Denise Campos de Toledo EECI

Mais incertezas que confiança na futura gestão da economia 

A divulgação de nomes que vão integrar a equipe econômica do novo governo não trouxe maior tranquilidade para o mercado. Não falo exatamente da equipe de Fernando Haddad na Fazenda, onde Bernard Appy, idealizador da proposta de reforma tributária apresentada na Câmara como PEC 45, gerou a expectativa de que o governo assuma o protagonismo das discussões fazendo com que, finalmente, haja mais condições de aprovação, ainda que ainda tenha de passar por ajustes relevantes. Gabriel Galípolo, número dois do Ministério, vem do mercado financeiro, entende a linguagem e expectativas, foi presidente do Banco Fator. Pode não ter propostas alinhadas totalmente com a “Faria Lima”, como em relação a teto de gastos e criação de uma moeda única no Mercosul, mas pode conseguir fazer uma ponte importante. A incerteza maior ainda é quanto à possibilidade de o novo governo tentar estimular o crescimento com maior  interferência do Estado na economia em detrimento à busca pelo ajuste fiscal. Ajuste imprescindível para estabelecer uma base mais estrutural para o controle da inflação e atração dos investimentos, assegurando a retomada com estabilidade.

Nesse sentido, a indicação de Aloisio Mercadante para o BNDES só reforçou as preocupações com a possível adoção de um modelo muito mais parecido com o de Dilma do que do primeiro mandato de Lula, que era a melhor expectativa, até pela ligação dele com a Nova Matriz Econômica. Além disso, na sequência do anúncio do nome dele foi aprovada pela Câmara a alteração da Lei das estatais, em votação repentina, à noite, em que se tratava inicialmente de autorização para mais gastos com publicidade e acabou por reduzir para 30 dias o prazo da desincompatibilização de políticos para assumirem determinados cargos, incluindo a presidência do BNDES. Fora Mercadante, se abriu a porteira para negociações partidárias e indicações políticas nas várias áreas e escalões, caso as mudanças passem também no Senado. É a revogação de restrições que vieram após a Lava Jato e todas as denúncias de corrupção e intervenções em estatais, com o intuito de garantir gestões mais técnicas, com menos intervencionismo político. 

Por outro lado, ficam dúvidas quanto à própria gestão do BNDES, com possível retomada da política dos grandes campeões nacionais, do financiamento subsidiado, que pode até dar suporte importante a determinadas áreas, dados os juros proibitivos do País, mas, preferencialmente, com o cuidado de não gerar mais problemas para as contas públicas.

Em meio a tudo isso ainda tem a PEC, origem das primeiras preocupações com o fiscal, que amplia os gastos, sendo discutida na Câmara, também com várias pressões por interesses políticos, que vão de cargos, às reeleições das presidências da Câmara e do Senado, passando pelo orçamento secreto, independentemente do posicionamento do STF.

Por mais que se saiba das dificuldades orçamentárias, do quase desmonte financeiro que houve em várias áreas de governo e da necessidade de autorização de aumento de gastos em 2023, independentemente de quem tivesse saído vitorioso das urnas, na hora das contas do quanto se poderá esticar o teto é inevitável a preocupação com a evolução das contas públicas e do endividamento. O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta pacificar as expectativas, afirmando que não é o momento de estimular crescimento com mais gastos, falando até em antecipar a definição do novo arcabouço fiscal, em avançar com a reforma tributária, mas entre o discurso e as sinalizações o mercado de manter em alerta, com fortes oscilações nos preços dos ativos. A curva de juros tem sido um grande termômetro, até pelos alertas também do Banco Central quanto ao risco fiscal e a postura vigilante que terá em relação às ações do futuro governo, justamente, no que se refere à gestão das finanças. O aumento do risco fiscal traz implícita a possibilidade de que novas pressões inflacionárias possam levar a ajustes da taxa básica, contrariando as previsões do mercado e sinalizações dadas pelo próprio BC. O mercado ainda conta com a queda da Selic em 2023, em tese. Na prática, as alta das taxas dos títulos mostram cenário bem diferente.

Enfim , em meio as essas nuvens mais pesadas, o cenário para o próximo ano parece mais incerto no que se refere ao andamento da economia, inclusive porque o ambiente externo também deve impor mais dificuldades. A perspectiva de desaceleração da atividade global, diante da elevação dos juros e outras dificuldades, pode até colaborar para menos pressões inflacionárias, através da queda de preços de commodities, por exemplo. Só que juros mais altos podem interferir no fluxo de investimentos, comprometendo mais a atração de recursos, tão importante para ajudar a alavancar o crescimento. E não apenas investimentos para o mercado, mas também os produtivos, de longo prazo, para infraestrutura, empresariais, nas concessões e PPIs.

O que se tem, por enquanto, são mais incertezas que confiança quanto à futura gestão da economia, embora nas demais áreas, como educação, saúde, cultura, relações exteriores, direitos humanos e meio ambiente se espere uma reestruturação bem favorável. Mas que também vai depender muito do sucesso na economia. 

 

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