A semana foi de discussões sobre juros, inflação e metas. A ata da reunião da semana passada do Copom acabou amenizando a indicação de maior cautela do comunicado divulgado junto com a decisão de manutenção da Selic em 13,75%. A ata ainda usou palavras como paciência, serenidade, cautela, parcimônia, só que a avaliação da maior parte dos membros do Comitê é que o movimento desinflacionário em curso, com impacto nas expectativas, pode assegurar a confiança necessária para início de um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião. É provável que em agosto ocorra um primeiro corte, de 0,25pp. Essa diferença de tom entre o comunicado e a ata até gerou desconfiança quanto à influência política, dada a enxurrada de críticas sobre o BC e Roberto Campos Neto. Mas é importante observar que os integrantes do comitê foram unânimes em concordar que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas, em especial de prazo mais longo, do hiato do produto e do balanço de riscos. Entre os riscos não vamos esquecer que o arcabouço fiscal ainda não foi aprovado no retorno à Câmara.
Mas no que se refere à inflação, os índices continuam colaborando para um cenário propício ao corte dos juros. O IPCA 15 de junho, com variação de apenas 0,04%, manteve a trajetória de desaceleração. Em abril tinha subido 0,57%, em maio 0,51% e em junho do ano passado 0,69%. Em 12 meses a variação acumulada caiu para 3,4%. Além da perda de ritmo, a composição do IPCA 15 veio melhor, com a disseminação dos aumentos indo de 64% em maio para 51% neste mês. O IGP-M recuou 1,93% em junho, após baixa de 1,84% no mês anterior. Com isso passou a acumular baixa de 6,86% em 12 meses.
Fora os constantes cortes das projeções do mercado, o Banco Central, no relatório trimestral de inflação, cortou a projeção do IPCA de 2023 de 5,8% para 5,0%; a de 2024 para 3,4% e de 2025 para 3,1%. Pra fechar o “pacote” teve a decisão do Conselho Monetário Nacional de mudar o período de referência da meta que não seguirá mais o ano calendário. A meta contínua mantida em 3% evita a desconfiança quanto a uma possível leniência até do Banco central no controle da inflação. Consequentemente o BC poderá trabalhar com menos pressão no cumprimento da meta, reforçando a tendência de corte dos juros.
É importante ressaltar, porém, que os cortes ainda devem manter os juros em patamar elevado por um bom tempo. Os mais otimistas falam em Selic a 12% no final do ano. O que fará diferença será a mudança de sinal, até porque em termos reais, com a queda da inflação nos últimos meses, os juros ficaram ainda mais elevados. Mas o início dos cortes, com arcabouço aprovado, o Desenrola, mais programas de transferência de renda e alguma melhoria da massa salarial poderão levar a reduções maiores do custo do crédito, hoje relacionado não só à Selic e às incertezas fiscais, mas também ao endividamento e inadimplência elevados. De qualquer modo, ainda que as projeções estejam acima dos 2% de expansão do PIB neste ano, à expectativa é de desaceleração do crescimento, com previsões mais modestas para 2024. O impulso deste ano, que ajudou na elevação das projeções vem muito do setor agropecuário, da supersafra, que, aliás, também tem colaborado para a evolução mais favorável da inflação.
De qualquer modo é possível que tenhamos um cenário econômico mais tranquilo no âmbito doméstico, mesmo que ainda marcado por grandes desafios, alguns vindos do exterior, como as políticas de juros dos vários bancos centrais. Só que podemos ter a combinação de crescimento, com inflação mais baixa, juros em queda e expectativa de ajuste das finanças públicas. É torcer pra que essa expectativa se confirme.