Muito se tem falado dos atuais desafios da economia brasileira e da global. A inflação que, democraticamente, se espalhou pelo mundo, levando à alta dos juros, que devem ter nova rodada aqui e nos Estados Unidos na próxima semana. Tem o desequilíbrio das cadeias produtivas, agravado pela guerra entre Rússia e Ucrânia e novas restrições sanitárias na China. Tem a perda de fôlego da atividade, do emprego e do poder de consumo em boa parte dos países. Tudo isso colaborando para ondas de aversão ao risco e oscilações mais bruscas dos mercados, como vimos desde a última semana. São projeções pessimistas para todos os lados.
A economia norte americana já registrou queda do PIB no primeiro trimestre, dado que ainda vai passar por revisões, mas não alterou a previsão de altas mais fortes dos juros, pelo Federal Reserve, mesmo com o risco de provocar retração da economia daqui para o próximo ano. O Brasil deve escapar de uma retração, mas sem ter muito o que comemorar. Voltamos a rotina de crescimentos medíocres, sem que sejam estabelecidas condições para uma expansão mais vigorosa de longo prazo. Faltam investimentos em infraestrutura, em produtividade, reformas que deixem o País mais competitivo, com maior capacidade de geração de emprego e renda. Tem a questão da inflação e dos juros travando mais o potencial de expansão, mas mesmo sem essa combinação nociva, faltam condições estruturais para que o País possa decolar de fato, sem os curtos voos de galinha. Até se pode falar em avanços. Mas é uma lista restrita que se dilui numa análise mais ampla dos desafios que ainda temos de superar.
Estamos, na verdade, muito no foco de curto prazo, observando indicadores, projeções, movimentos dos mercados, de preços, ruídos políticos, embates entre os Poderes, ainda notícias sobre a Covid e medidas restritivas, as decisões dos países ocidentais e as reações de Putin. Mas, em algum momento será preciso voltar a discutir quando e como poderemos avançar com solidez. Claro que isso depende de um projeto macroeconômico bem estruturado, discutido politicamente, para vencer resistências como as que envolvem as Reformas, onde boas propostas sequer são discutidas com a abrangência que merecem. Os debates para as eleições poderiam ser um bom momento, não fossem os interesses eleitorais dos vários candidatos, que preferem semear pomessas. Enquanto não chegamos nesse ponto, temos de lidar com os desafios de curto prazo, como inflação e juros, até pra melhorar o desempenho pessoal nos vários aspectos, tentar maximizar resultados e reduzir riscos. E esses temas vão ser destaque na pauta da próxima semana.
Como já ressaltei , teremos a decisão do Federal Reserve, que pode confirmar as apostas de aumento da dosagem de elevação dos juros. O que pode reforçar as oscilações do mercado. No Brasil, o Copom deve elevar a Selic para 12,75%, como já sinalizou. A dúvida é se o ciclo de alta para por aí ou vai a 13,25%, como já prevê o mercado, na média, ou chega a 13,75% como esperam os que cobram postura mais austera, para garantir que em 2023 não haja novo estouro da meta. Fato é que mesmo com toda a alta dos juros que houve até agora o BC não obteve qualquer efeito sobre a inflação ou na convergência das expectativas. Não se comprometer com o tamanho de novos ajustes já pode ser um passo importante pra evitar expectativas equivocadas, num cenário de muitas incertezas e frequentes surpresas.