Uma das maiores companhias de alimentos básicos do país, a Camil (CAML3) apresentou seus resultados referentes ao primeiro trimestre safra da companhia, de março a maio, na noite desta quarta-feira (07), após o fechamento de mercado.
A companhia foi capaz de repassar boa parte da forte alta dos insumos agrícolas no período, com crescimento de 2 dígitos na Receita Líquida, porém as margens ainda seguem pressionadas, com a alta de custos superando ligeiramente a alta de preços de venda.
Os principais destaques do resultado foram:
i) Aumento de volume no Brasil acima dos níveis do 1T20, quando houve uma corrida aos supermercados para abastecimento de insumos básicos pelas famílias, no período inicial da pandemia.
O volume total no Brasil cresceu 5,7% na comparação anual, com destaque para o segmento de Feijão (14,3%) e Pescados (22,6 %).
O volume total, porém, (Brasil + Internacional) decresceu 6,2% na comparação anual, com forte decréscimo de volume no Uruguai (menos 32,1%) e no Peru (menos 37,5%), com falta de insumos no Uruguai gerando uma redução na oferta e efeitos da segunda onda da pandemia mais severa no Peru.
ii) Receita Líquida total cresceu 30,5% na comparação anual, majoritariamente pela alta forte de preços de venda, alcançando R$ 2,25 bilhões neste tri contra R$ 1,73 bilhão no 1T20.
iii) O Lucro Líquido se manteve praticamente estável em números absolutos, com leve redução de 1,2% em relação ao ano anterior, registrando R$ 108,2 milhões neste trimestre.
A margem líquida caiu de 6,3% para 4,8%. Apesar da forte alta da receita, a compressão de margem bruta (de 23,2% para 19,8% no 1T21), teve impactos relevantes na linha final.
E Eu Com Isso?
O resultado apresentado pela companhia empolga pouco, com o segmento de alimentos básicos ainda sofrendo com a forte alta de matérias-primas.
O efeito do auxílio emergencial no Brasil no crescimento do volume de consumo de alimentos básicos fica muito claro, com o 4T20 (dezembro a fevereiro), apresentando queda de volume relevante em relação aos períodos nos quais o auxílio estava ativo.
Esperamos um impacto negativo nas ações da companhia (CAML3) no curto prazo, principalmente pela demonstração de fragilidade das margens, com poder de repasse de preços insuficientes, mesmo com a companhia possuindo um posicionamento mais premium em relação à concorrência.
A Camil atua majoritariamente no Brasil, com operações relevantes no Chile, Peru e Uruguai, todos os países nos quais a renda média das classes mais baixas sofreu com a pandemia, justamente o público com os maiores volumes de consumo em termos absolutos.
A dependência de estímulos de classes mais baixas para seguir crescendo no volume de vendas deixa uma perspectiva pouco animadora para a companhia nos próximos meses que, apesar de uma possível recuperação no mercado internacional (que possui margens maiores que o Brasil), o cenário de alta taxa de desemprego e fim do auxílio daqui alguns meses, deixa pouco espaço para crescimento da companhia.
Uma outra perspectiva é o retorno mais forte da alimentação fora de casa, com o avanço da vacinação e também um gradual retorno dos empregos e rendas informais, além de um arrefecimento nos preços das commodities no médio prazo que, combinados, podem favorecer o balanço da companhia, porém não enxergamos este cenário tão breve.
No mais, a companhia mantém uma alavancagem financeira saudável e segue com fluxo de caixa livre positivo.
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