Apesar da tão falada melhoria das perspectivas para a economia brasileira, seguimos com incertezas que diminuem a segurança na prospecção do cenário futuro. Há um andamento mais favorável da economia em vários aspectos, mas com “pontinhos” de dúvidas que podem atrapalhar projeções mais otimistas. O fiscal é um exemplo. O Congresso retomou os trabalhos pós recesso, mas com muito mais foco da política, nas CPIs, nas articulações entre partidos e governo na troca de Ministérios, cargos, por apoio que pode não ser tão garantido assim. Partidos como PP, Republicanos e mesmo União Brasil, que já tem ministros, estão divididos internamente e podem não formar base mais segura. O governo pode ter de continuar usando liberação de emendas como moeda de troca.
Mas, voltando ao cenário econômico, as conversas ainda avançam para a aprovação final do arcabouço pela Câmara, após mais exceções ao teto de gastos colocadas pelo Senado. O Senado, de outro lado, pode demorar para uma conclusão sobre a reforma tributária. Estimativas do governo comprovam que o excesso de isenções, reduções de alíquotas, pode levar a uma alíquota maior do novo tributo, acima de 27%.
Na questão fiscal ainda se vê o próprio governo tentando driblar os limites de gastos do arcabouço, ao tentar deixar de fora R$ 5 bilhões para os investimentos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. O reforço dos projetos de infraestrutura é importante para o crescimento da economia, mas crescimento sustentável, com estabilidade, confiança para o investimento privado, depende muito da confiança quanto ao compromisso fiscal do governo. Deixar os investimentos do PAC fora dos limites do arcabouço já caracteriza um drible antes da largada.
E não vamos esquecer que a melhoria da avaliação do País pela agências de classificação de risco está relacionada à confiança no arcabouço e no avanço das reformas.
Agora, independentemente, desse possível drible no teto de gastos, já há dúvidas quanto às condições de cumprimento das metas fiscais propostas: o déficit de 0,5% do PIB neste ano e zerado em 2024. É o motivo do esforço de Haddad e equipe para emplacar medidas que possam reforçar receita.
Situação destacada até na ata do Copom, onde o Comitê sinalizou novos cortes de 0,50 ponto na Selic, mas buscou esfriar a especulação quanto a um corte maior, de 0,75%, como muitos já cogitavam, inclusive, influenciando a curva de juros. Em princípio, a Selic deve fechar o ano em 11,75%, caminhando para 9% no ano que vem. Uma política monetária ainda restritiva entre outros fatores pela condição fiscal. Além disso, o Copom aguarda queda mais substancial das projeções de inflação e da inflação de serviços, já focado na meta mais longa, de 3%. Aqui vale destacar a expansão de 0,2% de Serviços em junho, com revisão para cima dos dados de maio e a variação positiva dos serviços prestados às famílias. O desempenho do setor deve ajudar a evitar uma retração do PIB no segundo trimestre, como se cogitou, só que tende a manter a resiliência do aumento de preços, como observado na ata do Comitê.
De qualquer modo, mesmo com todas essas ressalvas, as expectativas para a economia estão melhores. E embora a divisão da votação do Copom tenha evidenciado a cautela de parte dos diretores com alguns dos pontos citados, a sinalização de novos cortes de 0,50, por unanimidade, não deixa de ser uma indicação de confiança.
O que tem pesado mais no mercado, nos últimos dias, tem sido o noticiário externo. Aumentou o receio que a China não alcance o crescimento esperado, após os dados frustrantes da balança comercial e a deflação, que em boa medida reflete uma demanda mais contida. Se contava com expansão bem mais consistente após o abandono da política de Covid zero. E tem as preocupações com os Estados Unidos que, após o corte da nota de crédito pela Fitch, diante da piora das condições fiscais e a demora nas negociações entre governo e Congresso sobre teto da dívida, ainda teve dez pequenos e médios bancos rebaixados pela Fitch. O Federal Reserve, mesmo considerando problemas como esses, ainda sinaliza possível novo aumento dos juros neste ano, o que amplia o risco de retração da economia. A inflação de julho não muda muito a perspectiva, com a variação mensal de 0,2% e a anual indo a 3,2%, acima dos 3% da medição anterior. A meta lá é 2%.
Esses são alguns dos fatores que têm mexido com o humor do mercado, deixando o investidor mais cauteloso. Investidor que já tem de lidar com a perspectiva de menor rentabilidade das aplicações atreladas aos juros, após o início do ciclo de cortes da Selic.