O mercado brasileiro tem tido um mês bem favorável, apesar da questão fiscal não estar dando muita trégua. Na verdade, parece que o mercado deixou isso meio de lado, pra ver como fica de fato, no ano que vem. Isso, depois de o governo ter mantido a meta de zerar o déficit em 2024. Não houve maior reação sequer à piora da projeção do déficit deste ano, de R$ 141,4 bilhões para R$ 177,4 bilhões, como anunciou o Ministério da Fazenda. Talvez, pelos contingenciamentos anunciados, por sobras que podem restar, pelo avanço de medidas de reforço de receita no Congresso ou porque já havia percepção que a meta não seria ou será alcançada mesmo o tema déficit já esteja mais normalizado.
Os temores referentes a possíveis novas altas dos juros nos Estados Unidos, outro motivo de stress, também perderam um pouco a força. Embora a ata do Federal Reserve, que saiu nesta semana, tenha admitido que novos aumentos podem ocorrer, se houver necessidade para maior controle da inflação, Mas, como os índices de preços ao consumidor e ao produtor vieram melhores que o esperado se passou a contar mais com uma pausa no aperto monetário e, talvez, antecipação de cortes no ano que vem.
Nesse embalo, a Bolsa vem em forte recuperação, já no rally de final do ano, e com maior interesse do investidor externo. O dólar mantém comportamento mais tranquilo que o previsto, diante de tantas incertezas aqui e no exterior, o que ajuda a melhorar as perspectivas para a inflação e os juros, já que pode ser um fator de pressão inflacionária. E a curva de juros, com essa leitura mais otimista de cenário, também segue menos pressionada que algumas semanas atrás. Nesse contexto, importante incluir a percepção que a guerra Israel/Hamas não deve se expandir regionalmente, afastando assim o risco de implicações negativas para a inflação, principalmente via preços do petróleo.
Quanto à inflação, ainda vale observar que as projeções do mercado para o próximo ano, segundo o Focus, que subiram, após toda polêmica gerada com a fala do presidente Lula, sobre não cumprir a meta fiscal em 2024, já cederam um pouco no último relatório. O que também colabora para previsões melhores quanto aos cortes da Selic.
Os investidores locais podem até não estar gostando muito da queda da rentabilidade das aplicações atreladas aos juros. Mas até por aí, com bom planejamento, dá para assegurar bons ganhos. Afinal, o Brasil ainda está no topo dos juros reais.
É ver se não temos surpresas que afetem, novamente, o ritmo dos negócios, já que, por mais que haja essa leitura mais favorável, ainda estamos convivendo com muitos desafios, internos e externos, que não se restringem à economia e, dependendo da evolução, e até da confirmação ou não das expectativas, podem trazer novas instabilidades. Nem as previsões para os juros estão consolidadas. Sem esquecer das dificuldades de articulação do governo, de controle da própria base e de narrativa. O que, muitas vezes, coloca mais lenha ou até acende a fogueira.