O cenário macroeconômico segue dividido entre dados acima das projeções e sinalizações que preocupam em várias direções. O mercado de trabalho voltou a mostrar recuperação bem mais favorável que a esperada, tanto o Caged, com a geração de mais de 277 mil vagas em maio, como a PNAD, com o desemprego em queda para 9,8%, a menor desde outubro de 2015. Em termos de atividade, o ritmo segue positivo, independentemente das expectativas de algum impacto represado do ciclo de aperto dos juros. Além do mercado, o Banco Central elevou a projeção do PIB deste ano de 1% para 1,7%. E o IBCBr teve expansão de 1,1% no primeiro trimestre em relação ao quarto de 2022.
Um dos principais pontos de incerteza ainda é a inflação. Neste ano, as mexidas nos tributos, principalmente no ICMS sobre os combustíveis, devem ter algum efeito desinflacionário. Mas o próprio BC já admite o estouro do teto da meta, com probabilidade maior de isso ocorrer também em 2023. Mesmo após a indicação de novo ajuste da Selic em agosto, quando deve chegar a 13,75%, e manutenção de juros mais altos em horizonte mais longo. Só esse posicionamento da autoridade monetária já fez aumentar a aposta em mais elevação da Selic. Fato é que, fora o espalhamento dos aumentos, desequilíbrios da oferta e pressões externas, há dúvidas quanto ao impacto dos estímulos do governo, como aumento do valor e do número de beneficiários do Auxílio Brasil, o voucher caminhoneiro e a isenção da tarifa de transporte para os aposentados. Tudo isso representa maior injeção de recursos na economia, que pode ter reflexos sobre preços, pelo impacto no consumo.
Por outro lado, o pacote de “bondades” aumenta também as incertezas fiscais. É mais uma manobra extrateto, que pode gerar compromissos para o próximo ano. Difícil contar com a reversão das mudanças do Auxílio Brasil, mesmo que em 2023 haja maior foco no ajuste das finanças. E, neste cenário de incertezas, ainda é preciso considerar as dúvidas quanto à política econômica a ser implementada a partir do próximo ano, seja qual for o resultado das urnas. Não se sabe se o teto, já tão desrespeitado, será deixado de lado, se serão fixados novos parâmetros para aumento das despesas. E ainda tem o cenário externo conturbado, onde as políticas de aperto monetário aumentam a possibilidade de retração e não apenas desaceleração da atividade.
São preocupações que já têm interferido nas reações do mercado, aqui e no exterior. Sendo que, localmente, já houve um enfraquecimento substancial da Bolsa, com o dólar em patamar superior ao previsto e pressões na curva de juros embora boa parte do mercado ainda conte com uma parada da Selic nos 13,75%.
Enfim, há divergências entre um cenário mais benigno de curto prazo, que tem desafiado as projeções mais pessimistas, e as perspectivas mais desafiadoras para 2023, até por essas estratégias que buscam resultados imediatistas e envolvem, inclusive, a proposta de um estado de emergência. Além do teto de gastos, é preciso driblar as restrições da legislação eleitoral, menos de cem dias das eleições. São medidas que podem dar fôlego para a economia, mas com consequências não favoráveis do ponto de vista do controle da inflação e do risco fiscal. Incertezas persistem em várias direções.