Em circunstâncias normais, os pregões teriam de ter apresentado solavancos fortes nos últimos dias. Nos Estados Unidos, as ruas foram tomadas por protestos contra a violência policial e a retórica entre Washington e Pequim permanece abrasiva. No Brasil, além do cenário político incerto, os indicadores econômicos mostram o impacto da pandemia sobre a economia real, com a queda de 27,2 por cento na produção industrial (leia mais abaixo). No entanto, os preços dos ativos mostram um Brasil bem mais ameno.
Na terça-feira (2), o dólar caiu 3,25 por cento para 5,21 reais. Foi a maior queda diária desde 8 de maio de 2018, que fez a taxa de câmbio retornar aos níveis do início da pandemia. E o Ibovespa atravessou todo o pregão no terreno positivo, encerrando ao redor de 91 mil pontos, maior nível em três meses.
Os indicadores de uma melhora nas expectativas são abundantes. Além do real, diversas moedas se apreciaram em relação ao dólar, com os investidores ao redor do mundo diminuindo sua demanda pelo “porto seguro” da moeda americana e rumando para economias emergentes.
As commodities estão em alta. No começo da manhã, as cotações do aço na Bolsa de Xangai atingiram o maior nível em nove anos, impulsionadas pela demanda chinesa por aço e pela queda dos estoques. Os contratos futuros com vencimento em outubro, os mais negociados, subiram 1,5 por cento para 515 dólares por tonelada, maior nível desde fevereiro de 2011. A queda de 40 por cento nos estoques indica uma retomada da economia chinesa. Além disso, o índice PMI Caixin do setor de serviços chinês subiu para 55,0 em maio, ante 44,4 em abril.
O desemprego na Zona do Euro em abril foi de 7,3 por cento. Apesar de ser considerado um patamar elevado, o resultado foi melhor do que o esperado. As expectativas eram de uma taxa superior a 8 por cento.
Todos esses sinais de melhora indicam que as economias ao redor do mundo estão reagindo positivamente, embora com algum atraso, às medidas de estímulo aplicadas pelos bancos centrais mais importantes. A pesada injeção de recursos nos mercados estimula os investidores a migrar para ativos mais arriscados, na certeza de que haverá recursos para fazer frente a novos solavancos na economia. Além disso, muitos ativos financeiros estão bastante desvalorizados em comparação com os preços anteriores à pandemia, o que estimula a atuação dos touros no mercado. E o Brasil não é uma exceção à regra.
INDICADORES – A produção industrial brasileira caiu 18,8 por cento em abril em comparação com março, e 27,2 por cento em comparação com abril de 2019, informou nesta manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM). Segundo o Instituto, foi a queda mais intensa da atividade industrial desde o início do levantamento da série histórica, em 2002. No ano, de janeiro a abril, o setor encolheu 8,2 por cento, e nos últimos 12 meses, recuou 2,9 por cento. Em relação a abril do ano passado, a queda na indústria foi maior, -27,2 por cento, sexto resultado negativo seguido nessa comparação e o mais elevado desde o início da série registrada pelo Instituto.
A quarta-feira promete ser mais um dia positivo no mercado, apesar de não se descartar um movimento pontual de realização de lucros. No entanto, os negócios começam com os contratos futuros de Ibovespa acima de 92 mil pontos.
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