Inflação, perspectivas para a política de juros no Brasil e nos Estados Unidos, além das questões fiscais internas vêm pautando muito os movimentos do mercado, dos ativos, nessas primeiras semanas de 2022. A inflação de 10,06% registrado pelo IPCA em 2021, a maior desde 2015, além de ter superado as projeções de fechamento de ano reforçou as preocupações quanto às condições para se evitar um novo estouro da meta neste ano. A projeção média ainda passa dos 5% e até por isso temos tido momentos de curva de juros bem mais pressionada, sendo que a projeção média para a Selic, de acordo com o último relatório Focus, foi a 11,75%, piorando, claro, as expectativas de crescimento, com corte da previsão do PIB para 0,26%, este ano. Isso na média, porque uma possível retração ainda está no radar.
No geral, tem havido uma frustração com os dados setoriais de atividade. A reação dos Serviços em novembro, com avanço de 2,4% sobre outubro, bem acima do esperado, jogando o setor 4,5% acima do pré pandemia, veio na contramão do marasmo geral que se tem observado. Pode até mexer com as projeções, que andavam bem pessimistas para o fechamento de 2021, com algum carregamento menos pesado para 2022./ Mas aí entra em cena a Ômicron e o avanço acelerado de casos, que neste início de ano deve dar uma freada, principalmente, nesse setor, prejudicando turismo, bares, restaurantes, eventos. Ainda há uma interrogação quanto ao que pode acontecer ao longo do trimestre, até com cancelamento do Carnaval em várias cidades. De qualquer modo, serviços ainda estão devendo uma retomada ainda mais consistente pelo atraso registrado desde o começo da pandemia, até por ser um dos principais alvos de restrições. Ficam dúvidas também quanto à capacidade de reação da atividade, não só dos Serviços, diante da perda de poder de compra da população, com inflação e juros mais altos, geração de empregos de pior qualidade, informais, e reajustes salariais que, para a maior parcela dos trabalhadores, não têm conseguido repor as perdas. O fato de os serviços para as famílias terem avançado 2,8% em novembro também traz maior alento.
No início citei também a inflação e os juros nos Estados Unidos. A inflação de 2021 ficou em 7%, a maior desde 1982, mas não teve impacto mais pesado nos mercados dada a desaceleração de novembro para dezembro. Mesmo com núcleos mais pressionados e vários grupos de preços em alta, como Serviços, de início, provocou até um certo alívio. Assim como outros indicadores, pelo menos, não aumentou a preocupação com surpresas quanto à intensidade da esperada retomada da alta dos juros pelo Federal Reserve, nem do corte de liquidez.
Mas a situação ainda é bem incerta. Ao mesmo tempo que se conta com menos pressões de alguns preços, as commodities continuam em alta, os desequilíbrios da cadeia produtiva podem se arrastar por mais tempo, com os fechamentos de fábricas e portos provocados pela Ômicron. No Brasil, as condições climáticas, que melhoram as perspectivas para a crise energética, podem prejudicar a oferta e preços de alimentos, até pela seca em áreas de produção de grãos. E tem toda a disseminação dos aumentos até para reposição de custos e recomposição de margens, como tem ocorrido nos preços industriais e de Serviços, por exemplo.
No âmbito doméstico ainda lidamos com as questões fiscais, independentemente das melhora das contas públicas no fechamento do último ano. Teve as mudanças no teto, aumento de fundão eleitoral, corte de verbas até para o ministério da Economia, com mais recursos para emendas parlamentares e do relator e, agora, a onda de reivindicações de reajustes salariais do funcionalismo, após o presidente defender aumento apenas para os policiais. São condições que aumentam as incertezas fiscais e o risco de instabilidades, em ano de eleições, com a economia enfrentando várias vulnerabilidades.
Em meio a tudo isso, o mercado tem oscilado entre momentos de stress exagerado, com avanço do dólar, dos juros futuros, queda da Bolsa, e períodos de maior ânimo, onde prevalece uma análise mais técnica dos fundamentos, sem reações emocionais. Fato é que gestores e investidores que conseguem controlar o emocional estão obtendo os melhores resultados. O mundo anda muito complicado, tendo de conviver com todas as situações inéditas e desafiadoras impostas pela pandemia. O Brasil, que nunca foi fácil, mais que nunca deixa claro que não é para amadores. Pode parecer chavão, mas é o que estamos vendo ao ter de lidar com tantas incertezas simultaneamente, algumas evitáveis. Calma e bons negócios. Os dias de reação mais favorável do mercado estão aí para confirmar as boas oportunidades e consolidar resultados pra quem tem conseguido lidar melhor com as instabilidades, com os desafios locais e globais.
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