A lei da oferta e da demanda é uma das poucas que nunca foi questionada pelos economistas e formuladores de política econômica (os que tentaram se deram conta disso em pouco tempo). Por isso, é preciso analisar com cuidado o comportamento dos preços do petróleo na terça-feira (23).
Apesar de os governos de diversos países, incluindo Estados Unidos, China, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e Índia, terem anunciado a liberação de reservas estratégicas do produto no mercado para fazer frente à pressão de alta nos preços, as cotações subiram.
As cotações tanto do barril do petróleo do tipo Brent (que baliza os preços da Petrobras) quanto do barril do tipo WTI (West Texas Intermediate), indicador do mercado americano, subiram 81 centavos de dólar, algo como 1%.
Como explicar que os preços subiram apesar de uma expectativa de aumento da oferta? Não, a lei da oferta e da procura não foi temporariamente revogada. A justificativa para esse movimento atípico tem três momentos.
Primeiro: nas últimas semanas, o movimento de preços do petróleo tem sido de alta devido à expectativa de normalização da economia e do aquecimento da demanda.
Segundo: essa valorização se interrompeu há poucos dias devido ao ressurgimento de casos da Covid em países da Europa e à retomada das medidas de isolamento, confirmada na Áustria e na Holanda, e em discussão na Alemanha.
E terceiro, a decisão indica que os governos acreditam em um retorno da escassez do produto, tanto que estão liberando seus estoques estratégicos de maneira coordenada. Isso serviu como um indicador que a oferta do petróleo será incapaz de suprir totalmente a demanda por um bom tempo.
Há boas razões para isso. O petróleo é um dos produtos cujo ciclo é mais longo devido à intensidade de capital. A maturação dos investimentos é lenta. Entre a suspeita de existência de óleo em uma jazida e o frentista abastecendo um veículo podem se passar quase dez anos.
Por isso, quedas nos investimentos para prospecção e exploração afetam a produção anos depois. Em meados da década passada, o petróleo perdeu ainda mais prestígio devido à sua pegada de carbono e ao aquecimento global, o que restringiu os investimentos.
Agora, alguns países – especialmente produtores “jovens” no Norte da África – estão tendo dificuldade em entregar o esperado. E, para pressionar ainda mais o mercado, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e a Rússia, conhecida como Opep+, não tem pressa em fazer a produção retornar aos níveis anteriores à pandemia para manter os preços altos e ganhar mais dinheiro.
Ou seja, apesar de todo o discurso ambiental e de geração de energia verde, a demanda pela commodity vai bem, obrigado, e os preços deverão permanecer pressionados por bastante tempo.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros de Ibovespa iniciam a sessão em baixa após a valorização da véspera, que foi motivada pela alta das ações da Petrobras.
A sessão deve ser marcada por forte volatilidade, com os investidores à espera de indicadores importantes da economia americana, como o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre e as Minutas da reunião mais recente do Fomc (Federal Open Market Committee), o Copom americano.
As notícias são negativas para a bolsa em um cenário de volatilidade.
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