Denise Campos de Toledo EECI

Cenário mais benigno não garante perspectivas melhores para 2023

O balanço dos recentes indicadores econômicos do País mostram um cenário dos mais favoráveis. Ainda que com uma certa perda de ritmo, os dados do Caged e da PNAD reafirmam a recuperação do emprego, com reposição também das perdas de rendimento. Mesmo que o ganho médio dos trabalhadores siga abaixo do pré-pandemia, a massa salarial faz diferença no ritmo do consumo e na percepção das condições atuais. Percepção também favorecida pela queda da inflação, ainda muito reflexo do corte do ICMS e a baixa dos combustíveis, mas também mostrando os efeitos do recuo de preços de commodities no exterior e uma certa diminuição da disseminação dos aumentos.
Paralelamente à questão do emprego se nota o impacto de medidas de estímulo, que até favoreceram a expansão de 1,2% do PIB no 2º trimestre, acima do esperado. O consumo das famílias, independentemente das dificuldades alimentares que milhões de brasileiros enfrentam e da desigualdade de renda, tem mostrado os reflexos da flexibilização das atividades, queda do desemprego, liberação do FGTS, antecipação do 13o dos aposentados, do Auxílio Brasil de R$ 600,00 que deve fazer mais diferença agora, a partir do 3º trimestre, assim como os benefícios para caminhoneiros e taxistas. 
Além dos dados melhores de emprego, renda e inflação, as contas públicas mantém uma evolução mais benigna, muito sustentada pelos recordes de arrecadação. Em julho, o aumento da arrecadação, o pagamento de dividendos recordes da Petrobras e o adiamento de precatórios fizeram o governo central  registrar superávit primário de R$ 19,308 bilhões, o maior para o mês desde o início da série histórica.
O que temos é a previsão de inflação ao redor de 6,5% no fechamento do ano, expansão do PIB acima de 2%, saldo primário do governo no azul, recuperação da renda e do emprego. Estaríamos, então, em um céu de brigadeiro? Não. E é o que explica a cautela generalizada que vemos na análise das perspectivas para a economia em 2023.
Como até citei, parte da performance melhor vem de fatores que podem não se repetir no próximo ano. Preocupa, principalmente, a evolução das contas públicas, sem o impacto da inflação elevada sobre a arrecadação, com uma provável diminuição da  receita proveniente das commodities, pela queda dos preços no exterior, e o desequilíbrio nas receitas dos Estados, pelo teto fixado para o ICMS, com consequente reposição de parte das perdas pelo governo federal, garantida judicialmente. Ainda tem o peso a ser administrado das medidas populistas lançadas perto das eleições, como o Auxílio Brasil de R$ 600,00. A proposta orçamentária de 2023 contempla o benefício no valor de R$ 405,21, mantendo a desoneração para os combustíveis e previsão de aumento para os servidores de menos de 5%. Verbas para emendas do relator são preservadas, sem outras promessas do governo, como correção da tabela do IR e reajuste do mínimo.
A gestão do orçamento, do teto de gastos e de promessas de campanha serão um desafio para qualquer candidato eleito em outubro.
Mas as dificuldades não param por aí. Tem o desafio dos juros e a inflação. Mesmo em desaceleração, as projeções do IPCA para o próximo ano ainda estão acima do teto da meta, o que sugere a manutenção da Selic elevada por mais tempo, com impacto contracionista sobre a atividade. Daí a previsão de PIB muito baixo ou até negativo para o ano que vem. Nesse sentido ainda pode vir o reforço da possível recessão global, também diante de um contexto de inflação elevada a ser combatida com juros em alta, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, que ainda enfrenta sérias ameaças na área energética. Já a China sofre as consequências das restrições por conta da meta de Covid zero, além dos problemas de energia pela falta de chuvas, que podem levar a uma expansão inferior a que se previa, mesmo que o governo lá tenha muito mais margem de manobra para intervenções e medidas de estímulo.
Essas projeções para a conjuntura externa podem afetar o Brasil via fluxo de investimentos (onde também vão pesar as condições domésticas definidas pela gestão do novo governo) e receita das vendas de produtos básicos, que dominam a pauta exportadora, com importantes reflexos sobre tributos, dividendos e royalties, no caso do petróleo.
Portanto, quando se relativiza as perspectivas para a economia brasileira em 2023, apesar dessa onda de dados melhores que os previstos para este ano, é porque se sabe dos desafios que o País tem pela frente. E desafios que envolvem também as incertezas quanto ao resultado das urnas e a postura do futuro governo, os planos para a economia, o ambiente institucional.
Podemos ter um 2023 melhor que o sinalizado? Podemos. Mas vai depender muito da capacidade de o governo eleito gerenciar essas dificuldades, passar credibilidade, avançar com a Reformas e lançar programas que possam estimular investimentos domésticos, atraindo também o capital externo. Confiança vai contar muito no potencial de reação da economia em meio a todos esses desafios.

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