A semana se encerra com um suspiro de alívio do mercado. Na quinta-feira (19) autoridades americanas e chinesas concordaram em que a China vai aumentar as compras de etanol, milho e soja dos Estados Unidos. Além disso, os líderes europeus vão discutir uma proposta da Comissão Europeia de aprovar um pacote de recuperação econômica equivalente a 840 bilhões de dólares. A novidade é que esse pacote inclui uma medida controversa, mas vista como necessária, que é a criação de uma linha de estímulo equivalente a 560 bilhões de dólares que serão transferidos dos países mais ricos, como Alemanha, França e Holanda, para as nações mais problemáticas, como Grécia, Itália e Espanha. É o primeiro movimento de formalizar transferências fiscais dentro do bloco.
Nesse ambiente de cenários e atmosfera mais desanuviados, o movimento de alta dos mercados continua. O movimento global de migração de recursos para ativos de maior risco devido à queda estrutural dos juros e do avanço da liquidez deverá continuar, e passará a ser sentido mais intensamente no Brasil.
É bastante provável que a próxima edição do boletim Focus, que deverá ser divulgada na segunda-feira (22) traga prognósticos de uma queda mais acentuada da taxa referencial de juros Selic. Na edição mais recente, do dia 15, a projeção era de 2,25 por cento em dezembro, em linha com a esperada redução anunciada nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Porém, o comunicado após a reunião e os indicadores de baixa na inflação e de retração da atividade econômica justificam novos passos do Copom em direção a uma política monetária que estimule a economia.
Assim, não se descarta a hipótese de a Selic encerrar 2020 ao redor, ou mesmo abaixo, de 2 por cento ao ano. Além de historicamente baixa, essa taxa indica juros reais (calculados descontando-se a inflação) negativos pela primeira vez desde o início do Plano Real. Só isso é um estímulo mais do que suficiente para que a maioria dos investidores busque preservar seu capital por meio de maior risco. Há vários caminhos. A compra de títulos públicos mais voláteis, o investimento na dívida privada e, claro, o mercado de ações.
Não por acaso, os mercados acionários iniciam a manhã da sexta-feira em alta. No entanto, há um componente técnico nesta sexta-feira que pode aumentar a volatilidade: o vencimento de opções em Wall Street, com a expiração (e potencial renovação) de 2,2 trilhões de dólares em derivativos diversos.
Os preços do petróleo americano subiram acima de 40 dólares por barril pela primeira vez em 11 dias após a garantia de que o grupo de produtores que inclui a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) mais a Rússia, conhecida como Opep+ está mantendo seu acordo de restrição à produção. No início da manhã, os contratos futuros do petróleo do tipo Brent, que balizam os preços da Petrobras (PETR3, PETR4) estavam em alta de 2 por cento, a cerca de 42 dólares por barril.
Neste cenário teremos um dia de alta nos mercado. Aos poucos, as economias vão retomando a normalidade e, em um ambiente de juros estruturalmente baixos de liquidez estruturalmente elevada, a migração para ativos de risco é natural.
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