Olá, investidores.
O Banco Central Americano (Federal Reserve, FED) anunciou na noite de domingo (15/mar) um corte emergencial de 1 por cento na sua taxa de juros (FED funds). Seu patamar se situa atualmente no intervalo entre 0,00 a 0,25 por cento ao ano. É o segundo corte em caráter extraordinário em duas semanas. Este tipo de ferramenta não era utilizado desde a crise imobiliária “sub-prime” de 2008.
O FED também anunciou um programa de recompra de títulos na ordem dos 700 bilhões de dólares como medida extra para sustentar a economia americana.
Ainda no comunicado, o presidente do FED, Jerome Powell, afirmou que as taxas permanecerão próximas a zero até que a economia se recupere do choque do coronavírus. Ao que tudo indica, as autoridades monetárias norte-americanas premeditam impactos severos na estrutura econômica do país, especialmente nos setores mais sensíveis ao problema, tais como o setor aéreo, o de viagens e o de eventos.
Após o anúncio, os índices futuros das bolsas americanas (que abrem na madrugada de domingo) atingiram o limite de baixa de 5 por cento e os índices dos principais bolsas da Europa e da Ásia apresentaram fortes baixas. Aparentemente, o mercado não reage mal à atitude do FED em si, mas sim à assimilação de que o coronavírus afetará de forma severa a economia global. Afinal, se o FED “panicou”, por que eu não vou “panicar”?
Por aqui, o limite de baixa do índice futuro do Ibovespa foi acionado já nos primeiros negócios do dia, com queda de 7 por cento com base no fechamento do after-market de sexta-feira (13/mar). No mercado à vista, o Circuit Breaker foi acionado às 10:24, com o índice recuando 12,5 por cento antes mesmo da saída de todas as ações (ex.: Petrobras) do leilão. Após o retorno das negociações, tudo se encaminhava para um segundo Circuit Breaker, com o Ibovespa recuando 14 por cento, mas as perdas foram amenizadas. O Índice, então, recuava 9,6 por cento às 12:05. Às 14:30, o índice trabalhava na casa dos 73.000 pontos, com queda de 11,7 por cento.
Drivers locais
Por aqui, as atenções estão voltadas às reuniões do COPOM desta terça-feira e quarta-feira (17/18 de março). Nelas, serão determinados, entre outros assuntos de condução de política monetária, a manutenção ou alteração do patamar da taxa básica de juros (Selic).
Após o movimento de afrouxamento fiscal dos principais bancos centrais pelo mundo e o crescimento da ameaça de recessão global, o mercado precifica essa tendência no Brasil com cortes adicionais na taxa Selic. Resta saber qual será a sua magnitude (0,25 p.p, 0,5 p.p ou 0,75 p.p) e se a decisão será antecipada para ainda hoje (16/mar).
Além disso, é aguardado também um pacote prometido pelo ministro da economia Paulo Guedes para combater os efeitos de curto prazo na economia doméstica, com destaque para medidas direcionadas aos setores mais diretamente afetados pelo coronavírus (companhias aéreas, empresas de viagem, turismo e eventos).
Também há uma expectativa forte em cima da “criatividade” que a equipe econômica terá para lidar com a questão, visto que, ao contrário dos países de centro, não há espaço para estímulos fiscais em decorrência do teto de gastos.
Por enquanto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) já mostrou suas cartas ao anunciar, na manhã desta segunda-feira (16), medidas para afrouxar a política de crédito: a primeira delas dispensa os bancos de aumentarem a reserva de capital para eventuais calotes. Além disso, o Conselho também decidiu reduzir a exigência dos bancos em manter capital junto ao Banco Central.
Destaque também para o risco-país medido pelo Credit Default Swap (CDS) de 5 anos. Em 17 de fevereiro, o risco-país estava em 94 pontos, no menor patamar desde maio de 2008. Hoje, atingiu 246 pontos: uma alta de 160 por cento em apenas um mês, o que ilustra bem a velocidade da aversão à risco que o mercado adotou nas últimas semanas.
Petróleo segue em queda livre
Dois drivers seguem pressionando o preço do petróleo internacional: a queda na demanda por óleo, movimento natural e de curto prazo devido à retração no nível da atividade economia mundial, e o aumento “irracional” no volume de produção da Arábia Saudita, causando de forma propositada a queda nos preços.
Este segundo aspecto envolve disputas geopolíticas bastante complexas pelo mundo. A Arábia Saudita decidiu inundar o mundo de petróleo como forma de retaliação aos russos por eles não terem colaborado com o bloco dos produtores da commodity, os quais propuseram cortes na produção para atenuar a queda nos preços. Mesmo “perdendo” na jogada, os árabes têm a vantagem de ter o menor custo de extração do “ouro negro”.
Já a Rússia aparenta querer atingir os americanos, que extraem a matéria prima a partir do xisto e com custo mais elevado. Ou seja, embora a queda pareça ser benéfica para os americanos, os Estados Unidos são atualmente exportadores líquidos de petróleo e a derrocada no preço deve mais atrapalhar que ajudar no agregado da economia dos EUA.
Opinião do Gabinete Anticaos
Em um primeiro momento, o mercado reagiu negativamente (com queda nas bolsas mundiais) ao anúncio do corte de juros do FED, mas acreditamos que este movimento é positivo, pois mostra que as autoridades monetárias estão buscando alternativas viáveis para aplacar o impacto do aumento do número de pessoas contaminadas e, principalmente, medidas visando suavizar os impactos na economia mundial.
Confiança é o nome do jogo em um momento de mercado que consiste em uma mistura de pânico e incertezas. E nada melhor que atitudes concretas e transparentes por parte de uma das principais autoridades do mundo (FED nos EUA) para trazer confiança e segurança aos mercados, assim acalmando os ânimos gerais.
Os governos ao redor do mundo estão tomando medidas para evitar a propagação da doença. Já tivemos o adiamento de diversos eventos esportivos e culturais ao redor do globo, como também o fechamento de universidades e escolas.
A visão do Gabinete é que as medidas tomadas não mudarão o momento, mas representam um passo de grande importância. É sempre importante ressaltar: enquanto uma vacina para a doença não for criada, não existe uma “bala de prata” para salvar o mundo em um momento como o atual.
Em suma, a volatilidade nos mercados deverá continuar no curto prazo.
Até breve,
Equipe Levante