Já comentamos por aqui, em outras edições, a crescente insatisfação do Senado Federal com o Executivo em função da falta de concessões de poder dentro da Esplanada dos Ministérios.
Enquanto os deputados têm cinco ministérios em suas mãos, os senadores não estão no primeiro escalão de nenhuma pasta do governo.
Nesse contexto, foram renovados os pedidos de mudança na titularidade de algumas cadeiras ministeriais para contemplar esse grupo político, em meio, também, à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, que tem deixado o presidente mais acuado, e a sabatina do advogado-geral da União, André Mendonça, para a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal.
Quem encabeça as negociações é o próprio Centrão.
Entre as possíveis modificações, cogita-se substituir os ministros Luiz Eduardo Ramos, atualmente chefe da Casa Civil, e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ministro da Secretaria Geral da Presidência por nomes de peso da base aliada do Senado – vale ressaltar que ambas as pastas têm ligação com a articulação política do Planalto no Congresso e em outras frentes.
Há, contudo, alguns receios com possíveis trocas por parte de governistas. Para substituir os respectivos ministros, estão sendo ventilados os nomes de Ciro Nogueira (PP-PI) e de Davi Alcolumbre (DEM-AP), mas a manobra é especialmente arriscada porque um possível desentendimento entre Bolsonaro e os senadores poderia levar à demissão e, consequentemente, esvaziamento da base aliada.
Sendo assim, na prática, Bolsonaro nunca poderia exonerar esses ministros, sob pena de perda de sua coalizão política.
Ao mesmo tempo, dirigentes do Centrão avaliam que Onyx já não está mais à altura do cargo (após uma série de declarações que acabaram tendo efeito reverso para o governo) e poderia ser facilmente substituído, até porque entende-se que o ministro já está apenas focado na construção de sua candidatura para o governo do estado do Rio Grande do Sul, em 2022.
No caso de Ramos, apesar de alguns erros na leitura da conjuntura política, Bolsonaro tem maior resistência por considerá-lo um amigo próximo e homem de confiança – no máximo, o ministro seria realocado dentro da Esplanada.
E Eu Com Isso?
Figuras importantes do Centrão, especialmente do Senado, vão aproveitar o recesso para sentarem-se com Bolsonaro e seus interlocutores para planejar uma nova reforma ministerial.
Não há tanta pressa nas mudanças, mas elas devem ocorrer ainda neste ano e contemplarão, sem sombra de dúvidas, nomes escolhidos diretamente do Senado Federal.
Esse é mais um exemplo de aumento dos chamados custos de coalizão do Executivo, em que se lança mão de poder político em troca de reforço na base aliada no Congresso – evitando, assim, eventuais esvaziamentos logo nas vésperas de um ano eleitoral.
Com a popularidade do governo no seu pior nível desde o início do mandato, Bolsonaro encontra-se em uma linha fina entre agradar a base parlamentar e não abrir a porteira dos ministérios para o Centrão – na contramão do discurso que o elegeu em 2018, arriscando trazer espólios da sua base eleitoral mais fiel.
A notícia é levemente negativa para os mercados.
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