Denise Campos de Toledo EECI

Os desafios do balanço de riscos | Denise Campos de Toledo

A economia brasileira ainda emite sinais bem contraditórios. Tivemos, nesta última semana, um grande sucesso nos leilões dos aeroportos. Imenso retorno financeiro numa demonstração que o País ainda está no radar dos investidores e é possível prosseguir com a agenda, mesmo em meio a um cenário desfavorável de balanço de riscos. E, nesse sentido, dois pontos são recorrentes: a questão fiscal e o descontrole da pandemia.

Do lado fiscal, nem falo de reformas relevantes como a administrativa, mas da conclusão da novela do orçamento. O governo cedeu demais para a aprovação da PEC emergencial, que nem de longe vai produzir os resultados esperados em termos de potencial redução de gastos, e agora não sabe como conciliar os interesses políticos jogados na mesa pela, em princípio, base aliada. Tenta de toda forma adequar o orçamento às emendas parlamentares para não recorrer às pedaladas fiscais, sendo que os mesmos que o colocaram no corner alertam para os riscos dessa prática. 

Independentemente do desfecho, o que se vê é a equipe econômica com pouca margem de manobra, onde Guedes testa toda sua resiliência e capacidade de adequação ao cenário imposto. Um orçamento justo é o mínimo que se poderia esperar do discurso de responsabilidade fiscal do governo e aliados. O Brasil está longe de emitir sinais de maior confiança no âmbito do ajuste das finanças públicas e redução da dívida. Isso se ainda não tiver de adotar um novo quadro de calamidade.

Calamidade sim. A pandemia continua batendo recordes, testando os limites da capacidade social e esgarçando a condição social sem perspectiva concreta de o País acelerar a vacinação. Começamos abril com revisão, para pior, da oferta de vacinas, inclusive, de produção local. Mais uma vez a China freia as exportações, priorizando a oferta interna. Contratos de aquisição de outras vacinas parecem ficção a se confirmar em prazo mais longo. Mudanças de postura do governo parecem mais respostas políticas, sem qualquer convicção, dadas as falas do presidente contra o isolamento, o fechamento de igrejas e ainda em defesa de supostos tratamentos. De fora, o País é visto como uma ameaça global para o surgimento de novas variantes. 

Vivemos um dia de cada vez, esperando que promessas de maior compromisso fiscal e com a vacinação se tornem realidade. Enquanto isso, persiste a volatilidade dos ativos, com o mercado acompanhando a reação de algumas economias, como Estados Unidos e China, o avanço dos preços de commodities, o potencial de atração dos investidores para projetos de infraestrutura, diante de avanços mais positivos da agenda, como nos marcos regulatórios e concessões. Ainda temos esse potencial, apesar das dificuldades já citadas e  mesmo com o intervencionismo mostrando as garras, vide Petrobras, Banco do Brasil e agora a questão do gás. Inflação e reajustes exagerados não se resolvem na canetada, sacando a Bic. 

A possibilidade de um novo estado de calamidade envolve tudo isso: limitação do orçamento, avanço da pandemia, restrições de atividade, inflação, aumento da pobreza e da fome. É a realidade com a qual estamos tendo de lidar. Pensando do ponto de vista do cidadão é um quadro péssimo o que estamos vivenciando, angustiante. Já como investidor, cabe uma avaliação muito mais cuidadosa dos riscos e oportunidades. Oportunidades estão aí. Temos momentos de reação muito positiva dos ativos, apenas pela indicação de um potencial de melhora do cenário. É como se tudo estivesse pronto para a decolagem. Até a curva de juros pode trazer boas oportunidades. Só que sempre tem um “mas” para impor maior cautela.

A Coluna da Denise Campos é publicada toda sexta-feira em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.

Quer receber essa e outras notícias para por dentro do universo dos investimentos de maneira prática? Clique abaixo e inscreva-se gratuitamente!

e-eu-com-isso

Leia mais da Denise Campos de Toledo: Da ebulição à possível pacificação | Denise Campos de Toledo.

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

O investidor na sala de espera

Salas de espera podem ser muito relaxantes ou extremamente desconfortáveis. Pessoas ansiosas consideram aquele período de inatividade quase uma tortura. Quem precisa de um tempinho

Read More »

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.