A política continua contaminando a economia, que já convive com grandes desafios. As manifestações de 7 de setembro, as falas do Bolsonaro, as posturas mais firmes do STF e do TSE, a movimentação de vários partidos no sentido de discutir um possível impeachment do presidente e a conturbada paralisação dos caminhoneiros, supostamente em apoio ao governo, aumentaram as incertezas quanto ao cenário político, com o qual teremos de conviver até as eleições de 2022.
Esse contexto amplia as incertezas, também, quanto ao andamento da economia. Incertezas essas que trazem maior volatilidade para o mercado e deixam o investidor mais cauteloso, inclusive o de longo prazo, que pode adiar decisões para 2023. E a volatilidade do mercado pode agravar problemas com a inflação, que continua rodando acima das expectativas, como ocorreu com a alta de 0,87% do IPCA em agosto. Sendo que a inflação ainda terá o efeito, a partir deste mês, da nova alta de energia e de todo o impacto indireto que pode vir por meio do repasse do aumento de custo para as empresas. Inflação mais alta leva à revisão das projeções também para a elevação da Selic, configurando uma trava maior no potencial de expansão da economia.
Por mais que se confie no compromisso do Banco Central em fazer a inflação caminhar para o centro da meta em 2022, o trabalho fica mais difícil com a instabilidade política, que, entre outros efeitos, mantém o dólar em patamar mais alto. Além disso, essa instabilidade pode atrapalhar a agenda de votações no Congresso e entendimentos que envolvem a questão fiscal. Segue em aberto o que pode acontecer com a Reforma do Imposto de Renda, com os Precatórios e a possível ampliação do Bolsa Família. E preocupações fiscais também tornam mais difícil a execução de uma política monetária eficiente no sentido de controlar a inflação.
Ainda é preciso ressaltar que parte da composição da inflação é independente de consumo, que é por onde se tem mais impacto da alta dos juros. A crise hídrica, decorrente de fatores climáticos, vem prejudicando as lavouras, o que pesa nos preços e no desempenho da agropecuária. Os preços de energia sobem também pelas condições climáticas que levaram ao uso mais intenso das termelétricas. Ainda persiste o desequilíbrio na oferta de insumos para a indústria, a ponto de comprometer a produção de veículos e outros setores. Os juros podem agir no sentido de limitar o repasse do aumento de custos, mas até certo ponto.
Não há uma situação de descontrole da inflação, mas não é muito animador ver a inflação em 12 meses chegar a 9,69%, com o acumulado no ano, até agosto, em 5,67%. E a inflação em oito meses já vem superando o teto da meta, de 5,25%.
Todo esse cenário leva à revisão, pra baixo, das projeções de crescimento da economia, neste e no próximo ano. Já temos, pela primeira vez, a projeção média do PIB de 2022 abaixo de 2%. E isso antes do agravamento do cenário político, pós 7 de setembro.
Claro que o mercado oferece boas oportunidades. As ações têm tido quedas incompatíveis com os resultados das empresas e da própria economia. Os juros em alta ampliam as chances de ganho na renda fixa. Mas é preciso um planejamento muito mais cuidadoso, para estabelecer as melhores estratégias. Ainda mais considerando que são poucas as chances de pacificação do cenário político.
Nas condições atuais, não há muitas brechas para um entendimento entre os Poderes. O Congresso pode até avançar com algumas pautas importantes, mas também é bom lembrar que algumas dessas pautas não necessariamente vão ter uma repercussão positiva. Vale lembrar as incertezas quanto aos efeitos da Reforma do IR, por exemplo, até no que se refere à arrecadação, ou da PEC dos Precatórios. A antecipação do clima eleitoral, que já vem ocorrendo há um bom tempo, tem feito muito mal para o País, revertendo as expectativas de um 2022 bem mais favorável para a economia.