A semana está se encerrando com as cotações das criptomoedas desabando. Nas últimas 24 horas, as cotações do Bitcoin (BTC) recuaram cerca de 7%, para US$ 39,0 mil. As cotações do Ethereum (ETH) caíram um pouco mais e recuaram 8% no mesmo período.
Em comparação com os US$ 47,8 mil do dia 31 de dezembro, as cotações do Bitcoin acumulam uma queda de 18,3% em 2022. E em comparação com o pico de novembro de 2021, quando as cotações chegaram a US$ 67,6 mil, a queda supera 42%.
Uma “regra de bolso” dos investidores tradicionais é que quedas de mais de 20% em relação ao pico histórico indicam um mercado de baixa. Por esse indicador, que não é muito científico, mas serve como parâmetro, o Bitcoin está em um mercado de baixa. É o começo do fim das criptos? A resposta rápida é: não, as criptomoedas, o Bitcoin entre elas, ainda têm muito chão pela frente. Vários argumentos comprovam isso.
Primeiro: quedas drásticas já ocorreram antes, e nem faz tanto tempo assim. Em janeiro de 2018, o Bitcoin chegou a US$ 17,1 mil. Quatro meses depois, em abril, as cotações haviam recuado 59,7%, para US$ 6,89 mil. O mercado se recuperou no segundo trimestre de 2019, quando as cotações subiram quase 90%. E, voltando ao presente, esse aparente “fundo de poço” de US$ 39 mil ainda está acima do mínimo de US$ 31,7 mil de 16 de julho do ano passado.
Segundo: se permanecermos comparando a queda de janeiro de 2018 com a que está ocorrendo agora, notamos que elas ocorrem em ambientes radicalmente diferentes. O mercado está muito maior, muito mais maduro e muito mais institucional. De novo, vamos listar alguns fatos.
Em junho ocorreu a primeira listagem de uma exchange de criptomoedas em Wall Street. A Coinbase vendeu suas ações diretamente, sem passar pelo processo tradicional de abertura de capital. Na manhã desta sexta-feira (21), as ações valiam US$ 221. Isso confere à Coinbase um valor de mercado de US$ 58,2 bilhões. É bem menos do que os 85 bilhões da data de lançamento. Mesmo assim, é um valor relevante.
Em outubro, a SEC (Securities and Exchange Commission), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) americana, autorizou o lançamento do primeiro ETF (Exchange Traded Fund, fundo de índice negociado em Bolsa) de contratos futuros de Bitcoin, negociados na CME (Chicago Mercantile Exchange).
Em novembro, Tim Cook, presidente de uma pequena empresa de tecnologia chamada Apple, declarou que investe parte de seu portfolio em criptomoedas e que a Apple está olhando para isso de uma perspectiva tecnológica. E há poucos dias, outra pequena empresa de tecnologia. o Google, anunciou a contratação de um executivo egresso do PayPal para reforçar seu sistema de pagamentos, o Google Pay, de modo a incluir criptomoedas.
Exchanges e ETFs listados em bolsa, e as gigantes da tecnologia interessadas no assunto. Apenas considerando esses fatos, é claro que as criptomoedas estão muito mais perto da economia “tradicional” do que na desvalorização anterior, em 2018.
Como explicar essa queda? Boa parte dela refere-se à desmontagem de posições mais especulativas. Essa desalavancagem do mercado ocorreu depois que os investidores ao redor do mundo recalcularam as probabilidades de o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, elevar os juros ainda em 2022.
Além de apertar a liquidez, as medidas destinam-se a baixar a inflação. E há algum tempo, as criptomoedas vêm funcionando como uma estratégia de hedge contra a inflação. Com menos necessidade de hedge, as posições são desmontadas.
Por isso, uma observação rápida do mercado – quedas de quase 7%, e o Índice Medo e Cobiça indicando 19 pontos, ou Medo Extremo – pode levar à conclusão que é o fim para as criptomoedas. Longe disso. Qualquer mercado apresenta solavancos periódicos, e ninguém disse que as criptomoedas são um ativo estável. Ao contrário, são um ativo arriscado e que, por isso, proporciona os maiores ganhos potencial.
Assim, apesar da queda, vale lembrar o que Fernanda Guardian, especialista em criptomoedas da Levante Ideias de Investimentos, sempre diz: a migração desses ativos para a economia real, onde vão encontrar um lugar permanente e relevante, é inevitável.
E Eu Com Isso?
A sexta-feira começa com os mercados em baixa no Brasil e nos Estados Unidos. Lá fora, os investidores refazem as contas das perspectivas para a alta dos juros americanos, e os preços das ações recuam devido a esse ajuste. Esse movimento se repete aqui, com os elementos adicionais de um movimento de realização dos lucros dos últimos dias e com a volatilidade acentuada pelo vencimento das opções de ações.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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