Denise Campos de Toledo EECI

Sinais de resistência econômica | Denise Campos de Toledo

A economia brasileira tem mostrado uma resistência maior que se previa. No auge da segunda onda da pandemia, com novas restrições de atividade se espalhando pelo País, se chegou a falar em uma recessão técnica, com retração do PIB no primeiro e no segundo trimestre, provocada, principalmente, por tombos mais fortes em março e abril. Mas não é o que estão mostrando os indicadores. Indústria, comércio e serviços até deram uma freada em março sobre fevereiro, mas bem menos intensa do que o esperado.

O IBC-Br, a prévia do PIB do Banco Central, acabou reforçando essa tendência mais favorável. Houve queda de -1,6% em março sobre o mês anterior. As projeções apontavam até -3,5%. Sobre março do ano passado, ainda que se considere a base de comparação muito fraca, já que foi o começo da pandemia com restrições muito mais pesadas, o IBCBr avançou +6,26%. Também melhor que o esperado.

Isso já estabelece perspectivas melhores para os indicadores que vão vir de abril. Além de não se esperar mais tanto impacto de medidas restritivas, que até começaram a ser flexibilizadas, foi o mês em que auxílio emergencial voltou a ser pago. Apesar de bem mais restrito que em 2020, ajuda a dar algum impulso ao consumo.

Diante desse cenário, já há uma revisão para melhor do fechamento deste ano. Claro que há divergências. De um lado, os mais otimistas, até pelo esperado avanço da vacinação, já vêm a expansão do último trimestre fazendo o PIB retornar ao patamar pré pandemia. O cenário externo reforça essa visão, diante da reação de economias como a China e Estados Unidos.

Os mais cautelosos, para não dizer pessimistas, lembram que o país ainda está bem atrasado na vacinação, não tem os mesmos pacotes de estímulo econômico, até por um desequilíbrio fiscal preocupante e outros problemas estruturais da economia, que podem atrasar uma retomada mais firme dos investimentos.

Além disso, a própria recuperação das economias desenvolvidas, incluindo a Europa, pode trazer dificuldades adicionais, com possível antecipação da alta dos juros, mexendo com o fluxo de capitais. Sendo que o Brasil já tem de oferecer prêmios de risco maiores, pelas incertezas da conjuntura doméstica. Incertezas que também envolvem o contexto político, com a CPI em andamento e a proximidade das eleições de 2022.

Do ponto de vista do mercado, todos esses fatores podem produzir muita volatilidade, embora a elevação dos juros, pelo Banco Central, venha colaborando no sentido inverso, reduzindo a pressão sobre o câmbio e a curva de juros.

Por outro lado, a alta das commodities e as perspectivas de reação da atividade ajudam a impulsionar a Bolsa. Não se pode ainda deixar de lado os impactos do mercado externo, a já citada apreensão com possíveis reversões das políticas de juros, que também têm sido motivo para ondas de instabilidade. Não é apenas uma questão de fluxo de investimentos.

Considerando apenas o andamento da economia, o que se constata é uma resiliência, porque não dizer resistência mesmo, bem maior que se pressupunha, não só em relação aos efeitos pandemia, onde diversos programas deram um reforço importante, mas também por todos os problemas citados, alguns bem antigos, estruturais, que ainda deixam o futuro mais incerto.

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