Semana de agenda cheia na economia. Algumas notícias positivas em termos de perspectivas para a economia brasileira, mas ainda com ressalvas. Vamos lá…
Houve importante avanço do arcabouço fiscal no Congresso, que ao estabelecer regras para a gestão das finanças públicas, reduz as incertezas fiscais, ainda que haja questionamentos quanto à eficácia, principalmente por se prever aumentos anuais das despesas, mesmo que limitados percentualmente ao aumento da receita e ao cumprimento das metas. Falta agora a aprovação pelo Senado.
O IPCA-15 subiu 0,51% em maio, bem abaixo do previsto, inferior aos 0,57% de abril, com a variação de 4,07% em 12 meses abaixo do teto da meta. Isso pode provocar novos cortes das projeções de inflação para o ano, embora, até pelo efeito estatístico, a inflação de 2023 deva estourar, novamente, a meta, assim como nós dois últimos anos. De qualquer modo, isso deve reforçar a pressão sobre o Banco Central para o corte dos juros, ainda mais com aprovação do novo arcabouço fiscal. E, de tanto ser cobrado, o BC já começa a admitir que vai acompanhar as previsões de outros setores, não apenas do mercado, como no relatório Focus.
Ainda tivemos o anúncio de medidas que tentam ajudar o setor industrial a recuperar competitividade e consequente espaço no PIB, na geração de empregos e nas exportações. O principal foco foi o segmento automobilístico que opera com 50% da capacidade e já teve até várias unidades de produção fechadas, diante da piora das perspectivas. Se recorreu à velha estratégia de baratear os veículos, com cortes de tributos, que, desta vez, vão favorecer os que têm maior índice de nacionalização e são menos poluentes. Uma justificativa a mais para a nova redução da cobrança de PIS, Cofins e IPI. Se fala em carro popular, mas preço pouco abaixo de R$ 60 mil, não significa que sejam efetivamente populares, diante da renda média do consumidor que busca modelos mais básicos.
A indústria, de forma mais ampla, ainda terá linhas do BNDES, com juros menores, a TR, para projetos de pesquisa e inovação, financiamento em dólar para empresas brasileiras exportadoras, e redução do spread em até 60% para financiar a produção voltada à exportação. Tudo isso mostra a preocupação do governo com a perda de competitividade da indústria nacional. Só que a reversão depende de mudanças estruturais mais amplas. Mudanças relacionadas ao sistema tributário, preço da energia, precariedade da infraestrutura, de logística, da qualificação da mão de obra. E o setor ainda sente os efeitos do aumento de outros custos, relacionado até ao cenário externo, e dos juros elevados, que afetam empresas e consumidores.
Como se vê são notícias boas, mas que não asseguram perspectivas efetivamente melhores em vários aspectos.
Ainda temos também as dificuldades da articulação do governo mesmo com “vitórias” como do arcabouço. Até a configuração dos Ministérios está sendo alterada, dando mais espaço ao centrão, com aprovação de pautas que mexem com um dos pontos mais favoráveis ao atual governo que é o meio ambiente. Área, inclusive, alvo de embates entre os Ministérios e outras áreas pela possível exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Enfim, em cinco meses o novo governo não conseguiu estabelecer diretrizes claras em nenhum sentido, até nos que contava com expectativas mais otimistas. E ainda terá pela frente várias CPIs onde a oposição vai tentar buscar palanque.
De qualquer modo, fatos mais favoráveis têm conseguido animar o mercado, que parece viver dia após dia o farto noticiário, que ainda tem envolvido questões como o risco de calote da dívida nos Estados Unidos. Enfim, os investidores têm de estar muito atentos ao excesso de questões que podem afetar os negócios. Os especialistas estão tendo muito trabalho para antecipar as mudanças das peças desse quebra cabeças.