Em uma teleconferência realizada com investidores nesta quinta-feira (26), Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras (PETR3, PETR4), anunciou um pacote de medidas para fazer frente à queda dos preços do petróleo e aos impactos do coronavírus.
A companhia anunciou um corte na produção de petróleo de 100 mil barris diários até o fim de março, em função do excesso de oferta do produto no mercado externo e pela redução da demanda mundial causada pelos efeitos negativos da covid-19 na economia mundial.
A empresa também anunciou um corte de 29 por cento nos investimentos em 2020, o investimento será reduzido para 8,5 bilhões de dólares em 2020.
O presidente da estatal afirmou que não espera por uma recuperação significativa do preço do petróleo. Segundo ele, a empresa está sendo preparada para lidar com um barril abaixo dos 25 dólares e não mais a 40 dólares. Atualmente, o petróleo tipo Brent negocia próximo aos 27 dólares/barril.
Conforme já previamente identificado pela Levante, Castello Branco disse que o cenário de baixa dos preços do petróleo afeta o programa de venda de ativos da empresa. A surpresa, porém, é que Petrobras anunciou que continuará em frente com seu programa de desinvestimentos, com destaques para as refinarias.
Por último, a companhia anunciou o adiamento do pagamento de dividendos de 1,7 bilhão de reais aos seus acionistas: de 20 de maio para 15 de dezembro de 2020. A Assembleia Geral Ordinária foi reagendada de 20 para 27 de abril.
O cenário do baixo preço da commodity é cada vez mais provável diante da falta de um acordo entre Arábia Saudita e Rússia. Essa situação é com certeza negativa para a empresa. Porém, o pronunciamento de ontem pode causar um certo alívio no curto prazo no preço das ações diante de novos direcionamentos considerando este cenário.
A queda no preço do petróleo de 3,5 por cento e o índices futuros das bolsas americanas em território negativo na manhã desta sexta-feira deverão trazer impacto negativo no preço da Petrobras.
Segundo Castello Branco, a companhia ainda não viu nenhum sinal de desinteresse dos potenciais compradores pelos ativos à venda. A diretora de refino e gás natural, Anelise Lara, endossou dizendo que não acredita que as refinarias serão desvalorizadas. Porém, nossa visão é de que certamente haverá algum impacto e que o processo deverá demorar mais do que o esperado.
Não bastasse a despencada do petróleo, o movimento de quarentena nacional tem causado grande queda na demanda por gasolina mesmo diante da redução do preço do combustível nas refinarias. Entretanto, a redução no preço da gasolina ainda não chegou ao consumidor final na bomba nos postos de combustível.
Segundo Castello Branco, o preço da gasolina nas refinarias já caiu 40,5 por cento este ano e a empresa pode discutir outras reduções de preço do produto. No caso do diesel, a queda é um pouco menor, porque ainda há demanda expressiva do agronegócio.
A solução ideal para a Petrobras seria o preço do petróleo voltar ao patamar de pouco mais de um mês atrás quando ainda negociava próximo aos 60 dólares/barril. Porém, isto parece cada vez mais improvável e a diretoria da petroleira sabe disso.
O pacote de medidas ajuda, mas não há como negar que a combinação de queda no preço do petróleo e covid-19 tem um impacto sobre a empresa que não como ser sanado no curto prazo, apenas minimizado.
A tempestade não deve durar para sempre. A empresa ainda está em processo de transformação e o longo prazo da empresa parece promissor. Porém, a previsão no curto prazo é de mar agitado nas plataformas da Petrobras.
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