtividade.
A produção de açúcar equivalente somou 7,53 milhões de toneladas no acumulado da safra, crescimento de 3 por cento sobre o ciclo 2024/25. O mix de produção permaneceu concentrado no açúcar, com 55 por cento da cana destinada ao produto.
Nas vendas de etanol próprio, o volume atingiu 1,3 bilhão de litros, estável em relação ao ano anterior, sustentado pela demanda doméstica e pela expansão da produção de etanol de segunda geração (E2G), que chegou a 65,7 milhões de litros, alta superior a 50 por cento em base anual.
No segmento de bioenergia, a cogeração de energia alcançou 755 GWh no trimestre, leve retração frente ao mesmo período do ano anterior, devido à menor disponibilidade de biomassa. Ainda assim, a Raízen segue entre os principais geradores de energia renovável do país, com contratos de longo prazo que garantem estabilidade de receita.
Na distribuição de combustíveis, o volume comercializado no Brasil ficou entre 7,4 e 7,5 bilhões de litros, em linha com o trimestre anterior. A empresa continua se beneficiando da expansão de sua rede e da consolidação da marca Shell, além da retomada gradual da demanda por diesel e gasolina no mercado interno. Na Argentina, a operação apresentou recuperação após a parada programada para manutenção da refinaria, com volumes entre 1,8 e 1,9 bilhão de litros.
Do ponto de vista financeiro, a companhia mantém foco em disciplina de capital e otimização do portfólio. Em 2025, a Raízen anunciou a venda de duas usinas em Mato Grosso do Sul para a Cocal Agroindústria, em uma transação de aproximadamente 1,5 bilhão de reais.
A operação contribui para a desalavancagem e reforça a priorização de ativos mais eficientes. Apesar dos avanços, a geração de caixa e o retorno sobre o capital ainda é um desafio importante, com margens pressionadas e custos financeiros elevados.
E Eu Com Isso?
O Brasil continuará sendo referência mundial na produção de etanol e bioenergia, e a Raízen está estrategicamente posicionada para aproveitar as oportunidades da economia de baixo carbono — especialmente por meio do E2G, do biogás e dos créditos de descarbonização (CBIOs).
A evolução regulatória, aliada ao avanço das metas ambientais e à maturação dos investimentos recentes, deve sustentar a geração de valor no médio prazo.
Em resumo, a Raízen segue buscando melhorias em sua execução operacional e uma reciclagem do portfólio, embora enfrente o desafio de transformar escala em rentabilidade sustentável. O foco em ganho de eficiência, redução da alavancagem financeira e valorização de produtos de maior valor agregado será fundamental para liberar valor aos acionistas.
A empresa permanece como uma das principais protagonistas do setor energético brasileiro, alinhada às tendências globais de sustentabilidade e à transição energética.
A parceria anunciada entre o Mercado Livre (MELI34) e o Grupo Casas Bahia (BHIA3) marcou um movimento inesperado no setor de varejo, reacendendo o debate sobre o futuro competitivo do e-commerce nacional. A parceria, que prevê o lançamento da loja oficial da Casas Bahia dentro da plataforma do MELI já em novembro — às vésperas da Black Friday —, ocorre em um momento de forte seletividade no consumo e margens apertadas para o varejo tradicional. Embora os termos do acordo não tenham sido detalhados, a iniciativa representa um reposicionamento estratégico para ambos os lados: o Mercado Livre busca reforçar sua presença em categorias de bens duráveis, enquanto a Casas Bahia tenta ampliar o alcance digital em meio a um cenário operacional desafiador.
Para a Casas Bahia, o movimento parece refletir mais uma necessidade do que uma escolha estratégica. A companhia, que enfrenta um processo intenso de reestruturação, com desalavancagem, fechamento de lojas e ajustes operacionais, encontra nessa parceria uma forma de ampliar o tráfego e potencializar as vendas em um período crucial do varejo.
Ao acessar a base de consumidores do Mercado Livre, a varejista ganha capilaridade digital e maior visibilidade, especialmente em categorias de ticket médio mais alto. No entanto, há riscos claros: o desvio de tráfego do seu próprio canal online, possível perda de controle sobre a experiência de compra e uma sinalização de dependência crescente de plataformas de terceiros para sustentar o crescimento. Em outras palavras, a parceria traz alívio de curto prazo, mas reforça o diagnóstico de que o turnaround da companhia ainda carece de solidez estrutural.
Do lado do Mercado Livre, a leitura é mais equilibrada e tende a ser positiva. A companhia reforça seu posicionamento como o principal ecossistema de e-commerce da América Latina, capaz de integrar grandes varejistas sem comprometer sua proposta de valor. A entrada da Casas Bahia na plataforma fortalece o portfólio de produtos de bens duráveis — categoria historicamente mais sensível à taxa de juros e de rotação mais lenta —, sem que o MELI precise assumir riscos de estoque ou investir capital em uma operação própria 1P. Além disso, a expertise operacional e a capilaridade da varejista brasileira podem complementar o modelo de distribuição do Mercado Livre, elevando a eficiência e reduzindo prazos de entrega em regiões onde o alcance físico da empresa ainda é limitado.
Outro ponto relevante é o timing da parceria. Ao incorporar a Casas Bahia pouco antes da Black Friday, o Mercado Livre se posiciona para capturar uma parcela adicional das vendas de alto ticket, fortalecendo o engajamento em uma das datas mais competitivas do varejo.
Ainda que o impacto financeiro direto deva ser limitado no curto prazo, a operação reforça a estratégia de longo prazo da companhia de ampliar seu sortimento e consolidar o ecossistema digital mais completo da região. Em contrapartida, a Casas Bahia tenta ganhar fôlego em um momento de pressão por resultados, apostando na escala do MELI como um canal de sobrevivência mais do que de expansão.
Para o varejo como um todo, o movimento reforça a tendência de cooperação estratégica entre plataformas e grandes marcas como resposta à compressão de margens e à necessidade de eficiência operacional.
Em síntese, o acordo entre Mercado Livre e Casas Bahia representa um passo simbólico na reconfiguração do e-commerce brasileiro. Para o MELI, a parceria é um avanço coerente com sua estratégia de diversificação e consolidação como hub de varejo digital. Já para a Casas Bahia, o movimento parece mais reativo, refletindo a urgência de fortalecer o fluxo de caixa e sustentar vendas em meio à desaceleração do consumo.
A curto prazo, o acordo pode gerar ganhos de exposição e receita; a longo prazo, resta saber se a companhia conseguirá converter essa visibilidade em recuperação estrutural. A assimetria entre os benefícios para cada lado torna claro que, enquanto o Mercado Livre amplia seu alcance estratégico, a Casas Bahia ainda luta para recuperar terreno em um mercado cada vez mais exigente e competitivo.