Nesta quinta-feira (1/abr) o presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil, Hélio Magalhães, entregou sua carta de renúncia. A motivação para deixar o cargo, segundo o documento, foi o “reiterado descaso” do governo com a instituição financeira e demais estatais de capital aberto, além disso, também disse que a melhoria de eficiência e venda de ativos “não são mais de interesse do acionista majoritário” (no caso, o acionista majoritário é o governo federal).
Além de Magalhães, o conselheiro independente José Guimarães Monforte renunciou na mesma tarde. Ambos haviam sido indicados pela União. Monforte também era conselheiro da Eletrobras, porém renunciou há cerca de três meses, alegando “motivos pessoais”. Desta vez, no entanto, o ex-conselheiro foi mais incisivo em sua carta de renúncia e alegou “restrição inaceitável a atos da administração” e retrocesso na governança das estatais.
Após as mudanças na gestão do BB, ambos já tinham a expectativa de não serem reconduzidos como conselheiros, no entanto optaram por se desligar da instituição antecipadamente em sinal de protesto.
Magalhães deixou claro em sua carta que o governo, em sua visão, mostrou desrespeito a governança corporativa do banco. “Como exemplo, cito as interferências externas na execução do plano de eficiência da companhia aprovado por esse Conselho e obviamente necessário para adequá-la aos novos tempos e desafios do setor”.
Monforte também deixou claro suas críticas em sua renúncia, atribuindo sua saída à interferência do governo à gestão do banco, impedindo “efetivar medidas que visam realizar avanços na direção de ganhos de eficiência, em ambiente competitivo de elevada intensidade”.
Ambas as demissões colaboram para aumentar o ambiente de crise e desconfiança dos investidores quanto à independência do Banco do Brasil, que cada vez parece mais distante.
E Eu Com Isso?
Esperamos que a notícia da renúncia de ambos os conselheiros e especialmente os motivos descritos nas cartas devem impactar negativamente o preço das ações do banco (BBAS3) no curto prazo.
Em 2021 as ações do Banco do Brasil (BBAS3) acumulam desvalorização de 21,2 por cento, comparado à queda de 3,2 por cento do Ibovespa no período. A ação do Banco do Brasil apresentou desempenho mais negativo do que os outros grandes bancos (Itaú, Bradesco e Santander), em nossa visão refletindo a desconfiança do mercado quanto à ingerência do governo na empresa.
Em fevereiro, o banco anunciou um plano de melhoria de eficiência que incluía, entre diversos outros pontos, fechamento de diversas agências e programa de demissão voluntária. As medidas, consideradas impopulares, geraram atrito com o governo federal que por sua vez cogitou demitir o, então, CEO, André Brandão, dando início a uma desconfiança por parte do mercado de que o estado poderia intervir na gestão da empresa.
Cerca de um mês após os acontecimentos, o presidente André Brandão renunciou ao cargo, com isso a União escolheu Fausto Ribeiro, atual presidente do BB Consórcios, para assumir a liderança da estatal. No entanto, a escolha do nome não envolveu os membros do Conselho de Administração, algo que não é obrigatório, porém é uma tradição, gerando desconforto quanto a governança. Além disso, diversos membros do conselho julgaram Ribeiro despreparado para assumir o cargo por não ter a experiência necessária.
Desde o anúncio das medidas de melhoria de eficiência, que provocaram uma reação do Poder Executivo, vínhamos escrevendo que o foco do banco havia mudado. É importante ressaltar que André Brandão e os outros dois ex-conselheiros foram indicações do atual governo e vieram para o banco com uma promessa de modernização da gestão.
Nós enxergamos que eles estavam conseguindo implementar aquilo que lhes foi proposto quando aceitaram as indicações, porém foram surpreendidos com uma ruptura do governo federal quanto a postura de melhoria da eficiência e governança das estatais.
A forma como ambos os conselheiros deixaram o cargo também fala muito sobre o novo posicionamento por parte da União quanto às empresas estatais, mudando o perfil das lideranças priorizando o alinhamento político em detrimento das qualificações técnicas.
Acreditamos que os principais catalisadores para as ações do Banco do Brasil passam principalmente por venda de ativos e melhoria de eficiência, a participação ativa e as justificativas dos conselheiros em sua renúncia nos levam a crer que movimentos nesses sentidos não devem ocorrer no curto-prazo.
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