Tivemos uma semana de agenda relevante, com algumas mudanças de expectativas que podem influenciar o andamento do mercado. Começando pelo âmbito doméstico temos em aberto a questão do corte dos tributos sobre os combustíveis, que vai de uma proposta mais moderada, apenas para o diesel, com custo de cerca de R$ 18 bilhões, até a do “fim do mundo” com isenções e outros benefícios que podem elevar o rombo para mais de R$ 100 bilhões, passando por algumas ideias de mais longo prazo, como a criação de um fundo de estabilização, para amortecer as pressões sobre os preços. Fato é que há uma tentativa de se obter resultados mais imediatos, que nos remete a interesses políticos pela proximidade das eleições, ampliando as preocupações quanto ao que ainda poderemos ter de aumento de gastos com o mesmo objetivo. É certo que a inflação preocupa, pesa no poder de compra e afeta o potencial de expansão da economia. Mas é bom não esquecer que menor responsabilidade do lado fiscal, ainda que produza algum resultado como a queda pontual dos preços dos combustíveis, pode acabar gerando mais pressões inflacionárias, ao mexer negativamente com as expectativas.
Esse alerta veio até na ata da reunião do Copom, cujos integrantes têm dado recados mais firmes quanto à importância da responsabilidade fiscal e o quanto isso pode influenciar o cenário prospectivo para a inflação e a própria política de juros. Inclusive, por essa questão, a ata mexeu com as previsões de uma política monetária menos apertada. O ritmo de elevação da Selic deve diminuir, como foi sinalizado no comunicado do último aumento, para 10,75% ao ano. Mas ao trabalhar com um possível estouro da meta também neste ano, diante da previsão do IPCA em 5,4%, e projeções acima do ponto central em 2023, o BC indica que o ciclo de ajuste pode ser mais prolongado, com os juros básicos chegando a um patamar acima do que vinha sendo projetado.
Essa indicação mais hawkish ainda ganhou o reforço do IPCA de janeiro. A alta de 0,54% bateu com as expectativas, só que a disseminação maior dos aumentos trouxe mais incertezas quanto a evolução da inflação, que ainda pode ter mais pressões de fora, como a alta do petróleo, e internas, como a quebra de safras por fatores climáticos. Mais pressões num ritmo fraco de atividade, que pode melhorar em alguns segmentos, como Serviços, ainda afetados pela pandemia, que é um onde já se nota mais aumentos por recomposição de preços.
Por mais que o BC queira evitar impactos mais abruptos sobre a economia e tenha preocupações até com o emprego, como ressaltou na ata, a Selic pode chegar a 12,5% nesse ciclo mais longo de ajustes. O que não colabora para expectativas mais favoráveis quanto ao PIB deste ano, mesmo que o de 2021 não tenha fechado tão ruim como se esperava na virada do ano.
Neste cenário ainda é importante lembrar das questões externas. Já citei o petróleo como um problema a mais no controle da inflação, mas ainda tem as mudanças nas políticas dos bancos centrais, também influenciadas por preocupações crescentes com a inflação, em meio às dúvidas quanto ao desempenho das economias. A inflação nos Estados Unidos continua surpreendendo, reforçando a expectativa de maior aperto dos juros. Mas ainda se nota uma certa vacilação do FED em promover ajustes mais pesados. De qualquer modo, estamos perto do início do ciclo de elevação das taxas, que deve começar em março.
O mercado local ainda segue favorecido pelo fluxo positivo de recursos, pela previsão de alta das commodities, refazendo as projeções, principalmente, quanto à inflação e os juros, na expectativa de uma gestão fiscal que não traga mais instabilidade para o cenário de 2022, já bastante desafiador.
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