A semana começou com previsão de muita turbulência nos mercados com a guerra entre Israel e Hamas. Um dos principais fatores de preocupação, do ponto de vista econômico, era a possibilidade de maior avanço do preço do petróleo. Embora Israel não tenha peso no fornecimento do produto, uma ampliação do conflito, não descartada, com envolvimento de outros países, poderia mexer com a oferta, já restrita por decisões da Arábia Saudita e Rússia. Mas, no geral, por enquanto, os mercados até tem tido reação contida, observando, claro, eventuais desdobramentos do conflito.
Curiosamente, os Estados Unidos, motivo de muita pressão nos mercados nas semanas anteriores, com a escalada dos juros dos treasuries, ajudaram a acomodar expectativas. Dirigentes do Federal Reserve afirmaram que os rendimentos em alta dos títulos públicos no país, que chegaram ao maior patamar desde 2007, podem ajudar a produzir o efeito desejado no controle da inflação. Portanto, novas altas das taxas pelo Fed só devem ocorrer se houver muita necessidade e, mesmo assim, com muita cautela. Foi a indicação, por exemplo, do vice-presidente da instituição, Philip Jefferson.
Essa possibilidade foi bem recebida, ajudando a diminuir pressões, embora a inflação ainda preocupe, com o mercado de trabalho mantendo bons números, e o risco, que citei, de alta do petróleo em função do conflito ou algum outro fator. Aliás, eventual aumento adicional do petróleo tenderia a dificultar o controle da inflação pelos bancos centrais, de um modo geral, inclusive no Brasil.
Só que no Brasil tivemos a boa notícia do IPCA de setembro com alta de 0,26%, abaixo das previsões, com uma composição mais favorável, apesar do aumento dos serviços, no agregado, mas com muito peso das passagens aéreas. Houve queda da difusão de aumentos, tanto do índice geral, como de serviços. A variação do índice em 12 meses subiu para 5,19% pelo efeito estatístico, já que em setembro de 2022 o IPCA teve deflação de 0,36%.
Esse indicador, melhor do que sinalizava o IPCA 15, acabou reforçando as apostas de continuidade do ritmo de cortes de 0,5 ponto da Selic. Isso, apesar dos vários fatores que podem interferir no processo de desinflação, desde o cenário externo desafiador, a alta de commodities, juros nos Estados Unidos, até as condições fiscais domésticas.
Aliás, o ministro Haddad, da Fazenda, sabendo dos riscos com o conflito entre Israel e Hamas, aproveitou para lembrar a importância de o Brasil avançar com a agenda econômica, para ampliar a proteção contra novas dificuldades. Agenda, na verdade, imprescindível para assegurar melhor performance da economia local, independentemente de condições externas. Medidas para ampliação de receita e propostas de reforma continuam travadas em meio a embates políticos, com o presidente Lula fora das articulações, ainda se recuperando de cirurgia.
Vale observar que, em meio ao quadro de incertezas, que teve algum alívio com relação à inflação e os juros nos Estados Unidos, as projeções de crescimento do PIB brasileiro continuam sendo revistas para cima. Desta vez foi o FMI que elevou a projeção deste ano de 2,1 para 3,1%, salientando, no que se refere à inflação, a recente decisão de se adotar uma meta contínua, em vez de ano calendário, de 3% a partir de 2025, como exemplo de melhoria da eficácia operacional e na estratégia de comunicação, ajudando a reduzir incerteza e aumentar eficácia da política monetária. Em relatório, o Fundo ainda observou que o BC aqui, assim como do Chile e do Uruguai, foi dos primeiros a cortar os juros por ter começado o combate à inflação mais cedo. São análises que mostram, pelo menos nesses aspectos, otimismo, em alguma medida, até maior do que do mercado interno.
O mercado local tem vivido fases em que aposta em cortes maiores dos juros, depois em redução do ritmo, desconfia da execução das metas fiscais, teme uma vulnerabilidade maior da nossa economia. Só que, até pelo comportamento do mercado nesta semana, em particular do câmbio, o que se percebe é que o Brasil está até bem colocado nos momentos de maior aversão ao risco. É um voto de confiança nas perspectivas da economia brasileira, ainda que haja muito desarranjo a ser consertado.