O mercado tem sentido efeitos contrários do atual cenário e das oscilações de expectativas. Enquanto a Bolsa avança, até resistindo às pressões externas, no embalo da volta do capital externo, o dólar, mesmo com o aumento do fluxo de recursos, sente os efeitos das preocupações com propostas populistas de Lula e Bolsonaro, que podem comprometer mais o quadro fiscal, e as incertezas quanto aos futuros ajustes dos juros nos Estados Unidos.
A economia americana tem dado sinais contraditórios em relação à atividade e as consequências para a inflação. Enquanto alguns indicadores e até o PIB mostram perda de vigor, o desemprego continua baixo, pressionando os salários. A inflação, mesmo com alguns fatores positivos, como a recente queda do preço da gasolina, permanece muito acima da meta de 2%. E há dúvidas até com relação ao petróleo. A esperada desaceleração global, inclusive da China, vem derrubando os preços das commodities, em geral. Só que o petróleo oscila junto com os dados de estoque e oferta, além de possíveis acordos com produtores, especialmente o Irã. Mas as estratégias da Rússia e embargos exercem pressões altistas. Enfim, até os comunicados do FED não dão indicações mais consistentes quanto à manutenção de alta mais forte dos juros, em 0,75 na reunião de setembro, ou se a dosagem poderá ser menor. Situação que leva a movimentos de proteção e pressão no câmbio.
Já em relação ao Brasil, o investidor estrangeiro quer aproveitar as boas oportunidades de Bolsa, depois de o Ibovespa cair abaixo dos 100 mil pontos. Isso, independentemente de uma possível desaceleração do crescimento daqui para 2023, por efeito dos juros altos e do cenário externo menos favorável, com a queda de preços de commodities podendo impactar as receitas de vários setores, além da arrecadação tributária, com impactos até na entrada de recursos, via comércio. O investidor externo também parece menos preocupado com riscos relacionados às eleições, no que se refere ao potencial de problemas institucionais. As cartas em defesa da democracia e o evento de posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE, com presença, inclusive de embaixadores, mostrou a dificuldade de um não reconhecimento do resultado das urnas, seja qual for. Não se pode descartar manifestações de apoiadores, o 7 de setembro gera apreensão, assim como o que pode acontecer entre o primeiro e segundo turno. Mas fica a percepção que, mesmo que ocorram tumultos como nos Estados Unidos, na eventual vitória de Lula, o resultado será reconhecido aqui e no exterior e vida que segue, com todos os desafios impostos pelo atual cenário macroeconômico interno e externo.
De qualquer modo, ficam as preocupações com o fiscal. Os gastos adicionais com auxílios concedidos agora; desonerações; promessas de campanha, como a correção da tabela do Imposto de Renda; o reajuste do Judiciário decidido pelo STF, que já mobilização outras categorias, do Legislativo ao funcionalismo, que viu frustrada a mobilização por aumentos neste ano. Nesse contexto ainda é preciso incluir as pressões do Parlamento em torno das emendas do relator, já incluídas na LDO, e a disposição pelo fim do teto de gastos, sem proposta mais confiável, por enquanto, para novas restrições legais ao aumento irresponsável de despesas.
No comportamento do mercado ainda vale observar a menor pressão na curva de juros, talvez, sem necessidade de a Selic chegar aos 14%. A deflação de alguns índices, decorrente do corte do corte do ICMS e da queda de commodities, já derruba as projeções do IPCA, deste ano, abaixo dos 7%. Problema ainda é a expectativa de inflação acima do teto em 2023, o que antecipa a manutenção de juros elevados por mais tempo, até que haja uma convergência das expectativas para as metas, o que já inclui a de 2024.
Para os investidores essa mudança das expectativas em relação aos juros recomenda maior cautela e planejamento entre as aplicações pré e pós fixadas. Os juros devem permanecer altos, mas sem possibilidade de avanço maior. Em relação à Bolsa e ao câmbio é recomendável considerar o risco de impactos de eventuais agitações em torno das eleições e de uma possível demora na definição do programa de governo de quem for eleito. Os programas apresentados sempre trazem um apelo eleitoreiro e propostas de difícil execução, numa gestão mais responsável das finanças, que é o que se espera em 2023.