Um Copom mais cauteloso: a nova taxa de juros agora é 4,25 por cento
A decisão anunciada às 18 horas da quarta-feira (5) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou uma expectativa e trouxe algo inesperado. A expectativa confirmada foi o corte de 0,25 ponto percentual na taxa referencial Selic, que foi reduzida para 4,25 por cento ao ano. Até aí, nenhuma surpresa. Desde a primeira semana de janeiro, Roberto Campos Neto, presidente do BC, vinha sinalizando ao mercado que os juros poderiam cair. E quase todos os bancos entenderam o recado. Ninguém esperava, às vésperas da reunião, que os juros permanecessem estáveis.
No entanto, algumas casas esperavam que o Comitê deixasse as portas abertas para novas reduções, se a economia não desse sinais de retomada. Porém, o comunicado divulgado pelo Copom após a reunião foi claro ao afirmar que os juros só vão voltar a cair se houver indicações fortes de desaquecimento da economia. Ou, nas palavras do próprio Comitê: “o Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária.”
O mais importante foi uma declaração que veio atrasada. Demorou, mas o Copom percebeu a importância de longo prazo da queda estrutural dos juros. No comunicado, o Comitê reconheceu que o risco de alta da inflação “se intensifica com as mudanças na intermediação financeira e no mercado de crédito e capitais”, decorrentes da queda dos juros.
A expectativa agora é que o BC mantenha a Selic em 4,25 por cento até o fim do ano, exceto se houver um desaquecimento da economia além do esperado. Como o Copom mede suas palavras em frações de milímetro, é importante notar que o comunicado diz que é adequada a “interrupção” da queda dos juros. Se, em vez de “interromper”, o comunicado trouxesse a palavra “finalizar”, seria uma confirmação de que as taxas não subiriam mais. No entanto, ao optar por uma “interrupção”, o comitê deixa uma abertura para mudar de ideia se for necessário. Para mais detalhes, é preciso esperar a ata da reunião, que será divulgada na manhã da terça-feira, dia 11.
No curtíssimo prazo, porém, esta quinta-feira (6) deverá ser um dia de ajuste no mercado futuro de juros. No fim dos negócios na quarta-feira (5), as taxas dos contratos de DI futuro caíram e fecharam nas mínimas do dia. Os contratos vincendos em janeiro de 2021 caíram para 4,29 por cento ante 4,295 por cento na véspera, e os contratos mais longos, com vencimento em janeiro de 2027, recuaram de 6,41 por cento para 6,39 por cento. A expectativa é de uma alta das taxas neste pregão.
A oferta subsequente (follow-on) das ações ordinárias da Petrobras (PETR3) realizada pelo BNDES foi um sucesso. O banco estatal levantou 22 bilhões de reais com a venda. Os papéis foram precificados a 30 reais no Brasil, com deságio de 1,6 por cento em relação ao fechamento. Os American Depositary Shares (ADS) negociados na bolsa de Nova York foram vendidos a 15,16 dólares. A demanda foi grande, e correspondeu ao triplo do valor da oferta. Ao todo foram vendidas 734,2 milhões de ações. Foi a maior oferta de ações de uma empresa brasileira desde os 70 bilhões de dólares captados pela própria Petrobras em 2010 (leia mais abaixo).
A decisão do Copom pode provocar uma dose de volatilidade no pregão desta quinta-feira, mas, ao estabelecer os parâmetros para os próximos meses, a estabilidade na Selic deve facilitar a migração de recursos dos investidores domésticos da renda fixa para a renda variável.
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