O Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) confirmou, nesta quinta-feira (28), a decisão de entrar em greve a partir do dia 1º de fevereiro (próxima segunda). A categoria enviou um ofício para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deixando clara sua insatisfação com o novo aumento do preço do diesel, uma vez que a política de preços praticada pela Petrobras seria “conscienciosamente lesiva” para os caminhoneiros.
Apesar da paralisação, o CNTRC afirmou que 30 por cento da frota de trabalhadores trabalhará. Líderes sindicais confirmaram o movimento, mas o ministério da Infraestrutura ainda não considera a greve um movimento completamente difuso no setor. Segundo nota da pasta, “o CNTRC não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor […] e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”.
Entre as demandas da categoria, estão uma aposentadoria especial para o setor, um piso mínimo estabelecido para o frete e uma fiscalização mais ampla da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A grande reclamação, contudo, fica por conta dos ajustes no combustível que, segundo um dos sindicalistas, precisa ser “no mínimo a cada seis meses”. O estopim foi o novo reajuste de 5 por cento anunciado pela Petrobras (PETR3/PETR4) no preço da gasolina e 4,4 por cento no diesel.
Na tentativa de apaziguar os ânimos, o presidente Bolsonaro fez um apelo pela não paralisação e o governo deve anunciar a redução do PIS/Cofins sobre o óleo diesel, atenuando o recente aumento no combustível.
Por outro lado, o presidente da gigante petroleira, Roberto Castello Branco, disse que a dificuldade enfrentada pelos caminhoneiros é uma questão de oferta da frota e que os preços do diesel são condizentes com os preços praticados ao redor do mundo. Dessa forma, o problema não seria da Petrobras, mas sim, por exemplo, da renovação e diminuição de frota da categoria.
E Eu Com Isso?
Essa queda de braço é antiga, tendo começado na greve dos caminhoneiros de 2019. O tema sofre pressões de diferentes categorias e por todos os lados – a Petrobras busca manter sua política de paridade internacional, enquanto concorrentes acusam a Companhia de praticar preços abaixo do mercado e caminhoneiros reclamam das flutuações em decorrência do preço do petróleo.
A verdade é que a estatal segue firme na condução da sua política e dá indícios de que não vai ceder, restando ao governo se mobilizar para apagar as faíscas que poderiam levar a uma greve de maior magnitude. No entanto, a diminuição da alíquota de tributos acaba prejudicando a arrecadação federal e, por consequência, as contas públicas. Ao cabo, o problema é estrutural e deve permanecer nos próximos anos, a não ser que a Petrobras ceda: um grupo organizado (e que praticamente detém o transporte de cargas no Brasil) buscando colocar seus interesses acima do interesse geral. A confirmação da greve traz alguma apreensão para os mercados, mas um abandono da política de preços pela Petrobras certamente seria mais danoso às ações da Companhia.