Fechamento de ano, de governo, revisão das políticas na área econômica e em todas as demais, que dependem do Executivo. São muitas as dúvidas, especialmente na futura gestão da economia, tendo Haddad na Fazenda e Simone Tebet no Planejamento. Embora haja divergências nos discursos dos dois, falas dos últimos dias antecipam possível entendimento em torno de uma nova âncora fiscal, o que seria um passo importante para assegurar credibilidade e estabilidade, pelo menos, no que depender do encaminhamento das finanças públicas.
No que se refere à inflação, mesmo que o fiscal não traga pressões adicionais, já devemos abrir o ano com projeções em alta pelo corte na desoneração dos combustíveis, sendo que já se trabalhava com nova probabilidade de estouro da meta. Inflação e juros altos continuam no radar.
Mas, independentemente das projeções, é preciso considerar que os juros em alta, aqui e no exterior, tendem a frear a atividade com possíveis reflexos sobre a evolução da demanda e dos preços. Nos prognósticos não podemos esquecer a recuperação do emprego, da renda, e o impacto dos programas sociais sobre o potencial de evolução do consumo. Só que tem um efeito represado da manutenção de juros elevados, que deve fazer diferença no ritmo de expansão da economia.
Por enquanto, a expectativa é de avanço bem mais fraco do PIB no Brasil. E ainda tem o cenário externo. Também pelos juros elevados, as economias desenvolvidas estão sob risco até de retração, o que pode ajudar a conter preços externos, como de commodities. Neste final de 2022 esse movimento já colaborou, por exemplo, para o IGPM fechar em 5,45%, o melhor desempenho em cinco anos.
A expectativa mais favorável, em termos de crescimento, vem da China, com o abandono da política de Covid zero, agora com o fim da quarentena de quem viaja pra lá. Como a pandemia ainda é uma ameaça, nunca se sabe os impactos dessa abertura, o quanto que o País vai encarar de aumento do número de casos e se isso também não pode prejudicar a atividade. Sendo que a China, há um bom tempo vem com dificuldades para alavancar melhor performance. Considerados todos esses fatores, o mundo não deve dar margem para avanços da inflação e de preços que possam ter influência por aqui. É possível que a inflação acabe tendo uma trajetória mais favorável, abrindo espaço para cortes dos juros.
E, além dessas questões mais gerais, vamos, a partir da próxima semana, já no novo ano, conferir as políticas setoriais (possível revisão de regras do novo marco do saneamento, já causa apreensão), atuação do BNDES, propostas de Reformas, como a Tributária, das regras trabalhistas, de outros programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida, relações externas e acordos comerciais, planos de investimento na infraestrutura.
Paralelamente ainda será preciso acompanhar o posicionamento político do novo governo em relação ao que se encerra agora, o revogaço de decretos na área ambiental e de liberação de armas, processos em andamento até no STF, quebra de sigilos e possíveis desdobramentos. São questões que também podem mexer com as expectativas e até com o comportamento do mercado. Tudo isso sem esquecer que as equipes não estão totalmente formadas, ainda haverá muita negociação e indicações políticas, formatação um novo pacto federativo e as iniciativas dos Estados, muitos sob novo comando.
Enfim, mesmo em meio às incertezas, quase inevitáveis numa troca de governo, principalmente quando têm posições mais antagonistas, podemos antecipar um ano de desafios, até pelo cenário de menor expansão, como já citei, mas que abre boas oportunidades, até pela receptividade que a eleição de Lula teve no exterior. A visão externa é de ter o Brasil de volta nos grandes temas globais, sem posicionamentos marcados, predominantemente, pela ideologia. Isso pode abrir “portas”.
Agora é torcer para que o novo governo aproveite as oportunidades e saiba criar outras para um crescimento mais sustentável, sem solavancos desnecessários e evitáveis. Feliz 2023 para todos nós.