Em meio às polêmicas tramitações do projeto das fake news e de mudanças no marco do saneamento, além das operações da Polícia Federal referentes à falsificação de atestados de vacina, envolvendo o ex-presidente Bolsonaro, na economia seguimos com indefinições. Tivemos uma semana de decisões sobre os juros no Brasil, nos Estados Unidos e na Zona do Euro que deixaram meio em aberto os futuros passos de política monetária.
O Federal Reserve manteve um ritmo mais fraco de elevação dos juros, de 0,25, na décima alta seguida. No comunicado, deu a entender que pode dar uma parada, ao excluir do texto a menção sobre apertos adicionais. Mas o presidente da instituição, Jerome Powell, tratou de esfriar um pouco essa expectativa mais otimista, ao dizer que nada foi decidido sobre se terá ou não novo aperto na próxima reunião. Ainda houve preocupação em trazer mais tranquilidade quanto à situação bancária, especialmente dos bancos regionais, garantindo pronta atuação das autoridades em caso de problemas. O mercado deve continuar atento aos indicadores de atividade e do emprego, para tentar antecipar futuras decisões, sabendo da resistência da inflação em caminhar com mais rapidez para a meta de 2%.
Por aqui temos situação parecida no que diz respeito à resistência da inflação. O Copom manteve a Selic nos 13,75%, sem novidade, mais uma vez demonstrando preocupação com as projeções do IPCA, a não convergência para as metas e a incerteza quanto às novas regras fiscais, que ainda terão de passar pelo Congresso.
Embora o comunicado do Comitê tenha sinalizado que a aprovação do arcabouço não deve provocar corte imediato dos juros, sabemos que se as novas regras estabelecerem perspectivas melhores para as contas públicas, podem favorecer uma queda das projeções de inflação, deixando o cenário mais propício para reduções da Selic. Ainda vamos conferir na ata da reunião mais detalhes sobre a avaliação de cenário do Copom. Por enquanto, as previsões ainda são de cortes só no segundo semestre e, talvez, apenas na reunião de novembro.
Vale ressaltar que toda a chiadeira política em torno dos juros joga contra a possível antecipação dos cortes, na medida em que gera o receio de intervencionismos, através, por exemplo, de ações contracíclicas dos bancos públicos, mudanças nas metas pelo CMN ou mesmo propostas de alteração na autonomia do Banco Central. Ainda que não haja espaço político pra isso, falas da base do governo defendendo a demissão, impedida pela legislação, de Roberto Campos Neto, causam ruídos.
Por outro lado, considerando as condições políticas, as dificuldades de articulação do governo, é possível que acabe havendo maior aperto nos gastos públicos, o que seria favorável do ponto de vista das expectativas fiscais. Estão em discussão a introdução de gatilhos para contenção de gastos e a cobrança de maior compromisso do governo no cumprimento das metas. Mudanças que ajudariam a melhorar as perspectivas quanto aos efeitos do novo arcabouço, ajudando, como ressaltei também do lado das projeções para a inflação.
Mas tudo isso ainda são suposições. Seguimos no aguardo de maiores definições e não só de promessas e intenções quanto à política econômica. Nesse contexto, importante observar. ainda temos iniciativas trazendo mais incertezas, como as propostas para aumento de arrecadação paralelamente a outras que podem prejudicar o resultado das contas, como o reajuste do salário mínimo, do funcionalismo e aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda. Medidas que podem ser necessárias, mas reforçam as dúvidas quanto ao cenário fiscal.
Quanto aos investimentos, ficam mantidas boas oportunidades de ganho na renda fixa, com juros reais em alta. Já a Bolsa, além das incertezas do cenário macroeconômico, ainda está sob influência da safra de balanços, que devem ser observados com muita atenção.