Denise Campos de Toledo EECI

Cenário mais nebuloso em meio à onda de maior otimismo

O cenário benigno da economia, que colocou o mercado em um embalo mais favorável, ficou um pouco nublado nos últimos dias. É uma fase de divulgação dos balanços, que provoca oscilações nas expectativas, principalmente no exterior. Mas, por aqui, também temos oscilações por dados setoriais, previsões para os juros e até estimativas de possíveis impactos da reforma tributária sobre os vários setores, fora as variações de preços de commodities no mercado internacional. No exterior, o mercado ainda aguarda a reunião da próxima semana do FOMC. O Federal Reserve, após uma pausa, deve voltar a elevar as taxas em 0,25 ponto, sinalizando que futuros passos vão depender do acompanhamento dos indicadores. Apesar de alguns dados de atividade e o próprio recuo da inflação terem aberto a possibilidade de menos ajustes dos juros. Cenário ainda a ser confirmado. Claro que decisões do FED também têm impacto por aqui.

No âmbito doméstico, o recesso parlamentar esfriou um pouco o ânimo quanto ao avanço das pautas econômicas. A aprovação do arcabouço pela Câmara, com revisão de novas exceções aos gastos, propostas pelo Senado, ficou para agosto. Também ficou para o próximo mês a votação do Projeto do Carf no Senado e o início das discussões, pela Casa, da PEC da Reforma Tributária aprovada na Câmara.

Outro fator que mexeu com as expectativas foram os dados de atividade de maio, com tombo das vendas do comércio, queda de 2% no IBC-Br no mês e de 3% no monitor do PIB-FGV. Isso em meio a um ciclo de revisão pra cima das projeções do PIB deste ano, como tem mostrado o relatório semanal Focus. O governo, no Boletim Macrofiscal, elevou a previsão do Produto Interno Bruto de 2023 de 1,9 para 2,5%.

Essa revisão otimista das projeções teve muita relação com o avanço surpreendente de 1,9% do PIB do primeiro trimestre, quando se esperava algo bem mais modesto. Só esse avanço, pelo carregamento, já assegura expansão de mais de 2% no ano. A questão é que o resultado veio muito do agro, com a safra recorde de grãos. Passado o período mais forte de colheita da soja, ficou a base de comparação mais elevada, que já dificulta a manutenção ritmo. Além disso, há travas na expansão da atividade, como o endividamento e a inadimplência elevados, que o governo tenta minimizar com o Desenrola. Programa que, além de limpar o nome de quem tem débitos atrasados de cem reais, ainda vai facilitar a renegociação das dívidas com atraso de até R$ 20 mil. A reorganização das finanças pode liberar esses devedores para retomarem planos de consumo. E ainda tem os juros básicos impactando o custo do crédito, de investimentos e os vários ramos de atividade. São condições que explicam a instabilidade do crescimento e o movimento desigual entre os setores,

O esperado início dos cortes da Selic, em agosto, deve trazer algum alívio neste cenário. A combinação da previsão de inflação mais baixa com a perda de ritmo da economia reforça inclusive a possibilidade de um corte de 0,50 ponto, justificável até pelo atraso da flexibilização. Com o posicionamento cauteloso de Roberto Campos Neto, é possível que a redução fique em apenas 0,25. A conferir qual será o posicionamento do Comitê, agora com dois novos integrantes, especialmente, Galípolo, ex-secretário da equipe do Ministério da Fazenda, alinhado às críticas contra o aperto monetário. 

De qualquer modo, já há algum tempo o mercado, via curva de juros, vem incorporando alívio maior da política de juros, que recomenda um reposicionamento ou avaliação mais cuidadosa dos investimentos em renda fixa.

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