Investidores seguem navegando por instrumentos

E eu com isso versão Plus

O que chamamos de globalização não é um fenômeno moderno. O império romano durou cerca de mil anos porque, desde o princípio, buscou integrar suas regiões por meio de estradas. A intenção não era facilitar o comércio, mas sim o envio de tropas se alguma província tivesse a ideia de se desligar de Roma. Pouco mais de um milênio depois, a chamada Era dos Descobrimentos foi uma integração – nem sempre pacífica nem voluntária – das Américas, África e partes da Ásia à Europa. Por isso falamos português, e não tupi-guarani.

Por que essa lição de história logo cedo? A Era dos Descobrimentos só foi possível devido a algumas invenções que permitiram calcular a localização dos navios no meio do oceano e tornaram viável a navegação de longo curso. Sem elas só seria possível navegar perto da costa, por tentativa e erro. Da mesma maneira, os investidores navegam diariamente os mares desconhecidos dos mercados por meio de instrumentos econômicos – indicadores que permitem estimar com mais ou menos precisão o comportamento de variáveis como a inflação, a taxa de juros e o nível de atividade econômica.

Imagine a seguinte situação: Pedro Álvares Cabral está no meio do caminho entre Lisboa e as praias paradisíacas de Porto Seguro quando as bússolas e demais instrumentos das caravelas deixam de funcionar. Essa é a situação dos investidores: no início do 4T25, o “shutdown” do governo americano priva essa entidade chamada mercado de dados como a inflação e o nível de emprego, essenciais para permitir a localização dos investidores nas ondas do ciclo econômico.

Por isso, os preços dos ativos financeiros estão cada vez mais suscetíveis a informações pontuais. Nos próximos dias, os investidores ainda terão os resultados das empresas abertas americanas e brasileiras para poder inferir a temperatura da economia.

Enquanto o governo americano não volta a trabalhar e o fluxo de informações não se normaliza, os investidores mostraram uma ligeira distensão na manhã desta terça-feira (21), com as cotações das ações globais subindo e os preços do ouro recuando durante a madrugada, mas esse movimento não foi capaz de se sustentar no início dos negócios da terça-feira.

O mercado está à espera de resultados de grandes empresas americanas referentes ao terceiro trimestre e da divulgação de indicadores econômicos, como a inflação americana de setembro medida pelo Consumer Price Index (CPI), prevista para a sexta-feira (24). Os preços do ouro voltaram a cair no mercado à vista e recuaram 0,8 por cento para 4.322 dólares por onça (28,8 gramas), à medida que a melhora do humor dos investidores reduziu a demanda por ativos de proteção.

Nas commodities, os preços do petróleo subiram 0,8 por cento, com o barril do óleo do tipo Brent, referência para a Petrobras, avançando para 61,51 dólares. O avanço foi uma recuperação dos preços após as quedas recentes, apoiada pelas expectativas de demanda estável e disciplina na oferta pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).


E Eu Com Isso?

A atenção dos investidores deve seguir voltada para os indicadores econômicos dos EUA com divulgação agendada para o fim da semana. Além da inflação, devem ser divulgados os índices de gerentes de compras e indicadores da atividade imobiliária. Os investidores também estão atentos aos próximos resultados de grandes empresas de tecnologia, que podem influenciar o sentimento geral. Os contratos futuros de índices americanos e as cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil estão em leve queda no pré-mercado.

Mercados com Rafael Bevilacqua

Petrobras (PETR4) reduz preço da gasolina em 14 centavos por litro

A Petrobras (PETR4) anunciou na segunda-feira (20) uma redução de 14 centavos por litro no preço da gasolina vendida às distribuidoras. A decisão acompanha a recente queda das cotações do petróleo no mercado internacional, além da valorização do real frente ao dólar ao longo de 2025. A medida também deve contribuir para aliviar a inflação ao consumidor, com expectativa de uma redução aproximada de 4,9 por cento no preço final da gasolina.

Do ponto de vista operacional, a redução tende a pressionar as margens da companhia. No entanto, a decisão visa preservar a competitividade da Petrobras frente aos importadores e à crescente concorrência dos combustíveis alternativos, como o etanol, que atualmente apresenta preços bastante competitivos em diversas regiões do país.

Para os acionistas, a estratégia pode ajudar a estabilizar a demanda interna e evitar perda de participação de mercado, o que contribuiria para manter os volumes de vendas e a eficiência operacional das refinarias. Por outro lado, a compressão de margens pode resultar em um lucro líquido menor no quarto trimestre de 2025.

A menor geração de caixa decorrente da queda no preço do combustível pode também afetar a distribuição de dividendos. Atualmente, o mercado projeta que a Petrobras distribuirá cerca de 40 bilhões de reais em dividendos nos próximos doze meses, o que representa um dividend yield de aproximadamente 10 por cento. Com a redução nas margens, esse valor pode ser revisado para baixo, ainda que não de forma drástica.

Apesar da queda de preço, a solidez financeira da Petrobras não é comprometida neste momento. No entanto, a movimentação pode sinalizar uma tendência que levará o mercado a revisar projeções de EBITDA e os modelos de avaliação das ações da companhia.

O cenário internacional segue relevante, com o barril de Brent sendo negociado próximo aos 60 dólares, ainda sujeito à volatilidade geopolítica e às incertezas sobre a demanda global.

A política de preços da Petrobras continua sob observação por parte dos investidores. Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), até o fechamento da última sexta-feira, a Petrobras vendia gasolina cerca de 8 por cento acima do valor praticado pelos distribuidores independentes. Nesse contexto, o corte anunciado alinhar os preços da petroleira aos demais players do mercado.

Desde o fim da paridade automática com o mercado internacional, a Petrobras passou a adotar um modelo de precificação mais flexível. Nesse novo modelo, fatores internos como custos locais, margens operacionais e competitividade passaram a ter maior peso na definição dos preços dos combustíveis.


E Eu Com Isso?

No curto prazo, o impacto financeiro da redução de 14 centavos por litro na gasolina é relativamente limitado para a Petrobras. No entanto, a contínua queda no preço do barril do Brent no mercado internacional representa um fator de pressão adicional sobre os resultados da companhia.

Caso a tendência de baixa se prolongue, a empresa poderá enfrentar uma compressão de margens em um momento em que o investidor valoriza previsibilidade e consistência nos fluxos de caixa. Como consequência, a capacidade da Petrobras de manter seus níveis atuais de distribuição de dividendos pode ser afetada, resultando em pagamentos potencialmente menores.

Seguimos atentos às próximas divulgações de resultados para avaliar como a companhia tem se adaptado a um ambiente de preços do petróleo mais baixos do que os registrados nos últimos anos. A forma como a Petrobras equilibra competitividade de mercado, eficiência operacional e retorno ao acionista será para seu desempenho no médio prazo.


Rede D’Or (RDOR3) amplia radar estratégico e mira novas oportunidades em medicina diagnóstica

As especulações sobre uma possível negociação entre a Rede D’Or (RDOR3) e as companhias Dasa (DASA3) e Alliança Saúde movimentaram o noticiário corporativo e o mercado de saúde brasileiro nesta segunda-feira (20). Embora o assunto ainda esteja no campo dos rumores, a notícia reforça o apetite estratégico da Rede D’Or em expandir sua presença no segmento de medicina diagnóstica, movimento que se mostra coerente com sua trajetória de diversificação e verticalização desde a aquisição da SulAmérica. A companhia, que já possui o laboratório Richet, teria retomado as conversas após suspender tratativas com o Fleury (FLRY3), por divergências quanto à precificação do ativo.

A possibilidade de novas aquisições ocorre em um contexto de forte recomposição competitiva entre os principais players de saúde no país. Dasa, Fleury, Alliança e Rede D’Or disputam espaço em um ambiente que exige eficiência operacional, sinergias de custo e maior integração entre as frentes de diagnóstico, assistência hospitalar e planos de saúde. Nesse cenário, a Rede D’Or aparece como um consolidador natural, com balanço robusto, caixa sólido e capacidade de execução comprovada, o que lhe permite atuar de forma ativa mesmo em um ambiente de juros elevados. Além disso, o grupo tem demonstrado visão estratégica consistente ao identificar oportunidades que aumentem a integração entre diagnóstico e cuidado, reduzindo custos e ampliando margens.

O interesse da Rede D’Or por ativos de diagnóstico, como Dasa e Alliança, está alinhado à sua tese de verticalização e expansão de serviços complementares. A medicina diagnóstica representa uma frente relevante para ganhos de sinergia, já que é responsável por parte significativa dos custos hospitalares e permite ampliar a eficiência clínica e administrativa. Diferentemente do modelo de atuação baseado apenas em crescimento inorgânico via hospitais, a entrada mais profunda em diagnósticos tende a criar um ecossistema de saúde mais integrado, capaz de capturar valor desde a prevenção até o tratamento.

O movimento também ganha relevância num momento em que o setor de saúde passa por transformações estruturais, com avanços tecnológicos, digitalização de processos e crescimento da demanda por soluções completas e convenientes. Nesse contexto, possuir controle sobre uma rede diagnóstica que oferece vantagens competitivas importantes: desde a agilidade na entrega de resultados até a padronização de protocolos e o uso de dados clínicos para melhorar a gestão assistencial. Para a Rede D’Or, que já opera com margens superiores às dos pares, a expansão nesse nicho reforçaria sua posição como líder de um modelo de saúde integrado, mais eficiente e centrado no paciente.

 
E Eu Com Isso?
 
Ainda que o cenário siga incerto e as negociações não tenham sido confirmadas oficialmente, a leitura do mercado é que a Rede D’Or segue em posição privilegiada para liderar o próximo ciclo de consolidação do setor. A empresa combina crescimento orgânico consistente, ganhos de eficiência e flexibilidade financeira para aproveitar oportunidades seletivas. Mesmo diante da recente alta dos juros e da desaceleração no consumo, a tese estrutural da companhia permanece sólida — sustentada por ativos de alta qualidade, capacidade operacional e uma estratégia de longo prazo voltada para a integração de negócios e expansão sustentável.

Mantemos, portanto, uma visão positiva para RDOR3, considerando que eventuais movimentos de fusões e aquisições reforçam seu papel como protagonista na reconfiguração do setor de saúde no Brasil. Além do potencial de sinergias e diversificação de receitas, a empresa se beneficia de fundamentos sólidos e de uma execução consistente, o que sustenta nossa perspectiva de valorização no médio e longo prazo. Em um ambiente de juros elevados e seletividade crescente entre investidores, a Rede D’Or segue sendo uma das histórias mais bem posicionadas para capturar valor quando o ciclo de afrouxamento monetário se iniciar, consolidando-se como um dos principais nomes de qualidade da Bolsa brasileira.



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