As preocupações com o risco de ampliação da guerra entre Israel e Hamas, chegando a um conflito regional, têm influenciado muito as movimentações do mercado financeiro global e no Brasil. Mas dados econômicos, principalmente relacionados ao cenário externo, também têm tido influência. Do lado negativo tem a preocupação com o ritmo de expansão da China, com destaque mais recente para os problemas do setor imobiliário. A inflação, até sob risco de ampliação do custo de energia, com a alta do petróleo, se mantém no foco. Só que, neste sentido, os Estados Unidos têm sido até uma exceção. Não que a inflação lá esteja sob controle, se aproximando da meta. O aperto monetário deve prosseguir. Além disso, os juros dos títulos americanos seguem em patamar elevado, com flutuações que interferem nos preços dos ativos, das bolsas ao câmbio, principalmente por pressões provocadas pela aversão ao risco. Só que dirigentes do Federal Reserve, inclusive Jerome Powell, continuam passando um recado menos duro quanto à possibilidade de mais elevações das taxas.
O Federal Reserve tem demonstrado maior preocupação com os reflexos dos juros na atividade, inclusive pelo impacto da alta já acumulada, sem esquecer que a alta dos títulos também pode colaborar no controle da inflação. Os juros devem permanecer elevados por mais tempo. Ainda se tem a perspectiva de menos cortes no ano que vem. Porém, com as novas sinalizações do FED, o mercado está mais dividido quanto a mais ajustes ainda neste ano, o que não impede reações cautelosas quando saem dados piores de inflação ou que mostram fôlego maior da atividade ou do emprego, que podem influenciar o resultado esperado da política monetária.
Já no Brasil a semana foi marcada por indicadores que mostram uma certa perda de fôlego da atividade no segundo semestre. A começar pela queda dos Serviços, em agosto, ao contrário da expectativa de continuidade da expansão, até pelo aumento do emprego e da massa salarial. Vale lembrar que, mesmo com a boa surpresa do PIB no primeiro semestre, o mercado já contava com uma certa desaceleração da atividade na segunda metade do ano. E isso pode ter até um reflexo positivo, que é colaborar com o processo de desinflação.
Aliás, após a variação do IPCA abaixo das projeções em setembro, a média das previsões do mercado para a inflação de 2023 caiu para 4,75% no último relatório Focus. Primeira vez no ano que fica na meta, no limite da margem de tolerância.
É ver se o cenário externo não atrapalha essa perspectiva mais favorável. Nesse sentido o petróleo, um preço estratégico não só para o Brasil, traz uma grande incerteza. A queda da oferta, com cortes da Arábia Saudita e Rússia, tem sustentado preço mais alto. Movimento reforçado pelos riscos referentes à guerra, principalmente se houver ampliação, com entrada de países produtores, como o Irã. Só que Estados Unidos e Venezuela chegaram a um entendimento, que envolve até as condições de realização das próximas eleições do país de Maduro, o que permitirá a suspensão de sanções, viabilizando a ampliação da oferta de petróleo, pelo menos, por seis meses. Um respiro na pressão sobre as cotações do produto.
No balanço geral ainda temos um quadro global de muitas incertezas que mais que a volatilidade dos mercados, pode ter implicações sobre as economias e políticas de juros dos bancos centrais. No Brasil, o presidente do BC renovou a avaliação que os cortes de 0,5 ponto da Selic são adequados. No entanto, admitiu que incertezas de cenário, até as relacionadas à guerra e à alta dos juros dos treasuries, nos Estados Unidos, com dúvidas se a alta tem motivação apenas técnica ou também relacionada à situação fiscal do País, serão consideradas em futuras tomadas de decisões.
Falando do fiscal, ainda persiste a trava nas votações do Congresso de medidas do governo para reforço da receita, com projeções desfavoráveis para a evolução das contas públicas. Mais um entre tantos fatores de incerteza, aqui e no exterior, que recomendam cautela e atenção na definição de estratégias de investimento.