A CCR (CCRO3) divulgou seus números referentes ao quarto trimestre de 2020 na noite de quinta-feira (03), após o fechamento do mercado. A companhia apresentou resultados positivos, em linha com as expectativas de mercado.
A companhia reportou uma queda da receita líquida de 3,3 por cento na comparação anual, totalizando 2,6 bilhões de reais no 4T20. No acumulado do ano, esse recuo foi de 5,8 por cento, registrando 8,9 bilhões de reais em 2020.
Em relação ao seu Ebitda ajustado, a companhia apresentou queda de 29,1 por cento na comparação ano a ano, contabilizando 1,0 bilhão de reais no quarto trimestre de 2020. Sua margem Ebitda apontou uma redução de 15,1 pontos percentuais no período, alcançando 41,6 por cento no trimestre.
Os resultados do trimestre foram impactados por custos extras e amortizações devido à proximidade dos vencimentos da Nova Dutra e Rodonorte. Dessa forma, a CCR encerrou seu ano com com uma queda de 86,7 por cento do seu lucro líquido em comparação à 2019, totalizando 191 milhões de reais em 2020.
Em termos de endividamento, a companhia se manteve em patamares similares ao observado no ano anterior, levemente superior, com nível de alavancagem financeira (dívida líquida sobre Ebitda ajustado) de 2,4 vezes em 2019 para 2,9 vezes em 2020.
Um destaque negativo foi a queda de 0,1 por cento no tráfego de veículos nas rodovias com pedágio da CCR.
E Eu Com Isso?
A CCR divulgou resultados positivos, porém de leitura complexa devido aos diversos eventos não recorrentes ocorridos no trimestre, que incluíram provisões excepcionais associadas à MSVia, reversão de receitas do Metrô Bahia, baixa contábil (write-off) de ativos fixos no aeroporto de San José, entre outros. Após os ajustes, os números ficaram próximos às expectativas do mercado, razão pela qual esperamos impacto neutro no preço das ações (CCR3) no curto prazo.
Conforme os números publicados, o ano foi particularmente desafiador para a CCR e demais concessionárias de infraestrutura em decorrência da abrupta e prolongada queda de fluxo de veículos nas rodovias e de passageiros nos aeroportos e metrôs em decorrência da pandemia do Covid-19. A recuperação ocorreu somente nos últimos meses do ano. Nesse momento, reequilíbrios estão em discussão para compensação desse evento de força maior, os quais podem proporcionar ganhos significativos para a companhia e, assim, impactar positivamente suas ações.
Adicionalmente, a empresa reportou sua expectativa (guidance) em termos de investimentos para 2021, totalizando 1,9 bilhão de reais. É um número elevado, amplificado pelo acordo de leniência no âmbito da Rodonorte, que exigirá desembolso de 547 milhões de reais, e pelos investimentos em concessões recentes, como ViaSul (375 milhões de reais) e ViaCosteira (181 milhões de reais).
A despeito de esses investimentos ocorrerem em um momento no qual a alavancagem líquida da companhia é crescente, atingindo 3,0x ao final do trimestre, acreditamos que, no patamar atual de juros, a companhia não terá dificuldades em pagar os juros do seu endividamento através da geração de caixa livre recorrente da companhia.
No entanto, um ponto de observação esse ano é a liquidez. A CCR possui vencimentos de aproximadamente 5 bilhões de reais em 2021, ante uma posição de caixa e equivalentes de 6 bilhões de reais. Como a empresa precisa manter uma reserva mínima de liquidez, certamente captações de dívida e/ou emissões de ações serão necessárias para equilibrar esse quadro ao decorrer do ano. Dada a força do perfil de crédito da companhia, acreditamos que não haverá dificuldades para rolagem das dívidas.
A despeito dos desafios ainda impostos pela pandemia, mantemos uma visão favorável para a companhia no médio prazo. A CCR encontra-se adequadamente posicionada para aproveitar as próximas licitações de projetos de infraestrutura esperadas para 2021, que serão fundamentais para reposição da receita que será em breve perdida com o vencimento dos contratos da RodoNorte, em novembro de 2021, e da NovaDutra, em fevereiro de 2022. Nesse contexto, o principal risco reside em novos lockdowns, que devem permear as próximas semanas em função da aceleração da pandemia no país. Como efeito, os resultados do primeiro trimestre, e possivelmente do segundo, serão afetados negativamente.
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