O mercado começa o ultimo mês do ano deixando para trás um desempenho bem favorável em novembro, com recuperação das Bolsas, o Ibovespa testando sucessivos patamares de alta, e alguma acomodação do dólar e também da curva de juros, tanto no Brasil como nos Estados Unidos.
Por aqui está mantida a possibilidade de cortes de 0,5 ponto da Selic por um período mais longo. A inflação até registrou maior avanço no último mês, com a variação de 0,33% do IPCA 15, mas com a alta puxada, principalmente por preços mais voláteis, como alimentos. As taxas anualizadas dos núcleos, inclusive de serviços, se mantiveram em queda, confirmando a melhora estrutural da dinâmica inflacionária. E, diferente do Estados Unidos, a recuperação do emprego e da renda, com recorde da massa salarial, não geram preocupação, já que não têm acarretado maior pressão sobre o consumo, nem mesmo na blackfriday, o que indica que boa parte do ganho ainda está indo para a redução do endividamento.
Quanto ao fiscal, mesmo em meio aos embates entre os Poderes, que até interferiram nas indicações do presidente Lula, de Flávio Dino para o STF e de Paulo Gonet para a PGR, o governo está avançando com as medidas que visam a melhora das finanças. Foram concluídas as votações da taxação de offshores e dos fundos exclusivos. Por outro lado, o Supremo já formou maioria para a inconstitucionalidade do teto anual dos precatórios e liberação de crédito extraordinário que, a depender do Congresso, pode chegar a R$ 95 bilhões. A conclusão depende agora apenas, em termos de prazo, da posição de André Mendonça, que pediu vista. O crédito extraordinário pode ser negociado pelo governo, dependendendo de algumas concessões, como mostrou a aprovação pelo Senado, do fundo para estimular os jovens a permanecerem na escola. Vai ser mais uma manobra fora dos limites do arcabouço, mas, como já ressaltei em outras ocasiões, desde que o governo mostre empenho no sentido de manter as metas, não importa a percepção que a de 2024, de zerar o déficit, não será cumprida. A revisão deve ocorrer em março. Essa é a expectativa até entre os parlamentares que pressionam por mais liberação de emendas.
Quanto às medidas de ajuste, por mais que melhorem o quadro fiscal, além das projeções superestimadas, não devem garantir os R$ 168 bilhões a mais de receita esperados para zerar o déficit. Por isso o mercado também já parece ter assimilado a ideia de alteração da meta, mais à frente, e que haverá déficit de até 0,8% do PIB, nas contas do próximo ano.
Até por isso, essa questão que tem ficado mais em segundo plano para o mercado. Causa maior apreensão o que poderá acontecer com os juros nos Estados Unidos. E, por aí, ainda temos uma indicação no cravo outra na ferradura. A economia americana se mantém em expansão, o que pode sustentar o consumo, dificultando queda mais acentuada da inflação, até pelas condições do mercado de trabalho. Só que a inflação vem cedendo. E os dirigentes do FED também têm dado sinais contraditórios ao falar em novas elevações dos juros, se houver necessidade, mas também na possibilidade de cortes mais cedo, em 2024. A última reunião do FOMC deste ano, agora em dezembro, será aguardada com expectativa, pelas possíveis novas indicações.
Já no Brasil, o Copom deve reduzir a Selic dos atuais 12,25 para 11,75% ao ano, mantendo o atual ciclo de cortes que deve colaborar para uma performance melhor da economia no próximo ano, ainda que o crescimento previsto seja menor que o deste ano.
Mas dezembro também traz expectativas em relação às votações do Congresso. Desde as pautas da área econômica, passando pelas sabatinas dos indicados ao STF e à PGR, a Reforma Tributária, e as discussões dos vetos do governo ao marco temporal e à desoneração da folha. Sendo que este último, se mantido, pode elevar os custos para as empresas dos setores envolvidos, com implicações para o emprego, Isso, independentemente de ter sido mais uma vitória de Haddad, na defesa do arcabouço, assim como a manutenção da meta de 2024.
Agora é ver o quanto que o mercado estará sensível a esses fatos ou se vai manter o rally de final de ano, em que a Bolsa local também tem sido favorecida por um maior interesse dos investidores estrangeiros. Sem esquecer de outras questões em aberto, como os rumos da Argentina após a posse de Milei, oferta e preços do petróleo, conclusões da COP para a transição energética, as guerras e a performance da China. Este final de ano ainda promete muito agito e, portanto, mais desafios no acerto das posições dos investidores até a virada para 2024.