Nesta segunda-feira (07) entra em vigor uma nova regra aprovada pelo Banco Central (BC) em que todos os valores a receber via cartões serão registrados em um sistema unificado, permitindo que outras empresas, além das adquirentes, possam utilizar os recebíveis como garantia para empréstimo.
Os recebíveis de cartão de crédito são uma das garantias mais usadas para crédito no Brasil, sendo na forma da antecipação dos recebíveis ou como garantia de empréstimo bancário com fluxo do adquirente.
Para o crédito bancário, a prática de mercado é reter todo o fluxo de pagamentos na conta da instituição como forma mitigar a inadimplência, deixando recursos presos nas contas das empresas.
Com a mudança, os fluxos retidos pelo banco serão limitados ao saldo devedor, abrindo espaço para que a empresa negocie o restante do fluxo e na prática tenha acesso a mais crédito.
Especialmente no segmento de pequenas e médias empresas, os problemas relacionados à inadimplência e fraude, onde os clientes tentam obter crédito com o mesmo recebível em duas instituições financeiras, são elevados. A nova regra pretende diminuir drasticamente este problema. A menor expectativa de inadimplência também deve causar forte impacto nos juros cobrados, tornando o crédito mais barato.
E Eu Com Isso?
A nova regra do Banco Central traz diversas ramificações complexas para vários setores, com um futuro ainda incerto, porém fica claro que o pequeno varejista é o maior vencedor da mudança, possibilitando acesso a mais crédito a um valor menor.
Para os grandes bancos a nova regra pode parecer uma perda de mercado, porém não é necessariamente verdade.
O acesso ao fluxo completo de recebíveis vai permitir que as instituições com as áreas de crédito mais estruturadas do país tenham acesso aos dados dos concorrentes, podendo compensar a queda nas taxas compradas com a redução da inadimplência e conquistando clientes até mesmo de fintechs e bancos digitais.
Para as fintechs e bancos digitais, a nova regra significa um novo nível de acesso aos clientes, permitindo atacar a vasta base de clientes dos grandes bancos no mercado, podendo se diferenciar com algoritmos mais modernos e consequentemente preços mais baixos.
Grandes plataformas de marketplace já vinham oferecendo empréstimos a seus Sellers, em geral vinculadas aos recebíveis dentro de seus sites, porém com a compra de fintechs, e até bancos, pelas principais delas, a forma de atuar como parceiro para crédito também pode ajudar a expandir o relacionamento.
Como já foi dito diversas vezes pelas empresas, parte do projeto delas é a digitalização do pequeno varejo e poder ofertar crédito de maneira digital se encaixa perfeitamente nessa estratégia.
Além de todos os citados acima, ainda temos outros tipos de empresas, como é o caso de empresas de software que ofertam crédito, que também pode ser beneficiada pela medida, trazendo mais dados para cálculo das ofertas.
Grande parte da economia do país é informal e utiliza cartões como forma de recebimento. Acreditamos que a medida pode trazer no médio prazo impactos significativos para o apetite de crédito do mercado como um todo, dando acesso a recursos para quem antes não os tinha, estimulando o crescimento econômico como um todo.
—
Este conteúdo faz parte da nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.
—