Esta semana, mesmo mais curta, teve uma agenda lotada de indicadores e eventos inesperados. O saldo, podemos considerar, foi até positivo. Começando com os indicadores, especialmente do mercado de trabalho, o que se viu foi o impacto ainda presente do programa de manutenção do emprego e da renda, que mantinha estabilidade no começo do ano, para milhões de trabalhadores, assim como o impacto dos números melhores da pandemia e de uma maior flexibilização das atividades.
Bastou afrouxar o cinto para a atividade reagir e gerar mais empregos. A taxa de desocupados, de 14,2% no trimestre encerrado em janeiro, apesar de a mais alta para o período, também mostrou importante aumento da ocupação. A busca maior de vagas é o que fez a taxa de desemprego avançar. É um termômetro do potencial de recuperação da economia se houver maior controle da pandemia.
Isso não significa que o caminho seja fácil. A questão fiscal ainda pesa muito. O orçamento deste ano, que poderia ter dado uma trégua, só trouxe mais tensão ao incluir manobras contábeis para ampliar emendas parlamentares, com cortes de despesas impraticáveis, comprometendo o teto, o custeio da máquina e colocando o governo sob risco de pedaladas ilegais.
Mas a surpreendente reforma ministerial acabou gerando expectativas mais favoráveis nesse sentido. Apesar do susto com as mudanças na área da Defesa e das Forças Armadas ficou a percepção de um avanço do Centrão sobre o governo, que já garantiu a saída de Ernesto Araujo das Relações Exteriores, ainda colocando Flávia Arruda na Casa Civil, o que pode, de um lado, facilitar o encaminhamento da agenda no Congresso (embora o orçamento não tenha sido um bom exemplo) de outro, induzir a aceleração de medidas de combate à pandemia, até com aceleração na aquisição de vacinas.
Os recados políticos já foram muito claros nesse sentido. Mesmo que Bolsonaro insista em ver um “estado de sítio” na atuação dos governadores, não parece haver muito espaço para ele ir contra essa situação, que produz resultados no enfrentamento à pandemia. E a volta do auxílio emergencial, ainda que mais restrito, pode dar algum ânimo à mais na atividade, com repercussão, inclusive, na Bolsa.
Mesmo que haja ressalvas quanto à atuação e interesses do Centrão, o País precisa de ações e estratégias mais coerentes. Muito do que se vê de pressão no dólar vem da sensação de desgoverno, da imprevisibilidade, da falta de bom senso em questões fundamentais, prioritárias, como a pandemia.
Não dá, porém, para contar com um céu de brigadeiro a partir de agora. Ainda há muita nebulosidade nas relações entre governo e Congresso, falta maior entendimento quanto às reais causas de todas as mudanças ministeriais, não se pode contar com mudanças mais efetivas em determinadas posturas do presidente e a economia tem problemas sérios a serem gerenciados, assim como a pandemia, que continua em curva ascendente.
Mas ficou a leitura de que pode haver um maior entendimento político, o que até favoreceu uma acomodação do mercado enquanto as redes sociais estavam em ebulição.
Calmaria? Melhor não apostar muito. Mas pode estar sendo montado um quebra-cabeças para que o País e o mercado, consequentemente, possam avançar com menos turbulência, até aproveitando mais as ondas favoráveis que vêm de fora.
Confirmada essa perspectiva, o País pode, inclusive, reverter as perdas de capital externo, tão importantes para alavancar movimentos mais positivos do mercado local.
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