Esta semana revelou um mercado local mais disposto a aproveitar as oportunidades e recompor perdas, inclusive com movimento mais favorável do câmbio, independentemente das questões fiscais ou das preocupações com a inflação e a eficácia ou ritmo da política de juros. Em determinados momentos, parece que tudo isso já está no preço.
Mas o fato é que as preocupações persistem. Foi mais uma semana de indefinições sobre a PEC dos Precatórios, diante de novas propostas do governo e de opositores. Além do calote nas sentenças judiciais, que, segundo algumas discussões, pode ficar fora do teto de gastos, com tratamento diferenciado para o Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), e da própria mudança no cálculo da correção do teto, pela alteração do período de referência da inflação a ser aplicada, ainda se pode deixar sem destinação obrigatória parte da sobra orçamentária garantida por essas manobras, com recursos até para mais emendas parlamentares. E até a Lei de Responsabilidade Fiscal pode ser desrespeitada com a manutenção das novas condições do Auxílio Brasil, para além de 2022, mesmo sem fonte de receita definida. Aliás, esse foi um dos fatores que levaram à retirada da correção anual do benefício pelo INPC, no parecer do Projeto do Auxílio Brasil na Câmara. Vale lembrar que o governo acabou com o Bolsa Família e o substituiu pelo Auxílio Brasil, apenas aplicando uma correção, sem ter o projeto do novo programa definido e aprovado e sem ter a PEC dos Precatórios, que vai assegurar o custeio dentro dar regras fiscais, também aprovada.
Fora essa indefinição fiscal, ainda tem a piora das expectativas quanto ao crescimento da economia, por vários fatores adversos, como a combinação de inflação e juros mais altos e as incertezas de cenário freando investimentos. Sendo que só o comportamento da inflação e dos juros já tem levado a muitas apostas divergentes, colaborando para mais instabilidade.
O IPCA-15 desacelerou agora em novembro, como esperado, para 1,17%, mas sem intensidade que traga maior tranquilidade quanto à evolução futura da inflação. A perda de ritmo veio, em parte, da alimentação, com recuo até dos preços da carne. Um dos destaques das pressões de preços desde o ano passado. Esse movimento pode ser temporário, na medida em que refletiu o aumento da oferta doméstica e a queda do preço do boi gordo pelo embargo das exportações para a China, o que já está sendo resolvido. Também houve queda das passagens aéreas, cujas variações quase sempre muito bruscas oscilam de acordo com a demanda. Combustíveis e bens industriais seguiram em alta, e já se nota alguma recomposição maior de preços em segmentos como vestuário e artigos para residência, além de outros serviços. Enfim, a inflação segue muito elevada, com forte espalhamento dos aumentos, além do reforço do dólar, que se mantém em patamar desfavorável para a formação dos preços domésticos, mesmo que colabore para um maior retorno das exportações. Dólar esse que, mesmo com a perda de ritmo desta semana, ainda reflete muito as incertezas fiscais, de crescimento, de política de juros e do cenário externo.
A inflação, como um problema global, pode levar a mais aperto monetário em outros países, especialmente nos Estados Unidos, onde já se considera uma possível elevação dos juros, pelo Federal Reserve, no segundo trimestre de 2022. Também no exterior se percebe que a inflação não é um problema temporário, como se imaginava, e pode exigir ações mais efetivas.
Essa situação traz mais dúvidas quanto à política a ser implementada pelo Banco Central aqui no Brasil. O BC, mesmo com a elevação da dose de correção da Selic, não conseguiu garantir uma convergência de expectativas do mercado, que não para de elevar as projeções de inflação, com a do IPCA de 2022, já perto do teto da meta, de 5%. E ainda há divergências quanto ao ritmo de ajustes da Selic para que se possa obter mais resultados. Mesmo com a antecipação, pelo Copom, de mais um aumento de 1,5 ponto na reunião de dezembro, há quem fale em um ajuste de 2 pontos. E a curva de juros, em muitos momentos, reflete essa expectativa de um aumento mais intenso da taxa básica.
Colocados todos esses pontos de incerteza, fica ainda mais nítida a disposição do mercado de buscar oportunidades e tentar fechar o ano com saldo mais positivo ou menos ruim. Mas motivos para volatilidade é que não faltam, e ainda resta ver o que Brasília nos reserva para o cenário econômico e político, antes da virada para 2022, que também promete ser um ano de muitas emoções. Entretanto, muitas oportunidades de ganho estão colocadas, o mercado tenta estratégias para obter melhores resultados e é importante saber aproveitar as ondas, mesmo as que, no geral, pareçam mais adversas.
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Leia a última coluna da Denise Campos de Toledo: Mercado segue no embalo das incertezas.