A segunda-feira (29) foi um dia de movimentações intensas em Brasília. O que começou como uma troca no Ministério das Relações Exteriores evoluiu para uma reforma ministerial ampla. Além do chanceler Ernesto Araújo, outros cinco integrantes do primeiro escalão do governo foram substituídos, entre eles o Ministro da Justiça e os titulares da Secretaria de Governo e da Advocacia Geral da União.
A saída de Araújo e a troca na Justiça têm poucos efeitos práticos. A mudança mais importante em termos políticos ocorreu na Secretaria de Governo, que é responsável pela interlocução entre Executivo e Legislativo. Saiu o general Luiz Eduardo Ramos, que foi para a Casa Civil, e entrou a deputada Flávia Arruda (PL-DF). Deputada mais votada pelo Distrito Federal, ela era presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO) e é muito ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Sua indicação deve aparar arestas e facilitar o trânsito entre o Planalto e o Congresso.
A questão de várias centenas de bilhões de reais, porém, é outra: o trânsito entre os Poderes vai fluir melhor, mas qual será a direção do governo? E essa resposta faz toda a diferença no bolso dos investidores.
Vamos retroceder alguns dias. Na semana passada, o pouco diplomático bate-boca entre o ex-chanceler Araújo e os membros da Comissão de Assuntos Exteriores do Senado, em especial a senadora Kátia Abreu (PP-GO), ocupou muito espaço nas manchetes. No entanto, isso não tem nenhuma importância.
O principal problema passou desapercebido: o Orçamento aprovado para 2021 pode levar a uma paralisação das atividades do governo. Só para dar um exemplo, os cortes tornaram inviável a realização do Censo este ano e levaram à demissão de Susana Cordeiro Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Alterar o Orçamento já aprovado vai requerer uma costura política complicada e um domínio do baixo clero no Parlamento, sempre ágil quando o assunto é dinheiro público. Ter uma profissional da política na Secretaria de Governo reduz atritos e tensões e torna as mudanças possíveis e menos traumáticas.
As alterações no Orçamento são a questão mais urgente, mas não a mais importante. As reformas permanecem paradas. Faltam pouco mais de 18 meses para a eleição que vai definir o novo presidente da República, os governadores e boa parte do Legislativo. Com a aproximação do pleito, as atenções do Parlamento se deslocam das propostas para as urnas, o que inviabiliza qualquer proposta de reforma minimamente ambiciosa. Por isso, a direção que o governo tomar nos próximos dias será decisiva para a tomada de decisão do investidor. Só então será possível saber se é para comprar ou vender.
Cenário Internacional
A terça-feira começou agitada no mercado internacional. A remuneração dos títulos de dez anos do Tesouro americano chegou a 1,77 por cento ao ano, maior nível desde o início da pandemia. O que elevou os juros foi a aproximação do anúncio das medidas de estímulo à infraestrutura pelo presidente americano Joe Biden, agendada para a quarta-feira (31). Esse pacote de estímulos pode chegar a 3 trilhões de dólares e vai focar em obras para estimular a economia, reduzir as emissões de carbono e a desigualdade social nos Estados Unidos. Como o Federal Reserve (Fed) não dá sinais de que pode elevar os juros no curto prazo, os investidores interpretam esse pacote como algo que pode pressionar a inflação, daí a alta dos juros dos títulos do Tesouro.
Indicadores
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 2,94 por cento em março. Com este resultado o índice acumula alta de 8,26 por cento no ano e de 31,10 por cento em 12 meses. Em março de 2020, o índice havia subido 1,24 por cento e acumulava alta de 6,81 por cento em 12 meses, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Os três componentes do índice mostraram aceleração. A inflação no atacado, que responde por 60 por cento do IGP-M, subiu 3,56 por cento em março, ante 3,28 por cento em fevereiro. No varejo, os preços subiram 0,98 por cento em março, ante 0,35 por cento em fevereiro. E o índice de inflação na construção civil, que responde por 10 por cento do índice, subiu 2,00 por cento em março, ante 1,07 por cento no mês anterior.
E Eu Com Isso?
A terça-feira começa com uma leve queda tanto nos contratos futuros de Ibovespa quanto nos do índice americano S&P 500. A baixa ocorre devido às incertezas dos investidores com relação à reforma ministerial (no Brasil) e do impacto do pacote de estímulo à economia (nos Estados Unidos). No entanto, mudanças adicionais no cenário político podem provocar alterações no cenário.
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