Levante Ideias - Gabinete

Gabinete Anticaos – Ep. 06

Olá, investidores.

O governador de São Paulo, João Doria, determinou o fechamento dos shopping centers e das academias de ginástica na cidade de São Paulo até 30 de abril. O comércio de rua também terá de parar – com exceção de supermercados, farmácias, postos de gasolina e outros estabelecimentos considerados essenciais.

A quarentena e os impactos da pandemia do coronavírus chegaram de vez ao mundo real, afetando a vida cotidiana das empresas, das famílias e da sociedade como um todo.

O coronavírus se mostrou muito contagioso e tem se espalhado pelo mundo com uma velocidade maior do que se espalhou pela China. Países da Europa estão adotando a quarentena, como Espanha, França e Alemanha, além da Itália, que é a nação europeia  mais afetada.

Até o momento, temos mais de 500 casos confirmados de coronavírus (Covid-19) no Brasil, sendo praticamente a metade no estado de São Paulo. São 7 casos de morte associados à doença.  No mundo, há mais de 200 mil casos confirmados de Covid-19, com 8 mil mortes.

O mais recomendável é ficar em casa, evitar aglomerações e manter distância segura (1,5 metro) de outras pessoas, sempre com higienização com álcool em gel.

A Levante também tomou suas medidas. Ordenou para que todos seus colaboradores trabalhassem em  casa (home office) para evitar uma propagação maior da infecção do coronavírus. Iremos continuar, no entanto, a produzir conteúdo da mesma forma, com algumas contingências e ajustes que a tecnologia nos permite – todos os relatórios de investimentos e o Morning Call estão mantidos.

Mas vamos ao que interessa. A grande pergunta a ser respondida neste momento é:

Qual será o impacto deste cenário para a economia brasileira?

Nunca houve na história recente algo parecido com os efeitos provocados pela disseminação do coronavírus. Uma maneira de estimarmos as consequências de uma paralisação quase completa das atividades da economia é olhar para um acontecimento que praticamente parou o Brasil em 2018: a greve dos caminhoneiros.

O protesto dos motoristas de transporte rodoviário ocorreu em maio de 2018. Teve como estopim a alta dos preços no óleo diesel – e a falta de capacidade do governo Temer de negociar com os profissionais.

O país ficou praticamente parado por pelo menos 15 dias e prejudicou a circulação de produtos e insumos (matérias-primas) pelo Brasil. Provocou falta de combustível nos postos e a interrupção nas operações de portos (importações e exportações).

Os impactos na economia foram quase imediatos. A produção industrial caiu 10,9 por cento de um mês para o outro – apenas a indústria automobilística produziu 14,5 por cento a menos. O setor de serviços recuou 3,8 por cento. Os investimentos privados desabaram 11,3 por cento.

Mostro esses números para dar a você a noção do estrago de uma interrupção das atividades produzidas. Cada cidadão produz um pouco da riqueza que, no fim de cada trimestre, o IBGE apresenta na forma de Produto Interno Produto (PIB).

Pois bem, depois do blecaute dos caminhoneiros, a previsão do PIB desabou. Havia iniciado o ano com uma expectativa de 2,70 por cento – no fim de junho, quando a gasolina já voltada às bombas das principais cidades, os economistas estimavam em 1,55 por cento.

Em apenas um mês (os 15 dias de paralisação efetiva mais o processo de retomada das entregas), a redução do PIB foi de 1,15 ponto percentual.

Incerteza maior

É evidente que há enormes diferenças entre ocorreu há dois anos e a situação atual. Só que é preciso ficar claro que a redução das atividades cotidianas afeta, sim, o resultado final da riqueza no fim do ano.

O time de analistas fez suas estimativas, levando em consideração todas as informações divulgadas pelas autoridades de saúde e dos economistas. Também consultamos médicos para entender melhor a curva de proliferação da doença e profissionais do mercado financeiro que acompanham de perto alguns dos setores mais importantes da economia, como varejo, construção civil, bancos, entre outros.

As estimativas Levante para crescimento de PIB em 2020 apontam para: aumento de +0,50 por cento no cenário otimista, crescimento zero no cenário base e uma redução de -0,50 por cento no cenário pessimista.

O PIB esperado no fim de fevereiro, segundo o Focus, era de crescimento de 2,17 por cento em 2020 – portanto, a economia deverá ser bastante afetada. Na segunda-feira (16 de março), a projeção era para 1,68 por cento.

Claro que as incertezas são muitas. E todas as contas vão ser feitas e refeitas ao longo das próximas semanas.

Para ilustrar melhor como chegamos à nossa projeção, é importante que você saiba que consideramos os fatores abaixo, entre outros:

– a interrupção das atividades nas grandes cidades deve durar até o fim de abril;

– o setor de serviços será fortemente prejudicado por causa do fechamento do comércio;

– nas drogarias, no entanto, houve aumento de fluxo de consumidores e aumento nas vendas no curto prazo de quase 15 por cento em março. Depois da desaceleração na quantidade de infectados com o covid-19, as vendas devem ficar menos aquecidas (entre 8 e 10 por cento).

– não acreditamos em desabastecimento, o que deve manter (e eventualmente até melhorar) o resultado dos supermercados;

– os segmentos do turismo e da aviação serão os mais afetados;

– no setor de construção civil iremos observar queda nas vendas até o fim da quarentena (estandes vazios), com possíveis impactos no andamento das obras e pressão na renegociação de dívidas corporativas no curto prazo. As construtoras deverão iniciar as obras dos lançamentos de 2019;

– no setor de locação de veículos esperamos queda de 30% na quantidade de veículos alugados no segundo trimestre de 2020, com redução no volume de vendas de veículos seminovos de pelo menos 10%.

– o pacote da equipe econômica vai ajudar o comércio nas localidades menores e na periferia das grandes cidades;

– não acreditamos que a indústria irá interromper suas atividades completamente;

– esperamos ainda uma forte retomada da economia no segundo semestre, especialmente no quatro trimestre.

Acreditamos, portanto, que a trajetória do PIB em 2020 ficaria no formato de “V”, ou seja, uma queda mais acentuada agora, seguida por uma recuperação mais rápida.

Outro ponto que merece ser destacado, é que a previsão de crescimento de PIB para 2021 irá aumentar, pois vemos o que está acontecendo como algo temporário, e a base de comparação de 2020 será menor.

Também é importante colocar a previsão do PIB de outros atores do ambiente econômico. Até mesmo porque, na hora de calcular retornos e riscos, muitas opiniões têm de ser consideradas.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, estima o impacto negativo total do coronavírus na economia brasileira (PIB) em 1 por cento – portanto, Guedes tem um ponto de vista mais otimista do que o de nossos analistas.

Os bancos internacionais são mais pessimistas: Credit Suisse prevê zero crescimento neste ano para o Brasil; JP Morgan, queda de 1 por cento; e Goldman Sachs, queda de 0,9 por cento.

Banco Central busca fazer sua parte no PIB

O Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa de juros (Selic) em meio ponto percentual em sua reunião da quarta-feira, baixando a taxa referencial Selic para 3,75 por cento ao ano.

O comunicado do Banco Central deixou bem claro o movimento de retração da atividade econômica: “a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros”, e que “apesar da provisão adicional de estímulo monetário (…), o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador”. Tradução: será preciso manter os juros baixos, porque a economia deve desacelerar.

Em poucas palavras, o BC quer alimentar a máquina da economia com juros menores

Preço dos ativos ignoram PIB

Em 2020, o Ibovespa acumula queda de 40,91 por cento, comparado à queda de 25,42 por cento no S&P500 no mesmo período.

O momento é de medo e incerteza, com forte crescimento da aversão ao risco nos investidores pelo mundo, com busca pela qualidade e segurança dos títulos livre de risco (títulos do Tesouro dos Estados Unidos).

Quando aumenta a tensão e as incertezas no mundo, ou seja, os investidores globais reduzem suas posições de investimentos em países menos consolidados e mandam esse recurso para países mais estáveis e em investimentos mais seguros.

O maior impacto direto e rápido é visto no câmbio como reflexo do aumento da aversão ao risco. Isso causa um estresse no dólar em função de um movimento chamado “flight to quality” (em uma tradução do inglês, seria algo como busca de qualidade). Na prática, os investidores globais aplicam parte da estratégia no Brasil, e nestes momentos de aumento de riscos, diminuem suas as posições.

Reflexo disso é o risco país brasileiro, medido pelo credit default swap (CDS), que aumentou subiu de 100 pontos para mais de 300 pontos.

Em meio a tantas coisas, chama muito a atenção a valorização do dólar em relação às outras moedas emergentes. O Real acumula desvalorização de 26,7 por cento em 2020, com taxa de câmbio (Ptax) de 5,11 reais por dólar. Com isso, temos o Ibovespa em dólar no mesmo nível da crise de 2008, com 13.000 pontos.

O Ibovespa nos parece bastante atrativo no momento, mas ressaltamos que a incerteza ainda é muito grande no momento e que a volatilidade vai continuar alta enquanto o efeito do coronavírus não passar.

Recomendamos ir às compras na Bolsa com parcimônia, sempre respeitando o perfil de risco do investidor, com diversificação e sempre com manutenção de uma reserva de emergência.

O momento da Bolsa no Brasil nos parece bastante assimétrico, queda muito intensa no preço de mercado dos ativos de risco (ações), sem mudança consistente nos fundamentos de longo prazo das companhias.

Sabemos, sim, que as empresas deverão sofrer impactos negativos nos seus resultados no primeiro semestre de 2020, mas a quarentena do coronavírus não é para a sempre e a economia brasileira deverá se recuperar no segundo semestre do ano.

Como falamos aqui no Gabinete Anticaos, o mercado está precificando que o lucro das empresas na Bolsa vai cair 23,15 por cento em 2020 – o que está dentro de nossa previsão para o PIB. Acreditamos que as empresas brasileiras estão bem preparadas para enfrentar as semanas de crise e que a recuperação virá quando superarmos a pandemia do coronavírus.

Até breve,
Gabinete Anticaos

 

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