Copom e o crescimento previsto para 2020
O economista americano Alan Blinder foi vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), reportando-se ao xará Alan Greenspan. O nome era o único ponto em comum entre eles. Blinder permaneceu no cargo durante apenas dois anos, ao passo que Greenspan pontificou no Fed entre 1987 e 2006. Blinder e Greenspan detestavam-se. Discordavam sobre a condução da taxa de juros e sobre a regulação bancária. Depois que saiu do Fed, Blinder escreveu um livro seminal explicando a atuação dos banqueiros centrais. Ela pode ser resumida em três passos: 1) decida o que você tem de fazer; 2) faça menos; 3) espere para ver o que acontece.
As reuniões da quarta-feira (30) do Fed e do Banco Central (Copom) aqui no Brasil mostram que Blinder estava certo. Ninguém se surpreendeu com as decisões. Já eram esperados tanto o corte de meio ponto percentual na taxa Selic, que foi reduzida para 5 por cento ao ano, quanto a redução de 0,25 ponto percentual nas Fed rates, que caíram para o intervalo entre 1,5 por cento e 1,75 por cento. O que interessava mesmo ao mercado eram os comunicados explicando essas decisões. Deles viria a sinalização do que os banqueiros centrais poderiam fazer nas próximas reuniões. E, lá como cá, o discurso foi muito parecido.
No Brasil, os juros podem cair mais meio ponto percentual antes de 2020, mas será difícil prever quedas adicionais. Nos Estados Unidos, os juros caíram devido à desaceleração da economia provocada pela disputa comercial com a China. Ao comentar a decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, disse que as taxas estão “em um nível apropriado” e deverão permanecer nesse patamar até que a economia dê novos sinais, sejam de aquecimento, sejam de desaceleração.
Essas sinalizações vêm em um momento no qual o mercado, especialmente no Brasil, estava fazendo projeções cada vez mais agressivas de corte nas taxas. A quase totalidade dos analistas espera uma Selic a 4,5 por cento ao ano no fim de 2019. Há pouco debate a respeito. Porém, a dispersão nos prognósticos para 2020 é bem maior. Segundo a edição mais recente do Relatório Focus, nas últimas quatro semanas a projeção para os juros no fim do ano que vem recuou de 5,5 por cento para 4,5 por cento ao ano. Vários bancos importantes acreditam que esse percentual pode chegar a 4 por cento, e um ou outro analista mais agressivo prevê uma Selic abaixo disso. Ao divulgar um relatório dizendo que 4,5 por cento é uma boa taxa, o BC mostra estar cauteloso. E isso é bom, por dois motivos.
O primeiro é que faz parte da descrição de cargo do banqueiro central ser cauteloso. O segundo é que, se vê um limite para a baixa das taxas, o BC na prática está vendo a possibilidade de uma economia parando de desaquecer e começando a engrenar um crescimento, ainda que modesto. Ou, como raciocinaria Blinder: em vez de causar turbulência reduzindo a Selic para 4 por cento e depois voltando a elevá-la para 4,5 por cento, o Copom agiu corretamente sinalizando um limite para a queda das taxas (ou seja, fazendo menos do que poderia) e esperando para ver. E apesar de o prognóstico para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro estar estável em 2 por cento há seis semanas, não se descarta a hipótese de que esse número comece a subir antes do fim do ano.
BRASIL – A Magazine Luiza (MGLU3) anunciou que irá realizar uma oferta de ações (follow-on) restrita aos investidores qualificados e institucionais, com a emissão de 90 milhões de ações ordinárias, com oferta total de até 5 bilhões de reais. O preço da oferta será definido em 12 de novembro. Segundo a companhia, os recursos serão utilizados para reforçar o caixa, após a aquisição da Netshoes, e financiar o crescimento com investimentos em tecnologia, modernização de lojas, sistema de distribuição e desenvolver o seu marketplace e superapp.
As ações (MGLU3) fecharam em forte alta de 7 por cento na última quarta-feira (30), encerrando no seu topo histórico. Esperamos impacto negativo no preço das ações no curto prazo, pois geralmente o investidor institucional joga o preço da ação para baixo numa oferta restrita.
MUNDO – O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) da indústria chinesa caiu a 49,3 em outubro, abaixo de 49,8 do último mês, contrariando a previsão de estabilidade. Enquanto o PMI de serviços caiu a 52,8. Os dados não são nada animadores e demonstram a fragilidade da economia do gigante asiático, que ainda que esteja crescendo, vez ou outra, tem mostrado que sofre os efeitos da guerra comercial. Além disso, houve o cancelamento da cúpula de países da Ásia-Pacífico, que seria uma chance de já haver um acordo com os EUA, freando assim a imposição de novas tarifas que são tão prejudiciais às economias de todos. No lado empresarial, as montadoras Fiat-Chrysler e PSA, proprietária da marca Peugeot, concordaram em fundir suas atividades, em um negócio de 48 bilhões de dólares.
E Eu Com Isso?
Ao balizar as expectativas, o Copom torna mais fácil a formação de preços no mercado financeiro e indica, também, que há limites para a desaceleração da economia
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