O mercado continua numa gangorra de expectativas. Tivemos mais uma semana de momentos de alívio por declarações de Jerome Powell no sentido de um pouso suave da economia americana, mesmo com o aperto da política monetária, revertidos com muita rapidez pela sinalização, também do presidente do FED, da possibilidade não descartada de aumentos mais intensos, caso não se visualize um abrandamento da inflação rumo à meta de 2%. Como pressões inflacionárias têm sido renovadas, a possibilidade de ajustes mais pesados nos juros não pode mesmo ser desconsiderada.
O cenário ainda é de muita volatilidade dos preços das commodities, por fatores como a guerra entre Rússia e Ucrânia e os problemas para a comercialização e embarque de mercadorias, especialmente alimentos; os embargos dos países ocidentais contra Putin, com consequências, principalmente para gás e petróleo,mas agravando a falta de insumos; e a política de lockdown da China, para controle da Covid, com implicações sobre a demanda, que efeito baixista sobre os preços, mas também agravando o desequilibrio da cadeia global de insumos e peças. São fatores que, além de deixar mais incertos os movimentos de preços também trazem dúvidas quanto ao ritmo de atividade, em meio às correções de rota de política monetária. No final das contas, o mundo está convivendo com riscos de estagflação. E todo esse cenário tem produzido movimentos mais extremos de aversão ao risco, com dias de quedas acentuadas das Bolsas e aumento da pressão no câmbio.
O Brasil sente os reflexos desses movimentos com volatilidade maior dos ativos, mas até com descolamentos pontuais, pelas oportunidades que oferece para os investidores, com os juros elevados e oportunidades ligadas às commodities. Aliás, as commodities têm colaborado para a melhora das expectativas de atividade no curto prazo, assim como as medidas de estímulo do governo. Mas o País ainda deve sentir um impacto mais pesado da alta dos juros, no controle da inflação que ainda se mostra muito persistente. Houve alívio no IPA dos IGPs, justamente por uma maior acomodação recente de algumas commodities. Só que no varejo a disseminação dos aumentos segue em alta. E até o frio intenso no outono pode reforçar pressões de preços, com comprometimento de lavouras, trazendo novas altas para o grupo alimentação.
Só a questão das commodities já traz consequência distintas que aumentam incertezas. O aumento dos preços garante maior retorno financeiro para as exportações e reforça a atividade além de assegurar oportunidades de investimento. Só que se os preços seguirem em alta vão pesar mais na inflação, piorando as perspectivas de atividade.
Continuamos tendo uma inflação muito do lado da oferta, cujo controle, via aumento dos juros, poderá prejudicar a demanda. Sendo que a própria inflação também é um limitador da demanda pelo impacto negativo no poder de compra.
A intenção do Banco Central parece ser de interromper logo o ciclo de alta dos juros, possivelmente quando a Selic chegar nos 13,25%. Mas pode ir além, tanto pela dificuldade de produzir desinflação e convergência das expectativas para as metas, como por um aumento além do esperado dos juros no exterior, especialmente nos Estados Unidos.
Enfim, é a tal gangorra das expectativas que eu citei. Cada dia novos fatos, novas reações, mudanças de expectativas, em um cenário dos mais incertos aqui e no exterior.
Nesse contexto ainda temos no âmbito doméstico as preocupações com o ambiente político, intervencionismos como os relacionados aos combustíveis e energia, as questões fiscais e embates institucionais. Têm sido temas recorrentes que podem continuar influenciando as análises macroeconômicas e decisões de investimento ainda por um bom tempo. Mas oportunidades surgem mesmo num contexto de alta imprevisibilidade. A aprovação da privatização da Eletrobrás foi uma das boas novidades da semana, apesar de desafios que o processo ainda possa ter pela frente.