Denise Campos de Toledo EECI

Desconfianças do mercado persistem em relação ao governo Lula

O novo governo continua tendo de se defender de propostas e declarações referentes à política econômica. E o mercado mantém uma receptividade restrita até por comparações com problemas que ocorreram no passado, com governos do PT e do próprio Lula. Mesmo com o pacote de aumento de receita anunciado por Haddad, que melhora a projeção quanto ao saldo das contas públicas neste ano, a questão fiscal ainda leva a uma maior cautela, apesar de os integrantes da equipe ministerial reafirmarem o compromisso com ajuste da contas, um novo arcabouço fiscal e a defesa da Reforma Tributária. 

Já em relação à inflação, além da própria resiliência e da disseminação um pouco maior dos aumentos, têm contribuído para a elevação das projeções, que já estão ao redor de 6% para este ano, essa incertezas quanto à questão fiscal e as declarações de Lula quanto aos juros, inflação e autonomia do Banco Central. Persiste o receio de definição de metas mais altas, para evitar política de juros mais austera por parte do BC. Também por aí vieram esclarecimentos, mas sem conseguirem pacificar totalmente as expectativas. E ainda há dúvidas quanto à política de preços da Petrobras, diante de defasagens na PPI e possível corte de desonerações. Fatores que ajudam a sustentar alguma pressão na curva de juros. Há preocupação com o impacto de eventuais aumentos dos combustíveis sobre a inflação, mas também há preocupações com a futura gestão da estatal, que terá à frente o ex-senador Jean Paul Prates, por possível alteração na política de preços. 

E, nesta semana, tivemos a viagem de Lula e as propostas que apresentou para fortalecer as relações com o Mercosul, a Celac e, principalmente, com a Argentina. Houve muito ruído em torno da ideia de uma moeda comum, que muita gente entendeu como uma moeda única, como o euro. Nada disso. A intenção seria uma moeda provavelmente digital, para transações comerciais entre os países, para evitar o uso do dólar, das reservas dos envolvidos. Há dificuldades de implementação de qualquer modo. Não é uma iniciativa de curto prazo. Exige muitos estudos e até ajustes das economias, mas gerou muita polêmica. Assim como o anúncio de que o Brasil vai incrementar financiamentos para o comércio entre Brasil e Argentina, assim como os destinados a projetos de infraestrutura no exterior. 

Exportadores viram com bons olhos, especialmente pelo aumento do potencial de venda de manufaturados e serviços, como na área da construção. Se destacou muito a necessidade dessas operações terem garantias executáveis, que não recaiam sobre o Tesouro ou levem a calotes como ocorreram no passado, nos financiamentos a Cuba, Venezuela e Moçambique, que ainda têm dívidas em aberto. Independentemente do discurso, se questionou muito eventuais parcerias ideológicas, intenção que Lula tentou afastar na visita ao Uruguai, presidido por Lacalle Pou, político de centro direita.

Para garantir a permanência do Uruguai, que vai manter as negociações em andamento com a China, desrespeitando as regras tarifárias do Mercosul, Lula falou em modernização do bloco, com maior abertura à negociação com a China, mas tendo como prioridade o acordo com a União Europeia. Acordo paralisado, principalmente, por divergências da Europa em relação à política ambiental do governo anterior, o que deve ser superado com as mudanças que estão sendo implementada na área. O presidente também sinalizou com maior participação do Uruguai na pauta comercial do Brasil. Mas aspectos ideológicos das relações externas e a atuação do BNDES ainda devem ser pauta para muitos questionamentos.

O mercado até deu uma trégua, com menos pressão nos negócios, especialmente no feriado, favorecido até pelo ingresso de capital externo, que parece menos preocupado com o fator risco. A Bolsa ainda tem sido favorecida pelo desempenho de ações de empresas ligadas à commodities, que podem ter melhor performance com a esperada retomada da economia chinesa. O caso Americanas , mesmo com todas as dúvidas que gerou, inclusive quanto à eficácia dos controles sobre as empresas com papéis negociados em Bolsa e títulos de renda fixa, está com impacto centrado na própria empresa, com os concorrentes levando vantagem, como Magazine Luiza.

Enfim, seguimos em meio a muitas incertezas na área econômicas, com desconfianças que persistem, talvez até porque Lula não demonstre preocupação em desagradar os agentes financeiros. Ao contrário, em várias ocasiões, tem criticado a postura do mercado por, supostamente, defender o ajuste das contas em detrimento de ações na área social e segmentos prioritárias, como saúde e educação. 

De qualquer modo, do ponto de vista dos investidores, o mercado local tem oferecido boas oportunidades, tanto na renda fixa como na variável, e o ingresso de capital externo é uma indicação nesse sentido, independentemente das incertezas tanto no campo econômico, como no institucional, onde o novo governo ainda tenta uma pacificação.

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