O Copom, na definição da alta da Selic para 3,5%, projetando que deve chegar a 4,25% na próxima reunião, pode até ter causado alguma frustração para quem esperava um posicionamento mais duro, ao indicar normalização parcial dos juros. A indicação é que a taxa básica possa fechar o ano em 5… 5,5%. O que não significa um ajuste pequeno. Vale lembrar que saímos do patamar de 2% do começo do ano, sendo que foi o primeiro movimento de alta dos juros desde 2015.
Na verdade, a confirmação dessas indicações vai depender muito da evolução do cenário macroeconômico, aqui e no exterior. O Comitê fez uma análise bastante realista do que pode influenciar as expectativas e movimentos do mercado. Citou desde a reação das economias mais desenvolvidas, impulsionadas por vacinação e pacotes de estímulo até as especulações que o mercado possa fazer em torno disso, pelo receio de possíveis pressões inflacionárias que levariam a elevações dos juros.
Cenário com potencial para trazer dificuldades para os emergentes. Temos tido boas amostras disso, com as oscilações dos juros dos treasuries americanos, contrariando as indicações do FED, de manutenção do atual nível das taxas, por um longo tempo, até admitindo pressões pontuais sobre a inflação, que não alterem muito a média esperada. Movimentos que sempre têm repercussões sobre o mercado brasileiro.
Quanto à inflação, embora ainda considere determinadas pressões como temporárias, o Copom não desconsidera o impacto do aumento das commodities no exterior sobre os preços domésticos, e, tampouco, o reflexo de curto prazo da mudança da bandeira de energia, da variação maior dos preços administrados ou das projeções que, neste ano, testam o teto da meta e, no próximo, o ponto central.
Assim como o mercado, o Copom também demonstra incertezas quanto ao ritmo de retomada da economia, em meio à segunda onda da pandemia, o que pode também ter influência sobre a inflação.
Quanto aos juros em si, além da necessidade de promover a convergência das expectativas para a meta inflacionária, ainda ressalta a importância da agenda de reformas e do encaminhamento da questão fiscal, que sem perspectivas mais favoráveis podem exigir um prêmio de risco mais elevado.
Enfim, no que depende da política de juros, podemos esperar impacto positivo sobre o mercado. O problema é que os movimentos do câmbio, do fluxo de investimentos e da curva de juros, dependem muito de todos esses fatores que também darão condições, ou não, de o Copom seguir com a política de juros que vem sinalizando.
A leitura realista da conjuntura nos traz muitas indefinições, com potencial para produzir, ainda, muita volatilidade dos ativos. E mais: os juros mais altos, que tendem a garantir ganhos menos ruins nas aplicações de renda fixa, podem ser mais um fator limitador da retomada da atividade, com encarecimento do crédito em várias frentes, desde o consumo, financiamentos na área imobiliária até para o giro das empresas, sem esquecer a dívida pública.
A normalização ou a elevação dos juros parece ser também uma resposta à incapacidade que o País ainda demonstra em reduzir os fatores de risco em várias frentes, não apenas na inflacionária.
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