
Após 43 longos dias, na noite da quarta-feira (12) o presidente Donald Trump sancionou uma lei de financiamento temporário, encerrando a mais longa paralisação do governo americano da história. Além da retomada de várias atividades e da normalização das relações entre setor público e empresas que fornecem para o governo, o fim da paralisação também permitirá a divulgação de muitos dados econômicos atrasados. Entre eles, números de inflação e de desemprego, essenciais para que o Federal Reserve (FED), o banco central americano, consiga formular sua política monetária.
Até o hiato da paralisação, os investidores estavam atentos a sinais de desaquecimento do mercado de trabalho. Nas últimas semanas de setembro, as declarações de Jerome Powell, presidente do FED, e de diversos diretores do órgão, indicavam que a atenção da autoridade monetária estava mais voltada para o desaquecimento do mercado de trabalho americano, com menos ênfase nos preços, que seguem bastante acima da meta.
Isso mudou um pouco. Segundo o indicador FedWatch, a probabilidade de manutenção dos juros americanos na faixa atual entre 3,75 e 4,00 por cento ao ano subiu para 48,1 por cento nesta quinta-feira ante 37,1 por cento na quarta-feira (12). Há um mês, essa probabilidade era de apenas 4,5 por cento. Já as probabilidades de corte das taxas em 0,25 ponto percentual caíram para 51,9 por cento ante 62,9 por cento na véspera. Há um mês, a expectativa era de 95,5 por cento.
O que isso quer dizer? Para os investidores, a interrupção do fluxo de informações aumentou o risco. Diferentemente do velho provérbio que diz que nenhuma notícia é uma boa notícia (“no news is good news”), neste caso a ausência de números não foi boa. Ao suspender a divulgação dos dados do emprego, o “shutdown” privou os investidores de um insumo essencial para tentar antecipar movimentos futuros do FED.
Navegando às cegas, o mercado embutiu um prêmio de risco nos preços. Não ajuda o fato de que, na reunião do FED do fim de outubro, Powell ter frisado que os investidores não deveriam apostar em novas reduções nas taxas na reunião agendada para dezembro. Ou seja, apesar da boa notícia de encerramento do “shutdown”, os investidores devem encarar a volta gradual à normalidade com uma ênfase mais negativa do que positiva.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros dos principais índices americanos estão praticamente estáveis no pré-mercado, com os investidores esperando os indicadores que serão divulgados nesta quinta-feira para traçar suas estratégias. Não há expectativas formadas sobre os números, o que eleva a volatilidade potencial do mercado. No Brasil, os resultados negativos do Banco do Brasil (BBAS3) referentes ao 3T25 devem pesar sobre o Ibovespa.
Dividendos bilionários e integração concluída marcam o 3T25 da Allos (ALOS3)
A Allos (ALOS3) apresentou um terceiro trimestre sólido, marcado pelo anúncio de um guidance de dividendos robusto e pela consolidação da integração entre as antigas administradoras de shopping. O grande destaque do trimestre foi o anúncio de 1,9 bilhão de reais em dividendos previstos entre dezembro de 2025 e dezembro de 2026 — valor que reforça a capacidade de geração de caixa da companhia e sinaliza confiança do management na sustentabilidade operacional do negócio. O balanço também refletiu um trimestre de crescimento equilibrado, com receita líquida de 663 milhões de reais (+5,2 por cento a/a) e avanço em praticamente todas as linhas operacionais, sustentado por desempenho consistente das receitas de locação e estacionamento, além da expansão das operações de mídia digital.
A receita líquida da Allos atingiu 663 milhões de reais, com avanço de 5,2 por cento na comparação anual, impulsionada pelo crescimento das linhas de aluguel (+6,0 por cento), estacionamento (+10,2 por cento) e serviços (+9,2 por cento). O desempenho no segmento de locação refletiu os reajustes contratuais positivos e renovações de contratos com spreads acima da inflação. As vendas nas mesmas lojas (SSR) cresceram 6,5 por cento a/a, confirmando a boa performance operacional dos ativos e a capacidade de repassar preços em um ambiente ainda desafiador. As receitas de mídia digital também aceleraram (+29 por cento a/a), beneficiadas pela expansão da operação da Helloo em aeroportos, enquanto as receitas de incorporação imobiliária, que haviam contribuído no 3T24, não tiveram impacto relevante neste trimestre. Desconsiderando este efeito, o crescimento orgânico da receita líquida teria sido de 7,4 por cento a/a.
As vendas totais nos shoppings da Allos atingiram 9,9 bilhões de reais, alta de 5,5 por cento a/a, superando o crescimento do varejo nacional e refletindo o bom momento do consumo de serviços e experiências. As vendas por metro quadrado chegaram a 1.925 reais/m², um crescimento de 3,4 por cento em relação ao 3T24, e acumulam alta de 50 por cento desde 2019, equivalente a um CAGR de 7 por cento. A taxa de ocupação encerrou o trimestre em 96,5 por cento, levemente acima do ano anterior. A companhia assinou 241 novos contratos e registrou inaugurações relevantes, como a primeira H&M Home do Brasil, no Parque Dom Pedro (Campinas), e novas lojas da Farm, Sephora e Coco Bambu em shoppings estratégicos. Esses movimentos mostram que os shoppings da Allos seguem como destinos de alto fluxo e relevância regional, sustentando a geração de NOI e a valorização de portfólio.
O NOI atingiu 585,9 milhões de reais, alta de 7,8 por cento em relação ao 3T24, com margem NOI de 93,4 por cento, avanço de 80 bps. O desempenho reflete não apenas o crescimento de receita, mas também uma queda de 8,1 por cento nos custos operacionais. A Allos tem mantido uma disciplina rigorosa na gestão de custos, especialmente após a consolidação das estruturas administrativas e a unificação de sistemas (ERP), que melhoraram os processos de controle. A boa performance operacional se traduziu na expansão das margens e sustentou a geração consistente de caixa, mesmo num ambiente de juros elevados.
O EBITDA ajustado somou 485,6 milhões de reais no trimestre, representando um crescimento de 6,6 por cento a/a e margem EBITDA de 73,2 por cento (+97 bps). Esse resultado foi impulsionado pela combinação de receitas resilientes, custos mais baixos e despesas gerais e administrativas estáveis (114,6 milhões de reais, em linha com o 3T24, mesmo considerando a inflação). Em termos reais, o SG&A apresentou queda de 14,7 por cento em dois anos, reflexo do programa contínuo de eficiência organizacional, que inclui redução de estrutura e revisão de mandatos. Essas iniciativas devem gerar impacto mais significativo a partir do 1T26, com novas rodadas de simplificação operacional e realocação de recursos. No agregado, a companhia segue entregando margens superiores à média histórica.
O FFO totalizou 304,9 milhões de reais (+3,5 por cento a/a), com FFO por ação crescendo 9,0 por cento, refletindo tanto a solidez operacional quanto os efeitos das recompras de ações realizadas desde o final de 2024. A companhia encerrou o trimestre com alavancagem controlada (1,7x Dívida Líquida/EBITDA). A forte geração de caixa permitiu à Allos anunciar um pagamento de 146 milhões de reais em dividendos em dezembro de 2025, além de um guidance mensal de 28 centavos a 30 centavos por ação para 2026, totalizando até 1,9 bilhão de reais em proventos no período.
E Eu Com Isso?
O 3T25 confirmou a força estrutural do modelo de negócios da Allos, que segue combinando crescimento, eficiência e disciplina financeira. A companhia mostrou capacidade de entregar resultados consistentes, com rentabilidade elevada, margens em expansão e portfólio de alta qualidade. Os principais gatilhos de curto prazo incluem a continuidade da redução de custos, o avanço do programa de eficiência e a materialização do guidance de dividendos, que deve sustentar a valorização das ações no curto e médio prazo. Diante de uma execução acima da média, estrutura de capital sólida e portfólio premium com liquidez crescente, mantemos visão construtiva para a Allos, que segue bem posicionada para capturar a retomada gradual do consumo e continuar entregando valor aos acionistas.
Com o ciclo de integração praticamente concluído, a Allos entra em uma nova etapa de crescimento com base sólida para expandir rentabilidade e eficiência. A companhia tem espaço para realavancar o balanço gradualmente, aproveitando o custo de dívida competitivo e a forte conversão de caixa, o que deve permitir ampliar o retorno ao acionista sem comprometer a solidez financeira.
Ações da B3 (B3SA3) avançam 4,3 por cento após divulgar seus resultados
A B3 (B3SA3) divulgou seus resultados financeiros do terceiro trimestre de 2025, refletindo os impactos de um cenário macroeconômico ainda desafiador. A companhia reportou receita líquida de 2,77 bilhões de reais, um crescimento de 2,0 por cento em relação ao mesmo período do ano passado.
O segmento de Mercados, que concentra a maior parte da receita da empresa, somou 1,8 bilhão de reais, praticamente estável na comparação anual.
O principal destaque foi o segmento de renda fixa e crédito, que teve desempenho positivo, com aumento de 15,9 por cento, atingindo 348,9 milhões de reais, enquanto as receitas com empréstimo de ativos se destacaram, crescendo 20,9 por cento no período, para 76,8 milhões de reais.
No lado das despesas, a B3 contabilizou 841 milhões de reais, alta de 1,2 por cento em relação ao segundo trimestre de 2024. Com isso, o EBITDA recorrente atingiu 1,72 bilhão de reais, representando um aumento de 1,7 por cento na base anual.
A margem EBITDA recorrente foi de 69,5 por cento, abaixo dos 70 por cento registrados no mesmo período do ano passado.
O lucro líquido da companhia somou 1,26 bilhão de reais, com avanço de 2,6 por cento na comparação anual, em um cenário ainda conservador para o mercado de capitais.
Apesar da entrega de resultados sólidos no trimestre, as ações da B3 seguem negociadas a múltiplos considerados exigentes no cenário atual.
O papel apresenta um índice Preço/Lucro (P/L) de 15 vezes e uma relação EV/EBITDA de 10,3 vezes, patamares que indicam um valuation relativamente elevado em comparação ao restante do mercado brasileiro, especialmente diante de um ambiente de juros ainda altos e atividade moderada no mercado de capitais.
No entanto, apesar dos números neutros, o avanço dos papéis da B3 e seu valuation diferenciado ocorre porque parte do mercado acredita que o volume de ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo potencialmente poderia dobrar à medida que as taxas de juros diminuem.
Essa modificação no ambiente de juros tem o potencial de impulsionar tanto a linha de receitas quanto os lucros da B3. Com essa expectativa, as ações da Bolsa brasileira seguiram em destaque no pregão de ontem.
E Eu Com Isso?
No entanto, esse múltiplo também tem potencial de limitar o potencial de valorização no curto prazo, mesmo com a elevada rentabilidade da companhia.
Nos últimos doze meses, a B3 acumulou um lucro líquido de 4,85 bilhões de reais e manteve um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 24,4 por cento, o que evidencia sua elevada rentabilidade e forte capacidade de geração de caixa.
A B3 segue exposta à sensibilidade macroeconômica, com suas receitas correlacionadas ao apetite por risco e à atividade no mercado de capitais, fatores que ainda estão limitados por um ambiente de juros elevados e incertezas econômicas.
Embora reconheçamos a consistência operacional e a resiliência da companhia, entendemos que o atual patamar de preços já embute grande parte das perspectivas positivas, reduzindo a margem de segurança para novas entradas.
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