A companhia Guararapes (GUAR3) divulgou na noite de segunda-feira (15), após fechamento do mercado, seus números referentes ao quarto trimestre de 2020. Seus resultados vieram modestos, em linha com as expectativas, considerando o forte impacto da pandemia no segmento de varejo em 2020.
A companhia mostrou evolução positiva no varejo, com melhora da margem bruta e controle de despesas operacionais, mas o resultado da divisão financeira (Midway) jogou para baixo o resultado consolidado da companhia.
A receita líquida consolidada apresentou uma contração de 9,3 por cento na comparação anual, registrando 2,2 bilhões de reais no 4T20. No acumulado do ano, esse recuo foi de 20 por cento, com 6,2 milhões de reais em 2020.
A receita líquida de mercadorias apresentou um aumento de 0,7 por cento na comparação anual, totalizando 1,8 bilhões de reais no trimestre. A alta foi causada por um crescimento de vendas em mesmas lojas estável de 0,3 por cento no trimestre, dado a redução no horário de funcionamento das lojas devido à pandemia do coronavírus. A companhia operou, no período, com cerca de 90 por cento de sua capacidade.
A margem bruta de varejo veio acima do esperado em 53,3 por cento, comparado à margem de 53 por cento no mesmo período de 2019.
Em relação ao seu EBITDA ajustado, este apresentou queda de 6,7 por cento no ano contra ano, reportando 597,9 milhões de reais no 4T20. Sua margem EBITDA ajustada no período também apresentou contração, de 0,8 pontos percentuais, registrando 27 por cento no trimestre.
A companhia ainda apresentou uma queda de 16,5 por cento do seu lucro líquido na comparação anual, registrando 368,0 milhões de reais no trimestre, com contração de 1,4 pontos percentuais de sua margem líquida para o mesmo período, com 16,6 por cento no 4T20.
Em termos de endividamento, a companhia registrou uma menor alavancagem líquida no encerramento de 2020, com dívida líquida de 706,9 milhões de reais. Seu índice de alavancagem (dívida líquida sobre EBITDA) também registrou recuo, de 4,1 vezes para 3,0 vezes na comparação trimestral, mostrando níveis de endividamento mais saudáveis.
E Eu Com Isso?
A Guararapes divulgou resultados modestos, em linhas com as expectativas, com resultado de vendas em mesmas lojas estáveis, ligeira melhora da margem bruta no varejo e expansão de seu canal digital, destaque no ano de 2020. Dessa forma, temos expectativa de um impacto levemente positivo no preço das ações da companhia (GUAR3) para o curto prazo.
Seu resultado foi conforme previsto, considerando o forte impacto da pandemia no segmento de varejo, porém mostrando resiliência com desempenho estável em vendas em mesmas lojas e margem bruta levemente melhor que o esperado no varejo.
Podemos dizer que em termos relativos a Guararapes, dona da marca Riachuelo, conseguiu diminuir a diferença para a Lojas Renner (LREN3), pois a Renner apresentou queda na margem bruta de varejo e teve desempenho negativo nas vendas mesmas lojas.
A Guararapes ainda apresentou como destaque o crescimento de vendas pelos canais digitais, que aumentaram em 192,0 por cento na comparação anual no 4T20, o que representou 5,7 por cento das vendas totais do período. No acumulado do ano, esse crescimento foi de 274,1 por cento, totalizando 528 milhões de reais, o que representa 10,3 por cento das vendas totais da companhia.
Entendemos que esse forte crescimento no segmento digital foi impulsionado principalmente pelo período de restrições de isolamento causadas pela pandemia do coronavírus e, apesar da expectativa de uma expansão no segmento digital da companhia, os próximos períodos devem apresentar altas relativamente menores às apresentadas em 2020.
Por sua natureza cíclica, o setor de varejo foi impactado duramente pela pandemia, não somente devido à recessão causada por esta, mas também pelo isolamento social. Os efeitos foram atenuados pelos estímulos econômicos aprovados pelo governo federal, como o auxílio emergencial.
No final de 2020, o setor ensaiou uma recuperação com o controle da taxa de contágios, que permitiu a reabertura gradual da economia. No entanto, a forte aceleração da segunda onda no Brasil reverteu o quadro e deve impactar substancialmente os resultados das empresas no primeiro e no segundo trimestre de 2021.
Somente empresas com presença mais significativa e estruturada no e-commerce poderão aliviar esse efeito. Contudo, deve-se ressaltar que há outros fatores de risco nesse momento, como a perspectiva de elevação das taxas de juros, que vai aumentar o custo do crédito e vai desestimular o consumo, e o aumento da inflação, cujo espaço para repasse aos preços finais é limitado em um momento no qual a economia continua fragilizada.